Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden
Twitter Joe Biden/ Fotos Públicas
Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden

Apesar dos esforços homéricos do governo de Joe Biden para garantir a participação e engajamento do maior número de governos da região, a IX Cúpula das Américas, que começou oficialmente na quarta-feira, em Los Angeles, enfrenta problemas. O evento está sendo marcado por ausências, falta de liderança regional por parte do anfitrião e questionamentos de vários governos latino-americanos a políticas dos Estados Unidos.

Um claro exemplo da falta de envolvimento dos países latino-americanos em propostas feitas pelo governo dos EUA no âmbito da cúpula foi uma declaração sobre boas práticas regulatórias no comércio.

A iniciativa foi assinada por apenas 14 países na última quarta (cerca de 30 delegações estrangeiras estão em Los Angeles, várias deles sem a presença de seus chefes de Estado), entre eles o Brasil, representado pelo secretário de Comércio Exterior, Lucas Ferraz.

Também aderiram ao documento Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, El Salvador, Haiti, Panamá, Paraguai e Uruguai.

Numa improvisada celebração do entendimento, que é apenas uma expressão do desejo americano sobre como melhorar o intercâmbio comercial no continente, a embaixadora Katherine Tai, representante do Comércio de Biden, tirou uma foto com funcionários de alguns dos países que aderiram à proposta.

Na imagem, à qual O GLOBO teve acesso, o Brasil, que em matéria comercial tem avançando em acordos com os EUA, está representado por Ferraz e pelo embaixador em Washington, Nestor Forster.

Ao lado de Thai aparecem, além dos representantes do governo brasileiro, apenas poucos funcionários de países como Paraguai e República Dominicana. Um retrato do que muitos já definem como o fracasso dos EUA em sua tentativa de recompor as relações com a América Latina.

Em seu discurso de quarta, quando deu as boas vindas aos chefes de Estado estrangeiros (o único dos confirmados que esteve ausente foi Bolsonaro), Biden anunciou uma Parceria Americana para a Prosperidade Econômica e a criação de um Corpo de Saúde das Américas. Já a vice-presidente, Kamala Harris, assegurou que a cúpula tem grandes ambições, entre elas melhorar a vida dos latino-americanos.

O clima que predomina entre os convidados, no entanto é de ceticismo — e, por parte dos governos de esquerda, desconforto pela exclusão de países como Venezuela, Cuba e Nicarágua. A lista de ausentes também inclui, por decisão própria, Honduras, Guatemala e El Salvador.

O trio integra o chamado Triângulo Norte, região de onde sai um volume crescente de pessoas em direção aos EUA e, portanto, considerada essencial para tratar temas como migração.

O documento sobre comércio que teve baixa adesão em Los Angeles é similar ao Protocolo sobre Regras Comerciais e de Transparência Brasil-EUA, firmado em 19 de outubro de 2020, e promulgado por decreto presidencial nesta quinta, segundo informou o Ministério das Relações Exteriores.

O acordo, um pacote comercial que visa a promoção dos fluxos bilaterais de comércio e investimento, inclui regras sobre facilitação de comércio e administração aduaneira, boas práticas regulatórias e anticorrupção. Trata-se do texto mais avançado negociado nessa área pelo Brasil, indo além, em alguns aspectos, do Acordo sobre Facilitação do Comércio (AFC) da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Se em termos políticos e de representação de alto nível o Brasil tem chamado a atenção em Los Angeles pela demora de Bolsonaro em chegar à sede da cúpula — será o último chefe de Estado em desembarcar na cidade nesta quinta-feira —, em níveis ministeriais e diplomáticos a participação é diferente.

A delegação brasileira participou de todos os debates e o Brasil deve assinar todos os acordos em matéria de democracia, direitos humanos, migração, futuro verde e novas tecnologias, entre outros, confirmaram fontes diplomáticas.

Além de finalmente ter seu primeiro encontro com Biden nesta quinta, Bolsonaro se encontrá também com outros líderes de estado durante sua rápida passagem por Los Angeles, que durará menos de 48 horas.

A agenda também incluirá reuniões bilaterais com os chefes de Estado do Equador, Guillermo Lasso, da Colômbia, Iván Duque, e da República Dominicana, Luis Abinader.

Segundo fontes equatorianas, a conversa com Lasso, um representante da direita latino-americana muito próximo dos EUA, foi organizada em conjunto por Brasil e Equador, pelo interesse mútuo de fortalecer vínculos.

Nos últimos meses, especulou-se sobre uma visita do presidente equatoriano a Brasília, mas a viagem ainda não tem data marcada e poderia acabar não acontecendo devido ao contexto eleitoral brasileiro.

Com Duque, que está de saída do cargo, Bolsonaro selou sua principal aliança na região. O presidente colombiano foi a Brasília em outubro do ano passado e, em entrevista exclusiva ao GLOBO, disse que “Bolsonaro não pode nem deve ser isolado”.

O governo brasileiro acompanha com atenção e preocupação a eleição colombiana, cujo segundo turno acontecerá no dia 19. O pleito será definido em uma queda de braço entre o candidato esquerdista Gustavo Petro, que ficou em primeiro lugar no primeiro turno, e o populista de direita Rodolfo Hernández, o fenômeno eleitoral do momento no país. Petro já declarou publicamente seu apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa pelo Palácio do Planalto.

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