No dia em que a invasão russa da Ucrânia completou três meses, as forças de Moscou intensificaram seus ataques no Leste, com o objetivo de cercar duas cidades ainda em poder dos ucranianos.
O sucesso ali é visto como crucial para os planos da Rússia de controlar as regiões de Donetsk e Luhansk, mas também é considerado, por Kiev, como uma batalha que definirá o destino do país.
A atual ofensiva está concentrada nas cidades de Severodonetsk e Lysychansk, ambas às margens do rio Siverskiy Donetsk, que corta o Leste ucraniano. Segundo o governador da província de Luhansk, Serhiy Gaidai, as forças russas estão vindo de três direções diferentes para cercar os militares ucranianos que ainda controlam as duas cidades.
"A intensidade do poder de fogo em Severodonetsk aumentou muitas vezes, eles estão simplesmente destruindo a cidade", disse Gaidai, em entrevista a uma TV, afirmando que cerca de 15 mil civis ainda estão na área e não conseguem seguir para áreas seguras.
Ele declarou ainda que as forças russas estão enfrentando resistência, e que chegaram a recuar ao tentar invadir uma vila nos arredores da cidade, o que não foi confirmado por fontes independentes.
Lysychansk, como relatam jornalistas na área, também está sob pesado bombardeio, e unidades armadas da Ucrânia foram vistas em estradas que levam à cidade nas últimas horas. Em Slovyansk, uma das maiores cidades na região que ainda são controladas pelas forças ucranianas, foram ouvidos alertas de ataque aéreo, mas não há informações sobre possíveis bombardeios.
Após o abandono de uma estratégia mais ampla, e que incluía ofensivas contra grandes cidades ucranianas, como Kharkiv e a capital Kiev, a Rússia decidiu, no final de março, centrar suas forças no Leste do país, em duas áreas que já eram parcialmente controladas pelas milícias separatistas pró-Moscou: Donetsk e Luhansk.
Mesmo com as expectativas reduzidas, os militares russos seguem enfrentando dificuldades no campo de combate, com uma resistência amparada por novos e mais potentes armamentos enviados pelos aliados ocidentais, como sistemas portáteis de defesa antiaérea e, especialmente, foguetes antitanque.
Nesta terça-feira, o chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba, afirmou que a violência dos ataques russos mostrava a necessidade da ajuda externa, especialmente militar, para resistir às ondas de ataques. Para o Ministério da Defesa, as batalhas travadas na região também podem definir os rumos da guerra…e mesmo o futuro do país.
"Estamos observando agora a fase mais ativa da agressão total que a Rússia realiza contra nosso país", declarou, em briefing à imprensa, Oleksandr Motuzyanyk, porta-voz do ministério. "A situação no front [Leste] é extremamente difícil, uma vez que o destino do país está provavelmente sendo decidido [lá] neste momento".
Segundo relato do serviço russo da BBC, um general da Força Aérea russa, Kanamat Botashev, teria morrido no domingo, depois que sua aeronave, um Sukhoi Su-25, foi derrubada sobre Luhansk. Na ocasião, as autoridades ucranianas confirmaram que um caça deste mesmo modelo havia sido destruído e que o piloto não conseguiu se ejetar.
Pelo menos três colegas de Botashev, de 63 anos, disseram à BBC que se tratava dele. O Ministério da Defesa russo não se pronunciou. Estimativas mostram que cerca de 31 pilotos russos perderam a vida ao longo do conflito, mas o número pode ser bem maior.
Reconstrução e corpos
Em Mariupol, uma das principais cidades portuárias da Ucrânia e cenário de uma intensa batalha que teria deixado milhares de pessoas mortas, de acordo com a ONU, o Ministério da Defesa russo declarou ter desobstruído o terminal naval, potencialmente abrindo caminho para que embarcações voltem a atracar.
“Durante a desminagem, 134 estruturas foram examinadas. Mais de 12.000 itens explosivos e armas abandonadas por militantes ucranianos foram encontrados e neutralizados", diz o comunicado de Moscou.
No dia 20 de maio, quando o último foco de resistência local, a siderúrgica Azovstal, foi eliminado, as forças russas assumiram o controle total de Mariupol, e já anunciam planos de mudanças na administração local, prometendo que “ficará melhor do que era”.
Mas o discurso é rechaçado pelos antigos governantes, que hoje estão em outras regiões da Ucrânia e apontam para os estragos deixados pelos invasores russos — em entrevista a uma TV, Petro Andryushchenko, assessor do agora afastado prefeito, disse que os corpos de civis mortos ainda estão sendo retirados dos escombros.
Ele citou o exemplo de um prédio onde, de acordo com relatos, haveria cerca de 200 corpos em estágio avançado de decomposição, e que não foram retirados pelas forças russas. A acusação não foi comprovada de forma independente.
Em Kharkiv, cidade próxima à fronteira com a Rússia e que foi duramente atingida pelos ataques aéreos nos primeiros dias do conflito, foi anunciada a reabertura do sistema de metrô, que vem servindo como abrigo para centenas de pessoas que ainda tentam se proteger das bombas que eventualmente atingem a região.
Neste primeiro dia de operações, havia poucos usuários em meio às camas improvisadas e barracas — os pedidos das autoridades para que todos voltem para casa ou ao menos deixem os vagões ocupados ainda estão sendo ignorados pela maioria.
"Todo mundo está loucamente assustado, porque ainda há artilharia, os ataques com foguetes ainda não cessaram", afirmou à Reuters Nataliia Lopanska, que vive em uma composição do metrô desde o início da guerra.
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