Usina nuclear de Chernobyl, no norte da Ucrânia
Reprodução: Flickr
Usina nuclear de Chernobyl, no norte da Ucrânia

Trabalhadores da usina nuclear de Chernobyl , no norte da Ucrânia , relataram os momentos nos quais as instalações ficaram sob controle das tropas russas. Os funcionários descreveram o medo e as ameaças que sofreram dos soldados invasores. Eles também revelaram que foi preciso roubar combustível para manter o gerador funcionando.

As forças armadas da Rússia cercaram  Chernobyl em 24 de fevereiro, o primeiro dia da invasão. Nesta data, cerca de 170 guardas nacionais ucranianos que trabalhavam na proteção das instalações foram levados para o porão e mantidos em cativeiro.

Em seguida, soldados russos revistaram as instalações em busca de armas e explosivos. Apenas engenheiros, supervisores e outros funcionários dos quadros técnicos receberam autorização para continuar trabalhando. Dois dias depois, equipes da agência de energia atômica da Rússia Rosatom chegaram a Chernobyl.

"Eles queriam saber como a instalação era administrada. Eles queriam informações sobre todos os procedimentos, documentos e operações. Eu estava com medo porque o questionamento era constante e às vezes forçado", disse Oleksandr Lobada, supervisor de segurança contra radiação de Chernobyl, em entrevista à BBC.

O uso da força ocorreu, sobretudo, quando os militares russos tentavam entrar em ambientes com maior controle de acesso. Esses espaços estão situados no último andar do edifício principal da usina e as portas são mantidas trancadas. Quando os invasores não encontravam as chaves, eles arrombavam as fechaduras e entravam.

"Tivemos que negociar constantemente com eles e nos esforçar para não ofendê-los, para que eles permitissem que nosso pessoal gerenciasse as instalações", relatou à BBC o engenheiro Valeriy Semonov.

O momento de maior tensão foi quando a energia da usina foi cortada por três dias. Neste período, os ucranianos tiveram que buscar combustível para manter o gerador funcionando. Eles inclusive chegaram a roubar dos russos.

"Se tivéssemos perdido energia, poderia ter sido catastrófico", explicou Lobada. "O material radioativo poderia ter sido liberado. A escala disso, você pode imaginar. Eu não estava com medo pela minha vida. Eu estava com medo do que aconteceria se eu não estivesse lá monitorando a usina, uma tragédia para a humanidade", acrescentou.

Trincheiras

Nesta quarta-feira, o Exército ucraniano compartilhou imagens feitas por um drone que seriam a prova de que russos escavaram trincheiras na Floresta Vermelha, um dos locais mais radioativos do planeta, na zona de exclusão de Chernobyl. O local fica a apenas 500 metros da unsina nuclear.

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"Vídeo prova que o comando russo ordenou que seus soldados cavassem trincheiras perto da usina nuclear de Chernobyl, na radioativa Floresta Vermelha, em março de 2022. A completa negligência da vida humana, mesmo dos próprios subordinados, é como atua um estado assassino", compartilhou o Ministério da defesa no Twitter.

As tropas russas tomaram Chernobyl no início da invasão na Ucrânia, em 24 de fevereiro, e partiram na semana passada, conforme a empresa nuclear estatal ucraniana Energoatom.

Durante a invasão, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), deixou, a partir de 9 de março, de receber dados diretamente de Chernobyl. A ausência de rodízio de funcionários da usina, que só ocorreu uma única vez, em 20 de março, também causou preocupações.

A região foi palco do pior desastre nuclear civil da história quando o reator 4 explodiu em 1986. O local está coberto por um duplo sarcófago, um construído pelos soviéticos, agora danificado, e outro mais moderno, inaugurado em 2019. Os outros três reatores da usina foram progressivamente fechados após a catástrofe.

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