Formando uma frente legislativa para impedir que o presidente reeleito Emmanuel Macron alcance uma maioria nas eleições parlamentares de junho, o Partido Comunista Francês (PCF) fechou um acordo com a sigla da esquerda radical França Insubmissa (LFI) nesta quarta-feira, no mesmo dia em que o Partido Socialista (PS) concordou em princípio com o LFI em fazer parte dessa coalizão de esquerda.
A frente unida anti-Macron já havia ganhado impulso no domingo, com os Verdes também fechando acordo com o LFI, partido do terceiro colocado na eleição presidencial, Jean-Luc Mélenchon. As siglas pretendem realizar no sábado, mesmo dia da posse do segundo mandato de Macron, um evento de lançamento da aliança, segundo um comunicado em conjunto do LFI e do PS nesta quarta.
No comunicado, as duas siglas anunciaram um avanço nas negociações para que os socialistas entrem na coalizão. O comitê nacional do PS irá realizar uma reunião nesta quinta, quando decidirá se aprova ou não a união.
Se o pacto de coalizão for fechado, será a primeira vez que a esquerda francesa se unirá em 20 anos — mas desta vez sob o comando da LFI.
"Queremos ter legisladores na maioria dos eleitorados, para evitar que Emmanuel Macron continue sua política injusta e brutal... e derrotar a extrema direita", disseram os socialistas e a LFI no comunicado, publicado após dias de negociações difíceis.
O acordo tomou forma sob a liderança do chefe da LFI, Mélenchon, que por pouco mais de 1% dos votos ficou de fora do segundo turno da eleição presidencial — sendo superado pela candidata de extrema direita Marine Le Pen —, um resultado muito melhor do que o do PS.
Mélenchon rompeu com o PS em 2008 depois de não conseguir alterar ideias pró-União Europeia da sigla, o que ficou evidente no acordo de quarta-feira, em que o PS — outrora totalmente pró-europeu — concordou em "desobedecer" ou pelo menos "afastar-se temporariamente" das regras da UE sobre uma série de questões econômicas, sociais e orçamentais políticas.
A declaração, ainda a ser aprovada pelo comitê nacional do PS, diz que ambas as partes querem que a UE se concentre mais nos direitos sociais e na proteção do meio ambiente.
As políticas da nova aliança de esquerda também incluem planos para reduzir a idade de aposentadoria de 62 para 60 anos, aumentar o salário mínimo e limitar os preços de produtos essenciais.
Ponto de inflexão
Apesar de ter vencido o segundo mandato presidencial no mês passado, Macron também precisará de uma maioria no Parlamento para conseguir governar e impulsionar suas políticas pró-negócios, incluindo o aumento da idade de aposentadoria para 65 anos — algo muito impopular entre os eleitores de esquerda.
Se confirmado pelo PS na quinta-feira, o sucesso de Mélenchon em fechar o acordo com um partido que há muito era a força dominante da esquerda marcaria um ponto de inflexão. Desde a Segunda Guerra Mundial, o PS deu à França dois presidentes e foi uma força motriz para a integração europeia.
Mas os socialistas tiveram pouca influência nas negociações. Sua candidata presidencial, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, obteve apenas 1,75% dos votos na votação do mês passado, enquanto Mélenchon ficou em terceiro com 22%.
Veteranos socialistas, incluindo o ex-líder do partido Jean-Christophe Cambadelis, já pediram a outros membros que bloqueiem o acordo, dizendo que poderia marcar o fim de uma força pró-UE à esquerda.
Corinne Narassiguin, líder sênior do partido, disse que o acordo — segundo o qual apenas um legislador de cada partido que se juntar à aliança concorrerá em qualquer distrito eleitoral — prevê que o PS terá apenas 70 candidatos na França continental. No total, a câmara baixa francesa tem 577 legisladores.
Uma pesquisa recente da Harris Interactive mostrou um cenário com uma esquerda unida e uma aliança entre o partido centrista de Macron e os conservadores correndo lado a lado, cada um com 33% dos votos legislativos. No entanto, no sistema eleitoral de dois turnos da França, as projeções mostram que isso ainda pode render a maioria dos assentos para Macron.