Vala comum na cidade de Mariupol, no Sudeste da Ucrânia
Reprodução/Twitter
Vala comum na cidade de Mariupol, no Sudeste da Ucrânia

Com seu estratégico porto no Mar de Azov, Mariupol, no Sudeste da Ucrânia, está sob um cerco devastador desde a invasão russa, com  bombardeios constantes que impedem a entrega de comida e água, bem como a retirada dos civis. Na sexta-feira (11), o Ministério da Defesa da Rússia afirmou que a cidade agora está completamente cercada. Segundo a Prefeitura, 1.582 civis perderam a vida em 12 dias na cidade. Foi em Mariupol que um ataque russo atingiu um hospital pediátrico na quarta-feira (9), motivando condenações internacionais.

"Os cercos são uma prática medieval" proibida pelas leis modernas da guerra, afirmou Stephen Cornish, um dos coordenadores da operação dos Médicos Sem Fronteira na Ucrânia, em entrevista à AFP.

Com necrotérios lotados e muitos corpos sem ser coletados dentro das casas, autoridades locais decidiram que não poderiam esperar para realizar funerais individuais para os mortos. Assim, começaram a ser abertas valas comuns para o enterro rápido de civis e soldados. No entanto, segundo afirmou a prefeitura neste sábado (12), os ataques aéreos constantes vêm interrompendo o trabalho das equipes que cavam as valas, impedindo todos os enterros e fazendo com que muitos corpos permanecem nas ruas, de acordo com a Associated Press.

Yulia, uma professora de 29 anos que conseguiu fugir de Mariupol em 3 de março, explica que sua sogra, que ficou para trás, conseguiu ligar para ela de uma torre longe de sua casa. "Foi muito perigoso para ela o trajeto", mas pelo menos conseguiu deixar Yulia e seu marido saberem que ainda estava viva, afirmou à AFP.

"Nos disse que estava bem, mas que os ataques eram incessantes. Há cadáveres nas ruas, ninguém os enterra. Eles podem ficar lá por vários dias, até que um caminhão municipal venha buscá-los e os deixe em um vala comum", afirmou.

Localizada a cerca de 55 km da fronteira russa e a cerca de 85 km do reduto separatista pró-Moscou de Donetsk, Mariupol é a maior cidade na área de Donbass, região que, além da autoproclamada República Popular de Donetsk, inclui a também separatista República Popular de Lugansk. Por isso, o controle da cidade é estratégico para Moscou, já que permitiria garantir uma continuidade territorial entre suas forças procedentes da Península Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, e as unidades dos territórios separatistas pró-Moscou.

As tentativas de estabelecer corredores humanitários para permitir a saída de civis falharam várias vezes, com Kiev e Moscou se culpando mutuamente pelo fracasso.

O escritório da ONU para a Coordenação de Questões Humanitárias afirmou neste sábado que as pessoas sitiadas em Mariupol estão desesperadas, com "informações de saques e violentas disputas entre os civis pelos poucos víveres que ainda existem na cidade".

"Remédios para doenças graves acabam rapidamente, e os hospitais funcionam apenas parcialmente", disse o escritório da ONU em um comunicado.

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Os habitantes locais, que antes da invasão chegavam a 446 mil, também estão quase incomunicáveis há mais de uma semana, sem eletricidade e com baixíssimo acesso a alimentos e água. Muitos estão abrigados em porões para tentar escapar dos bombardeios. Aguardando notícias, muitas famílias vêm postando fotos e informações sobre seus parentes presos em Mariupol no aplicativo de mensagens Telegram, esperando que alguém possa fornecer alguma informação.

Na última quarta-feira, um ataque contra um hospital infantil e maternidade na cidade deixou três mortos e mais de dez feridos, causando ultraje internacional e atraindo alegações de crimes de guerra. Segundo a Organização Mundial da Saúde, as forças russas atacaram ao menos 12 hospitais e instações médicas na Ucrânia desde o início da invasão, em 24 de fevereiro.

Versões contraditórias sobre mesquita

Neste sábado, a informação transmitida pelo Ministério de Relações Exteriores da Ucrânia de que a mesquita Sultão Suleiman, o Magnífico, e sua esposa Roksolana havia sido alvo de um ataque na cidade foi posteriormente desmentida pelo presidente da associação encarregada do local.

Segundo o governo ucraniano e a Embaixada da Ucrânia em Istambul, na Turquia, a mesquita abrigava ao menos 86 cidadãos turcos, incluindo 34 crianças. Mas, contatado pela rede turca HaberTürk, Ismail Hacioglu afirmou que o local não foi alcançado por disparos, apesar de estar em um bairro que vem sendo alvo de ataques.

"Os russos bombardeiam a região que se encontra a 2 km da mesquita, e uma bomba caiu a cerca de 700 metros dela", havia indicado Hacioglu previamente no Instagram.

Ele também afirmou que o local abriga 30 civis, incluindo crianças, explicou à TV turca sem dar detalhes. Também disse que, no total, a cidade de Mariupol tem 86 cidadãos turcos e que a associação da mesquita tenta agrupá-los passando de casa em casa para buscá-los. O consulado turco em Odessa, um importante porto no Sul da Ucrânia, havia pedido aos cidadãos turcos em Mariupol no Twitter em 7 de março que se refugiassem na mesquita "com o objetivo de se retirar de nosso país".

Aberta em 2007 com arquitetura inspirada em uma mesquita de Istambul, a construção de paredes brancas e com um minarete em torre era considerada uma atração turística de Mariupol antes de invasão russa.

*Com agências internacionais

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