Integrantes do Serviço Secreto dos EUA apagaram mensagens de texto enviadas nos dias 5 e 6 de janeiro de 2021, e que podem estar relacionadas à invasão do Capitólio, revelaram autoridades que investigam a atuação da agência no ataque.
Em carta às comissões de Segurança Interna na Câmara e no Senado, o inspetor-geral do Departamento de Segurança Interna, Joseph Cuffari, declarou que as mensagens foram apagadas depois de um pedido para que elas fossem entregues aos investigadores.
De acordo com Cuffari, o Serviço Secreto — responsável, dentre outras funções, pela proteção do presidente e do vice-presidente — alegou que as mensagens foram perdidas durante um processo de mudança de equipamentos, colocando ainda mais dúvidas sobre o papel da agência no dia da invasão.
Em depoimentos à comissão da Câmara que investiga o ataque, testemunhas afirmaram que o presidente Donald Trump exigiu, sem sucesso, que os agentes o levassem para o Capitólio, pouco depois de fazer um discurso atacando a certificação dos resultados da eleição de novembro de 2020, que seriam realizados no Congresso naquele mesmo dia.
Trump afirmava, sem provas, que o processo eleitoral havia sido fraudado, e incitou seus apoiadores a seguirem até a sede do Legislativo para tentar impedir um processo normalmente protocolar. Esse discurso, afirmam os responsáveis pela investigação, foi crucial para a invasão, que deixou sete mortos e dezenas de feridos.
Uma das testemunhas, o ex-conselheiro de Mike Pence, Greg Jacob, disse que o então vice-presidente se recusou a entrar em um carro oficial após a invasão, temendo que fosse levado pelo Serviço Secreto a um local não especificado e, assim, não comandasse a sessão que confirmaria a vitória de Joe Biden. Trump queria que Pence se recusasse a aceitar os resultados e o declarasse vencedor, ignorando as regras eleitorais dos EUA e o desejo de milhões de eleitores — o vice se recusou e passou a ser alvo de ataques do presidente e de seus apoiadores.
Para esclarecer essas dúvidas, obter as mensagens de texto era visto como essencial, e embora Cuffari não afirme que elas foram apagadas de forma intencional, a revelação foi recebida com espanto e preocupação por alguns parlamentares.
Em mensagem à CBS, o deputado Bennie Thompson revelou que os parlamentares receberão informações sobre a destruição das mensagens, algo considerado por ele como "extraordinariamente preocupante”. Também à CBS, o senador Rob Portman pediu que a denúncia seja esclarecida de forma transparente.
O Serviço Secreto ainda não se pronunciou oficialmente, mas o porta-voz da agência, Anthony Gugliemi, afirmou, no Twitter, que as alegações sobre a destruição das mensagens são “categoricamente falsas” e que dará uma resposta detalhada em breve.
Conspiração
Nas últimas semanas, a comissão da Câmara que investiga o ataque está ouvindo depoimentos bombásticos sobre os bastidores da invasão, sugerindo que o alto escalão da Casa Branca, incluindo o presidente Donald Trump, sabiam dos planos de alguns extremistas para ações violentas, com o objetivo de impedir a realização da sessão.
Depois da saída dos invasores da sede do Legislativo, e após horas de manobras dos republicanos pró-Trump para questionar os resultados, a vitória de Biden foi confirmada no Senado. Um processo de impeachment chegou a ser instaurado contra Trump, mas o ex-presidente acabou inocentado, já depois do fim de seu mandato.
Na quarta-feira, a revista Mother Jones revelou um áudio do ex-estrategista político de Trump, Steve Bannon, revelando que o então presidente planejava declarar vitória sobre Biden na noite da eleição, 3 de novembro de 2020, mesmo antes da divulgação dos primeiros resultados.
"O que Trump vai fazer é apenas declarar vitória, certo? Ele vai declarar vitória, mas isso não significa que ele é o vencedor", diz Bannon, em um áudio gravado três dias antes da eleição. "Ele só vai dizer que é o vencedor."
De fato, Trump foi para a frente das câmeras na madrugada do dia 4 de novembro dizer que tinha sido eleito, mesmo com a apuração ainda em seus estágios iniciais. Na quinta-feira, 5 de novembro, ele escreveu um de seus tuítes mais famosos: “PAREM A CONTAGEM” — neste momento, já surgia a tendência de vitória de Biden.
Na gravação, Bannon parece apostar na estratégia de tumultuar o processo de apuração, dando ao público a impressão de que o ex-presidente estava, de fato, prestes a ganhar mais um mandato — o estrategista político reconhece que muitos dos votos dos democratas foram enviados por correio e que levaria algum tempo até que fossem contados.
"Essa é nossa estratégia. Ele [Trump] vai se declarar vencedor. Então, quando você acordar na manhã de quarta-feira [4 de novembro], haverá uma tempestade de fogo lá fora", disse Bannon, segundo a Mother Jones. "Teremos os antifa malucos. A imprensa maluca. Tribunais malucos. E Trump estará lá sentado, ironizando, tuitando: “Vocês perderam. Eu sou o vencedor. Eu sou o rei”."
Bannon, que na segunda-feira será julgado por desacato ao Congresso, por se recusar a cumprir uma intimação da comissão da Câmara, concordou, na semana passada, em prestar depoimento no inquérito, mas o Departamento de Justiça afirma que é uma "tentativa extrema" para se livrar do processo.
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