Produtores rurais na Argentina iniciaram neste sábado um "tratoraço" pelas ruas de Buenos Aires exigindo uma menor pressão fiscal e mudanças nas políticas oficiais, além de criticar a intervenção do governo nos mercados de grãos e carnes. A caravana está a caminho da Praça de Maio, que fica em frente à Casa Rosada, a sede da Presidência argentina. Organizadores esperam a presença de até 50 mil pessoas no local.
Na Praça de Maio, onde um ato está marcado para 15h, haverá a leitura de uma proclamação preparada pelos organizadores .
Eles disseram que o eixo de sua reivindicação será “a diminuição do gasto público, e mais precisamente do gasto político: um gasto enorme e inútil, cujos únicos beneficiários são os próprios funcionários. Reduzir drasticamente os gastos é um passo essencial para frear a inflação, baixar os impostos e eliminar as retenções: três coisas que a Argentina precisa para avançar trabalhando" , segundo um comunicado mencionado pelo Infobae.
"Muitos produtores decidiram sair ontem à noite porque, inesperadamente, os controles nas rotas foram intensificados. Será um evento histórico, como foi em 2008" disse Raúl Vitores, um líder ruralista, lembrando protestos de produtores rurais naquele ano que quase levou a ex-presidente Cristina Kirchner a renunciar. "Mas agora os problemas se multiplicaram, justiça, inflação, insegurança e muitos outros que não existiam em 2008. É um inferno que não só as pessoas do interior experimentam, mas também as pessoas da cidade, por isso vão nos acompanhar."
Já na Praça de Maio, manifestantes levaram cerca de 10 mil exemplares da Constituição para distribuir, porque entendem que "a verdadeira batalha que a Argentina deve vencer é a cultural, é aí que o país vai avançar", segundo Lorena Zanini, produtora da província de Santa Fé.
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"Do campo queremos dizer que não há futuro como país se não houver educação e justiça e, só respeitando a Constituição Nacional e com as crianças nas escolas, podemos vencer esta batalha" disse ela.
O protesto começou a tomar corpo após o governo aumentar de forma temporária, em março, as retenções de impostos sobre as vendas de farinha e óleo de soja ao exterior a fim de, com os recursos obtidos, subsidiar a farinha e reduzir o aumento do preço do pão, num contexto de aumento do valor internacional do trigo e inflação incessante na Argentina.
A Câmara da Indústria do Petróleo da República Argentina (Ciara), então, questionou o governo afirmando que a medida "deteriora as condições de produção, emprego industrial e exportação do primeiro complexo exportador nacional".
Outro fator que o setor rural está atento é o recente anúncio do ministro da Economia, Martín Guzmán, de eventualmente aplicar um imposto sobre os lucros extraordinários obtidos por diferentes setores da economia no contexto da guerra na Europa.
Segundo o Ciara e o Centro de Exportação de Cereais, porém, se por um lado a guerra tenha gerado um aumento no preço de certas commodities agrícolas, por outro causou também um aumento nos custos de e uma escassez de insumos críticos como o diesel. Logo, segundo eles, isso "neutraliza os benefícios relativos dos produtos agrícolas".
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