Dia 24 de fevereiro. Era madrugada quando Gabriel Felipe Costa, de 25 anos, acordou em Kiev com o barulho do bombardeio russo na Ucrânia . A partir daí, o jovem conta que viveu uma verdadeira novela de seis dias para deixar o país.
Com seu monociclo — único meio de transporte disponível no momento do pânico inicial — viajou cerca de 20 km até Bila Tserkva, cidade que fica ao sul de Kiev, onde encontrou a amiga Cristiane Barros, que o auxiliou a deixar o país.
Ao iG , o brasileiro conta ter passado por momentos de pânico durante o trajeto, mas, apesar do temor e do cansaço, conseguiu ver coisas boas no caminho, como a solidariedade das pessoas que enviaram ajuda humanitária aos necessitados das fronteiras.
"A saída da Ucrânia foi uma novela, desde pegar carona de carro, ver caças passando, tentar encontrar gasolina... E foi muito dolorosa, muito difícil, porque no caminho eu vi muitas coisas — tanto coisas boas, como solidariedade, como pessoas aflitas, com cara de que perdeu tudo, desesperadas por não saberem para onde ir, restaurantes sem comida, hotéis fechados. Foi um desespero", relata.
Além do medo de estar em uma zona de conflito, o casal de amigos lidou com dificuldades para comer e encontrar gasolina para abastecer o automóvel que os ajudou a deixar o país.
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"A fila pode demorar três, quatro, cinco horas. Há dificuldade em encontrar comida e lugar seguro para descansar. Saber para qual fronteira você vai também me deixou muito apreensivo. Foram longas filas de espera na fronteira."
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Agora em Berlim, capital da Alemanha, Gabriel está descansando e disse estar aproveitando para refletir sobre a vida. O jovem diz não ter contado com qualquer auxílio do governo brasileiro para se salvar.
"Eu não me deixei tanto depender da assistência do governo porque, graças à Deus, eu tinha trabalho, tinha condições de seguir a viagem. Sei que eles estavam dando informações, mas eu preferi fazer tudo por minha conta."
Apesar de já estar seguro, a apreensão de Gabriel continua por conta dos que não tiveram a mesma sorte que ele.
"Conheço muitos brasileiros que tiveram grande dificuldade de deixar o país. Eu ainda tenho amigos e parentes de consideração que estão lá, tem meu namorado que está lá. E nós ficamos aqui com o coração na mão. A primeira coisa que a gente faz quando acorda é ler notícias para saber o que está acontecendo, porque o coração fica na mão."
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