Rússia critica envio de armas aos ucranianos, e diz que apoio militar não vai interromper invasão
O Antagonista
Rússia critica envio de armas aos ucranianos, e diz que apoio militar não vai interromper invasão

Naquele que talvez seja o mais emblemático momento de sua viagem à Europa, em busca de coesão contra a invasão da Ucrânia pela Rússia, o presidente americano Joe Biden viajou à Polônia, país que recebeu o maior número de refugiados do conflito, no que é visto como uma demonstração de apoio de Washington a Varsóvia e às quase três milhões de pessoas que deixaram o território ucraniano.

Ali, reforçou sua promessa de ajudar os refugiados "de todas maneiras possíveis", e voltou a chamar o líder russo, Vladimir Putin, de "criminoso de guerra".

Em Rzeszow, a cerca de 100 km da divisa com a Ucrânia, Biden se encontrou com o presidente, o ultranacionalista Andrej Duda, em uma reunião com representantes de organizações humanitárias hoje atuando na Ucrânia.

Em um rápido discurso, lembrou do compromisso, anunciado na véspera, de disponibilizar até US$ 1 bilhão para os ucranianos que foram obrigados a sair do país, e reforçou aquele que é o ponto central de sua viagem à Europa: a coesão nas ações contra a Rússia para colocar fim à guerra.

"A coisa mais importante que podemos fazer é manter a democracias unidas, unir nossos esforços para conter a devastação cometida por um homem que é um criminoso de guerra", afirmou, em uma referência indireta ao líder russo, Vladimir Putin.

Biden se reuniu com integrantes das forças americanas na região — segundo a Casa Branca, há cerca de 10,5 mil militares dos EUA no país, e o presidente tem repetido em suas falas que vai defender "cada centímetro" do território da Otan, o que inclui a Polônia. Além de fazer um pequeno discurso às tropas, também comeu pizza e conversou individualmente com os soldados.

Durante a visita, sirenes soaram em Lviv, que fica a 170 km de Rzeszow, mas não houve relatos de ataques — apesar de estar distante dos principais fronts, a cidade chegou a ser atingida por mísseis russos na sexta-feira, passada, elevando o temor de uma expansão militar russa rumo ao Oeste.

Mais tarde, Biden segue para Varsóvia, onde se encontrará com o presidente, o ultranacionalista Andrej Duda, onde deve discutir questões levantadas anteriormente pelo governo local, como a criação de uma missão de paz internacional em solo ucraniano e o fornecimento de aviões de combate a Kiev — no começo do mês, a Polônia chegou a colocar seus aviões MiG-29 à disposição dos americanos para que fossem transferidos à Ucrânia, mas o plano foi rejeitado por Washington.

Na mesma linha, a ideia de uma missão de paz não encontra muitos entusiastas na Casa Branca, afinal, ela elevaria drasticamente o risco de um confronto direto entre a aliança e forças russas, algo que Biden aparenta querer evitar a (quase) todo custo. No sábado, o presidente deve fazer o que assessores chamaram de "importante discurso", ainda em solo polonês.

Na quinta-feira, em uma série de reuniões em Bruxelas, líderes do G-7, da Otan e da União Europeia reforçaram o discurso de união em torno da pressão contra a Rússia, muito embora não tenham sido anunciadas medidas mais concretas, como a ampliação da ajuda militar — um pedido feito pelos próprios ucranianos — ou a adoção de novas sanções contra Moscou.

Contudo, no caso da Otan, foi confirmado um reforço militar em países do Leste Europeu, com novas unidades de combate na Bulgária, Romênia, Hungria e Eslováquia.

A aliança demonstrou preocupação com o risco de ataques com armas de destruição em massa por parte das forças russas, como armas químicas, algo que Moscou nega ter a intenção de fazer. O governo americano também revelou que uma equipe já estuda possiveis respostas a tal cenário, mas declarou que não pretende "retribuir na mesma moeda".

"[Os EUA] não têm a intenção de usar armas químicas, não importa em que circunstâncias", disse, nesta sexta-feira, o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, em uma tentativa de esclarecer o que Biden havia dito na véspera, sinalizando que a Rússia pagaria "um preço muito alto" se usasse esse tipo de armamento. "Nós fizemos esforços consideráveis para nos colocar em condições de responder de forma eficaz."

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Sullivan ainda revelou que os EUA e seus aliados da Otan estão elaborando planos de contingência para o caso de um eventual ataque contra algum país da aliança — esse é apontado como um dos maiores riscos do atual conflito, uma vez que, pelo Artigo 5 da carta que rege a Otan, um ataque contra uma nação da organização será considerada como um ataque a todos.

"O presidente foi extremamente claro sobre sua determinação sobre uuma resposta decisiva, ao lado dos outros integrantes da aliança, caso a Rússia ataque a Otan", disse Sullivan.

Decisão 'correta'

Apesar das reuniões da quinta-feira não terem avançado sobre o fornecimento de armas à Ucrânia, tampouco sobre uma hipotética zona de exclusão aérea sobre o país, desejo de Kiev mas ideia evitada pelo Ocidente, o Ministério da Defesa russo chamou de "erro" o apoio militar da Otan à Ucrânia, e declarou que ele não vai interromper o que Moscou chama de "operação militar especial".

"Consideramos um grande erro fornecer armas a Kiev por países ocidentais. Isso prolongará o conflito, aumentará o número de vítimas e não vai afetar o resultado da operação. O objetivo real de tais suprimentos não é apoiar a Ucrânia, mas criar um longo conflito", disse, durante entrevista coletiva, Sergei Rudskoy, chefe do principal departamento operacional do Estado-Maior das Forças Armadas russas, citado pela RIA Novosti.

"Estamos monitorando as declarações das lideranças sobre sua intenção de fornecer aeronaves e sistemas de defesa aérea para a Ucrânia. Se implementada [a ajuda], não o deixaremos sem resposta."

Na mesma entrevista, Rudskoy confirmou que 1.351 militares russos morreram em um mês de guerra, e disse que a decisão de invadir o país vizinho foi "a mais correta".

"O curso da operação confirmou o acerto desta decisão. Ela está sendo realizada pelo Estado-Maior em estrita conformidade com o plano aprovado", disse Rudskoy.

No campo dos discursos, o chanceler russo, Sergei Lavrov, afirmou que o discurso adotado contra seu país tem um tom "hitleriano", referência ao ditador da Alemanha nazista, Adolf Hitler.

"Declararam uma verdadeira guerra híbrida total contra nós. Esse termo [guerra total] usado pela Alemanha hitlerista é agora usado por muitos políticos europeus, quando explicam o que querem fazer com a Rússia", afirmou Lavrov, nesta sexta-feira. "Não escondem seus objetivos: destruir, romper, destroçar, asfixiar a economia e a Rússia em seu conjunto."

Em mais uma referência sobre a Segunda Guerra Mundial, ou Grande Guerra Patriótica, como é chamada na Rússia, o presidente Vladimir Putin disse que o que chama de discriminação contra a cultura russa lembra a queima de livros promovida pelos nazistas na década de 1930.

"A última vez que ocorreu uma campanha semelhante de destruição de uma cultura indesejável foi com os nazistas na Alemanha, há cerca de 90 anos", disse Putin, em discurso exibido na TV. "São eliminados dos programas de concertos [compositores russos como] Tchaikovsky, Shostakovich, Rachmaninoff...escritores russos e seus livros estão sendo proibidos."

Desde o início do conflito, espetáculos e eventos envolvendo artistas russos estão sendo cancelados mundo afora — além disso, a participação de esportistas russos em eventos internacionais, incluindo na Copa do Mundo, também está sendo evitada.

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