Gabriel Boric ao lado do presidente argentino Alberto Fernández
Reprodução/Twitter Gabriel Boric - 4/4/2022
Gabriel Boric ao lado do presidente argentino Alberto Fernández


A primeira viagem internacional do presidente do Chile, Gabriel Boric , é simbólica. A escolha de Buenos Aires, onde desembarcou na tarde do último domingo, tem vários objetivos e um dos principais é iniciar o caminho de uma diplomacia regional que busca, nas palavras do chefe de Estado chileno, recuperar a liderança da América Latina em foros internacionais.

Nessa cruzada, o presidente argentino, Alberto Fernández, que internamente vive seu momento mais difícil, surge como um aliado confiável e com o qual Boric compartilha interesses e valores. O Brasil de Jair Bolsonaro, está claro, é um obstáculo a ser superado.

A agenda de Boric e Fernández é ampla e inclui várias questões bilaterais. Mas em termos regionais, a meta do presidente chileno, que convidou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para sua posse, está claríssima:

“Me interessa muito conversar para ver como recuperaremos a liderança da América Latina em foros internacionais. Não podemos continuar tendo grupos que funcionam somente em função de afinidade ideológica temporal.”

O presidente chileno pregou o fortalecimento da Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe (Celac), da qual o Brasil se retirou em março de 2020, da Aliança do Pacífico (formada por Chile, Colômbia, México e Peru) e do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), bloco mergulhado numa crise profunda e ao qual seu país está associado.

“Durante muito tempo houve um discurso da elite chilena que se mostrava alheio à situação latino-americana. Acho que isso deve mudar”, frisou Boric.


Já Fernández, que na noite de domingo recebeu seu par chileno para um jantar na residência oficial de Olivos, agradeceu a visita e disse que Boric pode considerá-lo “um aliado, para te ajudar no que você se propuser”.

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O presidente chileno chegou à Argentina acompanhando por uma ampla comitiva, integrada, entre outros, pela chanceler Antonia Urrejola. Nesta segunda, Boric teve um encontro com o presidente argentino na Casa Rosada. 

À noite, será homenageado com um show de música popular argentina no Centro Cultural Néstor Kirchner, no centro de Buenos Aires. A vice-presidente Cristina Kirchner, que praticamente cortou o diálogo com o presidente Fernández por divergências internas, esteve até agora ausente dos eventos oficiais organizados para a visita de Boric.

Nesta terça-feira, está previsto um encontro com empresários dos dois países.

“A irmandade entre Chile e Argentina deve estar acima das preferências de seus presidentes”, afirmou o chefe de Estado chileno, que se mostrou descontraído em suas primeiras 24 horas em Buenos Aires.

Boric se hospedou num hotel em Palermo, e na tarde de domingo saiu para caminhar pelo bairro. Uma de suas paradas foi na livraria Eterna Cadencia, um clássico do charmoso bairro portenho, onde comprou, segundo informaram meios de comunicação chilenos, cerca de 20 livros. Um deles, confirmado pela Presidência chilena através de sua conta em redes sociais, foi “Querido Mr Stalin. A correspondência entre Franklin D. Roosevelt e Josef V. Stalin”.

Em seu contato com a imprensa, algumas perguntas incomodaram o presidente chileno, entre elas a que buscou um posicionamento de Boric sobre violações dos direitos humanos na Nicarágua, Venezuela e Cuba.

"Por que os meios só me perguntam sobre Venezuela, Cuba e Nicarágua, e nunca me perguntam sobre violações dos direitos humanos, por exemplo, em nosso país? Ou os assassinados de dirigentes sociais na Colômbia? Os direitos humanos devem ser respeitados de maneira íntegra… não utilizemos o sofrimento de povos, seja na Ucrânia, Iêmen, Palestina, Chile, Venezuela ou Nicarágua, para obter benefícios de política interna", declarou.

Em Buenos Aires, o presidente chileno também se reunirá com membros do Parlamento e da Corte Suprema de Justiça. Está previsto, ainda, um encontro com representantes das Mães da Praça de Maio e uma visita à Escola de Mecânica da Marina (Esma, na sigla em espanhol), principal centro clandestino de torturas da última ditadura argentina (1976-1983).

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