O governo do presidente peruano, Pedro Castillo, decretou toque de recolher nesta terça-feira em Lima e no porto vizinho de Callao, após uma greve parcial de motoristas, motivada pelo aumento dos preços dos combustíveis e alimentos, que provocou bloqueios nas estradas e distúrbios na segunda-feira.
Castillo, um professor rural de 52 anos, se tornou conhecido nacionalmente como dirigente sindical que promoveu uma grande greve de professores em 2017. A medida, que provocou muitas críticas nas redes sociais, significa que os 10 milhões de habitantes de Lima e Callao devem permanecer em suas casas durante o dia.
"Diante dos atos de violência que alguns grupos tentaram criar, e para restabelecer a paz a ordem interna, o Conselho de Ministros aprovou declarar a imobilidade cidadã [o equivalente ao toque de recolher] das 2h da manhã até 23h59 do dia 5 de abril para resguardar a segurança cidadã", afirmou Castillo em uma mensagem ao país exibida na TV perto da meia-noite de segunda-feira.
Os primeiros protestos enfrentados pelo governo de Castillo, que assumiu o poder há oito meses, aconteceram em Lima e nas regiões de Piura, Chiclayo, La Libertad, Junín, Ica, Arequipa, San Martín, Amazonas e Ucayali, entre outras.
Foram registrados diversos atos de violência, incluindo incêndios em postos de pedágio nas estradas, saques em algumas lojas e confrontos entre manifestantes e policiais, em vários pontos do país. As aulas foram suspensas devido às restrições nos transportes públicos.
"Faço um apelo por calma, serenidade. O protesto social é um direito constitucional, mas deve acontecer dentro da lei", afirmou Castillo.
De acordo com o decreto, aqueles que trabalham nas áreas de saúde, prestação de serviços — como limpeza e coleta de lixo, água, saneamento, eletricidade, gás e combustível —, além dos setores de telecomunicações, serviços funerário e transporte de cargas e mercadorias poderão continuar a trabalhar nesta terça-feira.
O toque de recolher acontece semana depois de evitar um processo de afastamento pelo Congresso, o segundo pedido de impeachment desde que tomou posse, acusado de "incapacidade moral" para exercer o cargo. O processo, encabeçado por parlamentares de direita, contou com 55 a favor do impeachment — eram necessários 87. Castillo registra índice de desaprovação de 66%, segundo uma pesquisa do instituto Ipsos.
A restrição de movimento na capital peruana recebeu imediatamente manifestações de repúdio. A medida coincide com o 30º aniversário do autogolpe de Estado do ex-presidente Alberto Fujimori, atualmente preso, em 5 de abril de 1992.
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"A medida determinada pelo presidente Pedro Castillo é abertamente inconstitucional, desproporcional e viola o direito à liberdade individual das pessoas", tuitou o advogado Carlos Rivera, um dos defensores das vítimas do governo Fujimori.
"Toque de recolher para restabelecer a ordem, uma medida autoritária do governo Pedro Castillo que demonstra inépcia, incapacidade para governar. É como acabar com os acidentes de trânsito proibindo a circulação de veículos", disse à AFP o analista político Luis Benavente.
A jornalista Rosa María Palacios também criticou a medida: "Perto da meia-noite não há como informar e ser informado. Uma medida tão radical, que viola todos os direitos e é desproporcional, revela apenas que o governo perdeu todo o controle da ordem pública", escreveu no Twitter.
A União de Sindicatos de Transporte Multimodal do Peru critica a alta dos preços dos combustíveis e dos pedágios. A greve de seus afiliados deveria prosseguir até esta terça-feira.
Em uma tentativa de reduzir as críticas, o governo eliminou no fim de semana o imposto sobre os combustíveis. Castillo também decretou o aumento de 10% do salário mínimo, que subirá para 1.025 soles (US$ 277) a partir de 1º de maio.
Não foi o suficiente. A Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP), principal central sindical do país, rejeitou o percentual do aumento, considerado insuficiente, e convocou protestos para quinta-feira.
* Com informações de agências internacionais.
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