Nesta quinta-feira (10), o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, declarou que não acredita que o conflito na Ucrânia se transformará em uma guerra nuclear. Esse é um temor crescente desde a invasão da Rússia à Ucrânia, na pior invasão terrestre na Europa desde a Segunda Guerra.
Questionado por um correspondente do jornal russo Kommersant se ele achava que uma guerra nuclear poderia ser desencadeada, Lavrov disse a repórteres na Turquia:
"Não quero acreditar e não acredito."
Lavrov é ministro das Relações Exteriores de Vladimir Putin desde 2004 e considerado um dos mais experientes diplomatas em atividade no mundo. Ele disse que o assunto nuclear foi posto em discussões apenas por países do ocidente. O chanceler russo fez uma comparação entre o tema da guerra nuclear e o conceito de recalque de Sigmund Freud, o criador da psicanálise.
"É claro que nos preocupa quando o Ocidente, como Freud, continua voltando e voltando a esse tópico", disse Lavrov.
No entanto, a acusação de Lavrov contra o Ocidente mostra-se falsa desde o início do conflito, já que Moscou fez diversas sinalizações e ameaças relacionadas a armas atômicas, com maior ou menor grau de transparência.
No dia 24 de fevereiro, quando a invasão começou, Putiu advertiu que os países que interferissem enfrentariam "consequências nunca antes vistas", em uma ameaça nuclear implícita.
O líder russo repetiu a ameaça posteriormente, em 27 de fevereiro, e ordenou que as forças nucleares da Rússia fossem colocadas em alerta máximo, citando sanções ocidentais e comentários agressivos dos principais membros da aliança militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
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Mais tarde, autoridades russas citaram comentários britânicos sobre um possível confronto entre a Otan e a Rússia como a justificativa para o arsenal nuclear russo ser posto em grau de alerta elevado.
As declações de Lavrov ocorreram após conversas em Antália, na Turquia, com o chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba. Não houve qualquer acordo das negociações.
Lavrov disse que as conversas sobre um possível ataque russo contra os ex-estados bálticos soviéticos — Lituânia, Letônia e Estônia, agora todos membros da União Europeia e da Otan — "parecem ser velhas mentiras", mas alertou os Estados Unidos e a Europa que Moscou nunca mais quer ser dependente do Ocidente.
A economia da Rússia está enfrentando a crise mais grave desde a queda da União Soviética em 1991, depois que o Ocidente impôs pesadas sanções a quase todo o sistema financeiro e corporativo russo após a invasão das tropas russas.
A Rússia e os Estados Unidos têm os maiores arsenais de ogivas nucleares do mundo, construídos durante a Guerra Fria, que dividiu o mundo durante grande parte do século XX, colocando o Ocidente contra a União Soviética e seus aliados. Quando a Guerra Fria terminou, a Ucrânia tinha o terceiro maior arsenal global, atrás só das duas superpotências, mas aceitou abrir mão das armas em 1994.
*Com informações de agências internacionais
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