Presidente russo, Vladimir Putin (no centro, à esq.) e o premiê Dmitri Medvedev (no centro, à dir.) participam do Dia da Vitória ao lado de veteranos da 2ª Guerra
AP
Presidente russo, Vladimir Putin (no centro, à esq.) e o premiê Dmitri Medvedev (no centro, à dir.) participam do Dia da Vitória ao lado de veteranos da 2ª Guerra

O ex-presidente russo Dmitry Medvedev afirmou nesta quinta-feira que armas nucleares poderão ser usadas para defender os territórios ucranianos que estão prestes a serem anexados pela Rússia, e que “não há volta” para as políticas da Rússia para a Ucrânia e para o resto do mundo.

As declarações foram feitas um dia depois de presidente Vladimir Putin anunciar a mobilização de 300 mil reservistas e ameaçar usar seu arsenal nuclear na Ucrânia, em um recado velado à Otan, a aliança militar ocidental.

Em seu Telegram, Medvedev, que ocupa o posto de vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, afirmou que os resultados dos referendos sobre a anexação em Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporíjia serão aceitos por Moscou, e que a proteção desses territórios “será significativamente reforçada pelas Forças Armadas” russas.

“A Rússia anunciou que não apenas as capacidades de mobilização, mas também quaisquer armas russas, incluindo armas nucleares estratégicas e armas baseadas em novos princípios, poderiam ser usadas para tal proteção”, escreveu Medvedev.

Ao contrário de Putin e outras lideranças no Kremlin, Medvedev apontou diretamente para a Otan ao fazer as ameaças — e até detalhou que novos mísseis hipersônicos, propagandeados à exaustão por Moscou — poderão “atingir alvos na Europa e nos Estados Unidos”.

“Portanto, vários idiotas aposentados com listras de generais não precisam nos assustar com a conversa sobre um ataque da Otan na Crimeia”, escreveu, se referindo à península anexada em 2014, em um movimento não reconhecido pela comunidade internacional. “Mas o establishment ocidental, em geral, e todos os cidadãos dos países da Otan precisam entender que a Rússia escolheu seu próprio caminho. Não há caminho de volta.”

Considerado um presidente moderado e com visões progressistas, dentro do conceito russo de progressista, Medvedev se converteu em uma das figuras mais rejeitadas pela população do país e em um dos mais estridentes “falcões” da política russa. Segundo analistas, essa metamorfose está relacionada a um instinto de sobrevivência dentro de um círculo político cada vez mais marcado por posições nacionalistas e antiocidentais extremas.

Na terça-feira, quando a Rússia deu sinal verde para os referendos nas províncias ucranianas, Medvedev, novamente pelo Telegram, disse que a anexação tinha a ver com a “restauração da justiça histórica”, um argumento também usado por Moscou na anexação da Crimeia, em 2014. A votação começa nesta sexta-feira e segue até a semana que vem, e a comunidade internacional em peso afirmou que não reconhecerá os resultados.

"A votação começa amanhã [sexta-feira] e nada poderá impedir isso", disse, em declarações à TV russa, Vladimir Saldo, chefe da administração pró-Moscou em Kherson.

Em Donetsk, as autoridades declararam que, por "questão de segurança", a votação será realizada porta a porta, na frente das casas dos moradores. Os locais de votação só serão abertos na terça-feira, último dia de votação. Em Kherson e Zaporíjia, as cédulas serão impressas também em ucraniano.

No Telegram, Medvdev declarou ainda que, uma vez consolidadas como parte do território russo, qualquer ataque contra elas seria considerado uma tentativa de invasão, permitindo o uso de “todas as forças de autodefesa”. O risco é que, diferentemente da Crimeia em 2014, todas as regiões que realizarão referendos estão sob ataque ucraniano, e as forças de Kiev conseguiram importantes vitórias, amparadas sobretudo por armas fornecidas pelo Ocidente.

O momento conturbado para os militares russos foi um dos fatores que fez com que o processo de anexação fosse acelerado — a previsão anterior era de que as votações ocorressem apenas no final do ano — e que Putin apelasse para a mobilização de 300 mil de seus cidadãos, uma estratégia cujo sucesso ainda é incerto e que já provoca protestos na Rússia.

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