Um comandante russo afirmou na sexta-feira que a Rússia planeja controlar o Donbass e o Sul da Ucrânia, em uma rota para a área separatista moldava de Transnístria — uma estratégia ainda não confimada oficialmente pelo Kremlin.
A declaração, que sinalizou um potencial plano mais ambiciosa da Rússia com a invasão da Ucrânia, não foi a única que chamou a atenção. Ele também afirmou que a população de língua russa dessa região está "sendo oprimida" — contudo, a república separatista é governada por regimes pró-Moscou desde o início da década de 1990.
Com uma bandeira que carrega a foice e o martelo, símbolos herdados dos tempos da União Soviética, a Transnístria é chamada oficialmente pelos separatistas de República Moldávia Peridniestriana (RMP) e ocupa grande parte da fronteira entre a Moldávia e a Ucrânia. Segundo o censo local de 2015, sua população é de 29% de russos, 28% moldavos e 22% ucranianos.
Com cerca de 3.500 km² e uma população estimada em 350 mil pessoas, a região se separou da Moldávia após um breve conflito militar na esteira do colapso da União Soviética, já que sua população não queria deixar a ex-URSS, a despeito da escolha da Moldávia de sair do bloco.
Só em 2006, o governo da região separatista realizou um referendo que, com aprovação de mais de 90% da população, optou pela independência em relação a Chisinau. No entanto, o processo não foi reconhecido internacionalmente, com a Ucrânia, a União Europeia e os Estados Unidos classificando a ação como ilegal.
Só outras regiões não reconhecidas, como as também separatistas Ossétia do Sul e a Abcásia na Geórgia, reconhecem a sua independência — algo que nem Moscou fez.
Em 2014, após a Rússia anexar a Crimeia, ativistas e políticos da Transnístria chegaram a pedir ao Parlamento russo que autorizasse a região a se juntar à Rússia.
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Não à toa, a região tem apoio econômico, político e militar da Rússia, sendo dependente de seu gás. Cerca de 1.500 soldados russos atuam na região, onde as forças de Moscou estão presentes desde a década de 1990.
Havia um temor de que a Rússia utilizasse a região como outra frente de ataque na guerra. No início de abril, Kiev disse que um aeródromo em Transnístria estava sendo preparado para receber aeronaves e ser usado por Moscou para levar tropas em direção à Ucrânia — alegações que o Ministério da Defesa da Moldávia e autoridades na Transnístria negaram.
No início de março, o presidente da Bielorrússia, o ditador Aleksander Lukashenko, chegou a mostrar um mapa sobre a invasão na TV em que havia setas sugerindo que tropas russas planejavam entrar na Transnístria após uma eventual captura de Odessa. O embaixador da Bielorrússia na Moldávia chegou a pedir desculpas depois, dizendo que se tratava de um erro no mapa.
Um eventual avanço e consequente domínio russo do Sul da Ucrânia até chegar à região de Transnístria significaria cortar o acesso de Kiev ao Mar Negro.
No entanto, o líder da região, Vadim Krasnoselsky, chegou a se manifestar no início da guerra, dizendo que “não representa uma ameaça militar, não traça planos de natureza agressiva” e que eles estão “focados em garantir a paz”.
Enquanto não se sabe se Putin pretende mesmo ampliar seus objetivos até a Transnístria, bandeiras russas balançam na região separatista ao lado de outras da própria Transnístria, e, segundo uma reportagem da emissora turca TRT World, também há uma estátua de Vladimir Lenin na capital regional, Tiraspol.
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