Uma equipe do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) liderou nesta quarta-feira um comboio de ônibus e carros privados para Zaporíjia transportando mais de 500 pessoas que fugiram de Mariupol, após o CICV falhar por cinco dias nas suas tentivas de chegar à cidade porque as condições de segurança tornaram a entrada impossível.
O comboio deixou a cidade de Berdiansk na terça e chegou a Zaporíjia nesta quarta. Todos os civis transportados haviam conseguido fugir por conta própria de Mariupol, já que o CICV só conseguiu chegar a 20 quilômetros da cidade.
"A chegada deste comboio a Zaporíjia é um grande alívio para centenas de pessoas que sofreram imensamente e agora estão em um local mais seguro. É claro, porém, que milhares de civis presos dentro de Mariupol precisam de uma passagem segura e que ajuda entre [na cidade]. Como um intermediário neutro, estamos prontos para responder a esse imperativo humanitário assim que acordos concretos e condições de segurança permitirem", disse Pascal Hundt, chefe da delegação do CICV na Ucrânia.
Mariupol fica no litoral do Mar de Azov, contíguo ao Mar Negro, e está cercada desde os primeiros dias da invasão russa da Ucrânia. Moradores que já conseguiram deixar a cidade e ONGs que trabalham no local descreveram condições catastróficas, com civis abrigados em porões, privados de água, comida e comunicações, além de corpos espalhados pelas ruas. Antes da guerra, Mariupol tinha cerca de 400 mil habitantes.
Vadym Boychenko, prefeito de Mariupol, disse à BBC nesta quarta que a situação humanitária da cidade é "terrível" e que os ataques aéreos russos têm ocorrido quase que sem parar. Segundo ele, apenas na terça mais de 100 mísseis foram lançados. Não é possível, no entanto, verificar de forma independente as alegações já que é extremamente difícil se comunicar com fontes dentro da cidade.
O prefeito não está mais na cidade, mas vem recebendo informações de moradores que permaneceram em Mariupol. O governo municipal estima que 90% dos edifícios foram danificados e destruídos, sendo um terço deles sem mais chance de serem reparados.
"É um verdadeiro inferno o que a Rússia criou na minha cidade", disse Boychenko. "Eles são criminosos de guerra e devem ser punidos pelo que fizeram. Mas tudo o que temos a fazer agora é evacuar com segurança as pessoas da cidade.'
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Nesta quarta, a Inteligência do Reino Unido disse que combates intensos e ataques aéreos russos continuam ocorrendo em Mariupol.
"A situação humanitária na cidade está piorando", disse em comunicado. "A maioria dos 160 mil residentes restantes não tem luz, comunicação, remédios, aquecimento ou água. As forças russas impediram o acesso humanitário, provavelmente pressionando os defensores a se renderem."
O governo municipal de Mariupol disse que a reação internacional diante das atrocidades ocorridas em Bucha durante a ocupação das forças russas levou Moscou a ordenar que suas forças coletassem cadáveres em Mariupol e os queimassem em crematórios.
O número de civis mortos por ataques russos a Mariupol pode ser “muito maior que 5 mil”, informou o governo. Por causa disso, a Rússia pode estar hesitando em permitir a entrada de ajuda humanitária e de equipes para evacuar civis.
* Com informações de agências internacionais.
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