Um dos caixões personalizados que Trey fez para as vítimas do massacre no Texas
Reprodução: Redes Sociais
Um dos caixões personalizados que Trey fez para as vítimas do massacre no Texas

Procurado pela Associação de Diretores de Funerais do Texas, nos EUA, o empresário e artista Trey Ganem, de 50 anos, se negou a cobrar pela fabricação de caixões para as vítimas do massacre na Robb Elementary School, em Uvalde , no dia 24 de maio. Na ocasião, um atirador matou 19 crianças e duas professoras. Trey, proprietário de uma oficina de caixões personalizados, contou à imprensa americana que foi imediata sua decisão de oferecer o serviço gratuitamente para as famílias. Sua expectativa não é de apenas oferecer uma ajuda financeira, mas principalmente que a customização leve um mínimo de conforto, informou o portal Buzzfeed News. A unidade costuma custar US$ 3,4 mil (R$ 16,3 mil).

"Isso é algo que nenhuma família deveria ter que lidar", afirmou Trey, acrescentando que trabalhou cerca de 20 horas sem parar para entregar os produtos, muitos deles com pedidos específicos, que caracterizavam a personalidade e os gostos de cada criança, dentro do prazo. "Havia um que queria dinossauros, com lanternas, segurando um picles."

Trey destacou que a ajuda recebida pela comunidade local foi fundamental para a confecção dos caixões, cumprindo certas etapas, como lixar, pintar e aplicar os adesivos. Entre os voluntários, estava Sandra Torres, mãe de Eliahna Torres, uma das vítimas, aluna da quarta série. Ela trabalhou no caixão colocando imagens de llamas e o logotipo do TikTok.

"Ela me dizia que precisava de cola para a escola porque tinha um projeto grande e antigo para fazer, e a cola seria fazer slime", contou Sandra ao BuzzFeed News. "Ela nos deixou loucos com o TikTok."

No Facebook, Sandra publicou a imagem abaixo, que homenageia as 21 vítimas do massacre:

Homenagem a todas as 21 vítimas do tiroteio no Texas
Reprodução: Redes Sociais
Homenagem a todas as 21 vítimas do tiroteio no Texas


Embora tenha sido um trabalho difícil devido à grande quantidade de mortos e pela necessidade de encomendar, num curto espaço de tempo, caixões de tamanho infantil, esta não foi uma experiência inédita na carreira de Trey. Há cinco anos, 26 fiéis foram mortos numa igreja em Sutherland Springs, também no Texas, no que foi para ele um grande desafio.

Uma semana após massacre em escola, Uvalde começa a enterrar suas vítimas

A pequena localidade texana de Uvalde, perto da fronteira com o México, começou a enterrar, na terça-feira (31), as 19 crianças assassinadas no massacre que se tornou um dos mais violentos dos últimos anos nos EUA.

O corpo de Amerie Jo Garza, de 10 anos, chegou em um caixão prateado e foi levado até a Igreja Católica do Sagrado Coração por seis carregadores vestindo camisas brancas com cravos vermelhos.

As pessoas presentes, algumas com roupas roxas, a cor-símbolo da Robb Elementary School, se reuniram antes do funeral no lado de fora da igreja, que fica do outro lado da rua da escola, em meio à forte presença policial.

Outra menina de 10 anos, Maite Yuleana Rodríguez, também seria enterrada na terça, e outras cerimônias estão programadas para as próximas semanas, incluídas as das duas professoras falecidas. Todos foram assassinados quando Salvador Ramos, de 18 anos, abriu fogo na escola antes de ser abatido pela polícia.

Em meio ao luto, os moradores de Uvalde também se indignaram com a resposta da polícia, amplamente criticada por ter demorado a intervir. Uma "decisão errada", admitiu o diretor do Departamento de Segurança Pública do Texas, Steven McCraw.

De acordo com a emissora ABC, a polícia de Uvalde e as autoridades do distrito escolar encerraram sua cooperação com a investigação do Departamento de Segurança Pública do Texas sobre a resposta da polícia.

"Eles podem dizer: 'Cometemos um erro, tomamos a decisão errada'. Mas eles não vão me devolver minha bisneta", disse Ruben Mata Montemayor, 78, bisavô de uma das vítimas.

'Deixar de vender armas'

Dezenove policiais permaneceram no corredor da escola de ensino fundamental sem intervir por quase 45 minutos, enquanto Salvador Ramos estava trancado em uma sala de aula com alunos. Por fim, a polícia entrou no local e matou o jovem armado.

Quando o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, visitou Uvalde no fim de semana, os gritos de "Faça alguma coisa!" ressoaram entre a multidão.

O massacre, o último de uma epidemia de violência armada nos Estados Unidos, aconteceu menos de duas semanas 10 pessoas morrerem em um ataque em um supermercado na cidade de Buffalo, em Nova York, cometido por um jovem que tinha como alvo afro-americanos, e provocou apelos desesperados em favor de uma reforma da legislação sobre armas.

O presidente "deve aprovar leis para que possamos proteger as crianças das AR-15", afirmou Robert Robles, de 73 anos, ao mencionar a arma semiautomática usada na escola Robb.

Ricardo García, de 47 anos e que trabalhava no hospital de Uvalde no dia do massacre, contou que "não consegue tirar da cabeça o choro das mães quando recebiam a notícia fatal".

"É necessário parar de vender armas, ponto", completou.

O ator Matthew McConaughey, que cresceu em Uvalde e já considerou a ideia de concorrer a governador do Texas, também visitou o memorial para homenagear as vítimas.

Após a tragédia, McConaughey pediu "ação" contra uma "epidemia que podemos controlar", mas evitou questionar o direito de portar armas.

'Seguir pressionando'

Enquanto os massacres realizados por atiradores abalam a opinião pública e provocam reivindicações momentâneas por mudanças, a regulamentação de armas enfrenta forte resistência da maioria dos republicanos e de alguns democratas em estados rurais.

Na segunda-feira (30), Biden prometeu "seguir pressionando" por uma regulamentação mais severa das armas de fogo.

"Acredito que as coisas ficaram tão graves que todo mundo está pensando de forma mais racional sobre o tema", disse o presidente democrata.

Um grupo bipartidário de legisladores trabalhou durante o fim de semana para buscar possíveis pontos de acordo.

Com base nas informações que vazaram da reunião, os legisladores querem aumentar a idade para a compra de armas ou permitir que a polícia confisque as armas de pessoas consideradas de risco, mas não buscam uma proibição total dos rifles de alta potência, como a arma utilizada tanto em Uvalde como em Buffalo.

No entanto, passar das palavras para a ação será difícil devido à estreita maioria dos democratas no Congresso.

Enquanto os Estados Unidos ainda choravam pelo massacre de Uvalde, o ataque escolar mais mortal desde que 20 crianças e seis adultos foram assassinados em Newtown, Connecticut, em 2012, uma dezena de ataques com mais de quatro mortes foram reportados em todo o país no fim de semana prolongado pelo feriado do dia do Memorial.

Segundo o site Gun Violence Archive, foram registradas ao menos 132 mortes por armas e 329 feridos em todo o país desde sábado (28) até a noite de segunda-feira.

Em Uvalde, uma cidade majoritariamente latina de 15 mil habitantes, muitos clamavam por mudanças.

"Se um adolescente não pode sequer tomar um gole de vinho por ser muito jovem, então, quer saber? Ele também é muito jovem para comprar uma arma de fogo", frisou Pamela Ellis, que viajou de Houston para oferecer suas condolências.

Entre no  canal do Último Segundo no Telegram e veja as principais notícias do dia no Brasil e no Mundo. Siga também o perfil geral do Portal iG .

*com AFP

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!