Desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, países ocidentais impuseram sanções como uma das principais formas de retaliação aos russos. Direcionadas principalmente à economia, as medidas têm dificultado particularmente a vida e os negócios dos oligarcas russos, um grupo de bilionários que enriqueceram com as grandes privatizações do período pós-soviético.
Segundo dados divulgados pela revista Forbes em 2021, a Rússia é o quinto país com mais bilionários no mundo — 117 russos tinham fortuna avaliada como superior a US$ 1 bilhão. Destes, 96 são chamados de oligarcas, que, atualmente, têm tido bens e iates confiscados por governos estrangeiros. A ação tem como objetivo pressionar o presidente russo, Vladimir Putin, a encerrar a operação no território ucraniano.
Oligarquia
O termo “oligarca” surgiu na Rússia dos anos 1990, no governo do ex-presidente Boris Yeltsin [1991-1999], e era usado para definir um grupo especial de bilionários russos que, com a onda de privatizações após o colapso da União Soviética, dominaram as maiores empresas e bancos cruciais do país. Com isso, os oligarcas passaram a combinar poder econômico e alto potencial de influência política.
"[Mas] no início do governo Putin (em 2000), ele reuniu os oligarcas e lhes disse que poderiam continuar com os negócios, mas não se meter na política, especialmente na oposição", disse ao GLOBO o historiador e professor da USP Angelo Segrillo. "Os que tentaram continuar influenciando na política de forma autônoma, como Mikhail Khodorkovsky e Boris Berezovsky, foram ou presos ou tiveram que se exilar".
Ainda de acordo com Segrillo, os bilionários russos atuais — inclusive os que estão sob sanções dos países estrangeiros — têm atuação restrita à economia ou seguem a cartilha de Putin. Por isso, surgiram críticas ao uso do termo “oligarca” para descrever os superricos atuais, já que, segundo o pesquisador, sua atuação política limita-se à obediência às principais diretrizes do Kremln.
Um dos primeiros especialistas brasileiros a fazer pesquisas nos arquivos soviéticos após a queda da URSS, Segrillo destacou seis oligarcas russos mais influentes no governo Putin. Saiba quem são:
Roman Abramovich
Conhecido por ser o dono do Chelsea (mas agora afastado das funções), um dos maiores clubes de futebol da Inglaterra, Roman Abramovich, de 55 anos, tem recebido particular atenção das manchetes. Com notícias que vão desde a participação em negociações de paz na Ucrânia até suspeitas de envenenamento, o oitavo homem mais rico da Rússia nasceu em Saratov, às margens do Rio Volga, e foi criado por parentes após perder os pais, aos 3 anos de idade.
Criado sem luxos, ele chegou a trabalhar como mecânico no Exército Vermelho antes de se mudar para Moscou, onde ganhou dinheiro com a venda de cosméticos. Mas foi somente em 1995, ao lado do também oligarca Berezovsky, que o bilionário assumiu o controle da petrolífera Sibneft e entrou para o seleto grupo de russos que acumularam capital financeiro e político. Aliado de Yeltsin, Abramovich sugeriu diretamente o nome de Putin para a sucessão presidencial, em 1999.
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Oleg Deripaska
Ao contrário de Abramovich, Oleg Deripaska, 54 anos, cultivou sua influência discretamente, longe dos holofotes. Fundador da Basic Element, um grupo industrial russo com interesse em alumínio, energia e construção, ele chegou a ser a nona pessoa mais rica do mundo em 2008, antes de perder tudo devido à queda do mercado e a grandes dívidas acumuladas. Alvo de sanções atualmente, Deripaska é visto pelo Reino Unido como “um empresário russo proeminente e oligarca pró-Kremlin”.
Petr Aven
Economista de 67 anos, Aven chefiou o Alfa Bank, maior banco comercial da Rússia, até março deste ano, quando renunciou ao cargo para tentar evitar sanções. A construção do conglomerado bancário do oligarca começou com investimentos em petróleo na década de 1990. Fotografado ao lado de Putin no dia em que a invasão da Ucrânia começou, ele foi apontado pelo Reino Unido como um “proeminente empresário russo pró-Kremilin”.
Após as sanções direcionadas aos oligarcas, Aven disse ter tido o negócio “completamente destruído”. Ele ainda questionou se teria permissão para manter um faxineiro ou motorista, e declarou que “não sabia como sobreviver”.
Vladimir Potanin
Homem mais rico da Rússia com uma fortuna estimada em US$ 29,4 bilhões, Vladimir Potanin, 61 anos, acumulou riqueza principalmente a partir do controverso programa de empréstimos por ações nos anos 1990. Ele é o atual presidente da Norilsk Nickel, empresa russa de níquel e mineração.
Mikhail Prokhorov
Presidente de uma das maiores empresas de mineração da Rússia, a Polyus Gold, Mikhail Prokhorov, de 56 anos, tem ações no setor bancário, de seguros e energia. De origem judaica, ele foi candidato à presidência da Rússia nas eleições de 2012, mas conseguiu apenas cerca de 8% dos votos. À época, ele disse que Putin foi “muito eficiente” nos primeiros cinco ou seis anos da presidência (2000-2008), mas que era preciso mudar a estratégia pois a Rússia estava “atrasada em comparação com o resto do mundo”.
Vagit Alekperov
Dono da Lukoil, uma produtora responsável por cerca de 2% da produção mundial de petróleo, o economista de 71 anos já trabalhou como primeiro vice-ministro da Indústria de Petróleo e Gás da antiga União Soviética. Em comunicado recente, a administração da empresa de Alekperov exigiu “o término mais rápido do conflito armado”, posição interpretada como um rompimento com o presidente russo.
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