Biden confirma que EUA mataram Ayman al-Zawahiri em operação
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Biden confirma que EUA mataram Ayman al-Zawahiri em operação

O presidente Joe Biden confirmou, em pronunciamento realizado na Casa Branca nesta segunda-feira (1), que os Estados Unidos  mataram Ayman al-Zawahiri, líder da al-Qaeda, em um ataque de drone no sábado em Cabul.

De acordo com o chefe executivo norte-americano, que falou por aproximadamente 7 minutos, a "justiça foi feita" após a morte do homem acusado de ser um dos cérebros dos ataques de 11 de Setembro de 2001, ao lado de Osama bin Laden.

"A justiça foi feita e este líder terrorista já era. Não importa quanto tempo leve, não importa onde você está, se você é uma ameaça para o nosso povo, os Estados Unidos vão te encontrar e te derrubar", afirmou Biden, que discursou da varanda da Casa Branca por estar com Covid-19.

Al-Zawahiri, que assumiu o comando do grupo após a morte de Bin Laden há 11 anos, estava em um movimentado bairro residencial da capital afegã. O médico egípcio foi, por décadas, um dos terroristas mais procurados do planeta.

De acordo com Biden, o aval para a operação foi dado há uma semana, após uma série de reuniões com representantes da Segurança Nacional. A família de Al-Zawahiri havia sido localizado em Cabul no início deste ano pela Inteligência americana, que levou meses para confirmar que ele também estava lá. Dois mísseis do tipo Hellfire, de alta precisão, foram lançados pela quando havia o menor risco para os civis, incluindo os parentes do terrorista, que não ficaram feridos.

"Escutem-me agora: nós sempre permaneceremos vigilantes, sempre agiremos e sempre faremos o que for necessário para garantir a segurança dos americanos em casa e pelo mundo", afirmou Biden.



O ataque de sábado foi o primeiro em solo afegão desde a caótica saída dos militares americanos do país da Ásia Central, que completará um ano neste mês. A retirada pôs fim às duas décadas da guerra mais longa da História americana, que começou em outubro de 2001, nas semanas seguintes ao pior ataque terrorista em solo americano.

O governo do então presidente George W. Bush (2001-2009) acusava o Talibã, à época no comando do Afeganistão, de abrigar Bin Laden, que só seria morto em 2011 no Paquistão.

As duas décadas de uma guerra trilionária, contudo, terminaram com o retorno do mesmo Talibã ao poder, em agosto do ano passado, após uma ofensiva relâmpago. A situação gerou críticas maciças para Biden, na época com seis meses de mandato — danos que a bem-sucedida operação do último fim de semana deve ao menos mitigar em um momento conturbado para os democratas, que devem perder o controle de ao menos uma das Casas do Congresso nas eleições parlamentares de novembro.

No ano passado, durante a retirada, fontes da Casa Branca afirmaram que os EUA manteriam a capacidade para ataques "além de horizonte" — ou seja, de fora do território afegão — contra forças terroristas no país. A viabilidade disso era questionada por céticos, mas Biden afirmou que o sucesso da operação de sábado provou que estava correto.

“Quando terminei nossa missão militar no Afeganistão há quase um ano, tomei a decisão de que, após 20 anos de guerra, os Estados Unidos não precisavam mais de botas no solo no Afeganistão para proteger os EUA de terroristas que nos desejam fazer mal”, disse o democrata.

“Prometi para o povo americano que continuaríamos a fazer operações antiterrorismo no Afeganistão e além. E fizemos justamente isso.”

Ao New York Times, fontes do governo americano afirmaram que os dois mísseis foram disparados contra o líder terrorista enquanto ele estava na varanda de uma casa em Sherpur, uma zona residencial nobre em Cabul, às 6h18 de domingo (10h48 de sábado no Brasil). Ao mesmo jornal, um analista disse que a residência pertencia a Sirajuddin Haqqani, um funcionário do governo afegão que é próximo da al-Qaeda.

Os americanos afirmam que o Talibã tinha conhecimento da localização de Al-Zawahiri e agia para protegê-lo. Isso violaria o acordo firmado entre os EUA e o grupo fundamentalista em 2020, que pavimentou caminho para a retirada das tropas americanas, em que o grupo se comprometeu a romper com redes terroristas internacionais e proibir o uso do Afeganistão como base para ataques de grupos como a al-Qaeda.

Uma declaração do regime afegão condenou a operação, afirmando que sua própria investigação concluiu se tratar de um ataque de drones americanos. O Talibã disse "condenar veementemente" a operação dos EUA, afirmando se tratar de uma "violação clara dos princípios internacionais" e do acordo firmado em 2020.

"Tais ações são uma repetição das experiências fracassadas dos últimos 20 anos e vão na contramão dos interesses dos Estados Unidos, do Afeganistão e da região", disse em nota Zabihullah Mujahid, porta-voz dos talibãs.

Al-Zawahiri foi médico pessoal e braço direito de Bin Laden, mesmo que não tenha conseguido a mesma notoriedade. Ele era um rosto proeminente nos vídeos da al-Qaeda que profetizavam contra o Ocidente e cuja intensidade aumentou desde o retorno talibã ao poder. 


Segundo analistas, ele teve um papel-chave para que o grupo terrorista se tornasse uma organização poderosa e letal nos anos 2000, tanto por suas habilidades intelectuais, mas também por sua organização.

Antes do 11 de Setembro, o egípcio já havia sido apontado como um dos responsáveis pelos ataques às embaixadas americanas no Quênia e na Tanzânia, em 1998, que foram alguns dos indícios de que o grupo terrorista ganhava força.

O paradeiro de al-Zawahiri era há anos uma incógnita, mas os indícios era de que ele se mudou para o Afeganistão no início de 2022, após anos no Paquistão. O fato de ele conseguir transitar entre os dois países e pelo território americano, por si só, é um sinal do quanto as duas décadas de guerra não conseguiram causar mudanças profundas nas instituições do Afeganistão, um dos países mais pobres do planeta.

Segundo a Inteligência americana, seu retorno a Cabul levanta dúvidas sobre a penetração da al-Qaeda no país da Ásia Central após a saída das forças ocidentais e questionamentos sobre o cumprimento do acordo firmado em 2020. Espera-se, contudo, que sua morte não tenha grande impacto prático nas operações do grupo jihadista.

“Al-Zawahiri era muito mais importante estratégica que taticamente para a al-Qaeda”, disse ao New York Times Colin Clarke, analista de contraterrorismo do Grupo Soufan, uma firma de consultoria em Nova York. 

“Ele liderou o grupo por épocas turbulentas, incluindo a Primavera Árabe e a ascensão do Estado Islâmico. Ele manteve a organização viva e suas afiliadas ainda recebiam diretrizes estratégicas, mesmo que ao longo do tempo tenham se tornado mais autônomas e respondessem a eventos locais e regionais, ao invés de globais.”

Ainda assim, a morte de um dos últimos fundadores vivos do grupo terrorista deve gerar uma disputa interna pelo trono, especialmente diante da fragmentação vista na última década. Para Clarke, o herdeiro "enfrentará o desafio de atrair novos recrutas e crescer a organização" — tarefas que, se malsucedidas, ameaçam fragmentar a al-Qaeda.

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