O presidente da Rússia, Vladimir Putin, cumprimentou nesta segunda-feira os militares do país pela vitória na cidade de Lysychansk, a última ainda sob comando ucraniano no território de Luhansk, no Leste do país. Após seu maior triunfo em mais de quatro meses de conflito, o Kremlin intensifica os ataques no território vizinho de Donetsk, cuja conquista permitiria o controle de toda a bacia do Donbass.
Os russos afirmaram ter tomado Lysychansk no sábado, algo inicialmente contestado pelos ucranianos. No domingo, contudo, as Forças Armadas de Kiev confirmaram em uma postagem nas redes sociais que seus soldados “foram forçados a deixar” a cidade após intensos combates para “preservar suas vidas” diante da “superioridade” militar do adversário.
Com isso, a Rússia tem o controle efetivo de Luhansk, o primeiro território a cair para Moscou desde a invasão da Crimeia, em 2014. Comemorando o triunfo, Putin parabenizou as tropas por “liberarem” a área e disse que os soldados diretamente envolvidos na captura devem descansar. A ordem para o resto das tropas, contudo, é seguir em frente:
"Unidades militares, incluindo as na frente Leste e na frente Oeste, devem continuar a cumprir suas tarefas de acordo com os planos previamente acordados", disse o presidente durante uma reunião televisionada com seu ministro da Defesa, Sergei Shoigu.
Com o controle de Lysychansk e sua cidade-irmã, Severodonestk, que caiu no dia 24 de junho, os russos agora tem os caminhos abertos para importantes cidades de Donetsk, como Sloviansk e Kramatorsk, ao Sudoeste, onde há bolsões de resistência. Outra cidade na mira é Bakhmut, um pólo industrial que tinha papel-chave para o abastecimento das tropas ucranianas.
Em um possível sinal do que estar por vir, nove civis morreram durante ataques russos entre sábado e domingo, escreveu o chefe da administração militar de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, no Telegram. Se forem bem-sucedidos no território, os russos terão o controle de Donbass, região majoritariamente russofóna e sob controle parcial de grupos separatistas pró-Moscou desde 2014.
Apenas no domingo, foram ao menos seis mortes e mais de dez feridos durante ataques aéreos em Sloviansk, segundo as autoridades ucranianas. Nas redes sociais, Vadym Lyakh, o prefeito da cidade, disse que foi o ataque mais severo contra a cidade desde o dia 24 de fevereiro. Em seu pronunciamento noturno diário, o presidente Volodymyr Zelensky classificou a operação russa como “brutal”, mas prometeu que Kiev retomará Lysychansk:
"Nós vamos retornar graças às nossas táticas e ao aumento do nosso arsenal de armas modernas", disse o líder ucraniano, que citou outras frentes de batalha em Kharkiv (Nordeste) e Kherson (Sul), onde o país conseguiu "progressos". "Chegará o dia em que falaremos o mesmo sobre Donbass", completou, amenizando o impacto da derrota.
Em uma tentativa de atrasar o avanço dos russos no Leste, onde afirmam ainda ter controle de “uma pequena parte da região de Luhansk para que nosso Exército possa preparar uma nova linha de defesa”, disse Serhiy Gaidai, o governador local. Os combates, disse ele, têm seu epicentro perto da cidade de Bilogorivka, na fronteira de Luhansk e Donetsk.
"Militarmente, é ruim perder posições, mas há nada crítico. Nós precisamos ganhar a guerra, não a batalha por Lysychansk", disse Gaidai. "Dói muito, mas não é perder a guerra (..). Ainda assim, para eles [os russos], a meta principal é a região de Donetsk. Sloviansk e Bakhmut serão atacadas. Bakhmut já começou a ser bombardeada intensamente."
Após Moscou aumentar seu efetivo em Donbass para milhares de soldados nas últimas semanas e enviarem armas adicionais, Moscou “acumulou seu maior poder de fogo” na região, afirmou Zelensky. Segundo ele, seus adversários podem usar “diariamente dezenas de milhares de projéteis em apenas uma seção do front”.
Zelensky voltou a repetir seu pedido perene por mais armas, mas a necessidade de treinar os ucranianos para manuseá-las e o temor de que sejam usadas para atacar diretamente o território russo faz com que o fluxo fique aquém do demandado por Zelensky. A estratégia faz parte de um esforço delicado de ajudar os ucranianos a repelir a invasão, mas não ao ponto de participarem ativamente da guerra, o que poderia provocar o Kremlin a ampliar sua ofensiva.
No dia 23, o país recebeu o poderoso Sistema Americano de Foguetes de Artilharia de Alta Mobilidade (Himars, na sigla em inglês). A arma, capaz de disparar foguetes guiados por satélite capazes de atingir alvos a até 80 km de distância, era pleiteada há meses pelos ucranianos e já faz a diferença: segundo Kiev, já foram usados para destruir armazéns e centros de comando russos.
O Pentágono, na sexta, também anunciou um novo pacote de US$ 820 milhões em ajuda militar para Kiev, incluindo dos sistemas de defesa anti-mísseis, 150 mil cartuchos de munição e mais foguetes para os Himars.
Uma comemoração pouco usual do triunfo do Kremlin em Luhansk veio da Estação Espacial Internacional. Os cosmonautas Oleg Artemyev, Denis Matveev e Sergei Korsakov foram fotografados rindo e segurando bandeiras das autoproclamadas Repúblicas Populares de Luhansk e Donetsk.
“Este é um dia muito esperado para os residentes das áreas ocupadas de Luhansk, pelo qual esperavam há oito anos”, escreveu a Roscosmos, agência espacial do país, no Telegram. “Estamos convencidos de que 3 de julho de 2022 ficará para sempre na História.”
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*(com informações de agências internacionais)