O presidente francês, Emmanuel Macron , anunciou nesta quinta-feira sua candidatura à reeleição no pleito de abril. Posicionando-se na linha de frente das negociações para tentar acabar com a guerra na Ucrânia, o chefe de Estado francês esperou até o último momento para anunciar que vai disputar um segundo mandato em uma “Carta aos franceses”.
"Sou candidato", escreveu Macron, reconhecendo, como temem seus adversários, que não poderá fazer campanha “como gostaria” por causa da ofensiva russa na Ucrânia , embora se comprometa a “explicar seu programa com clareza”.
Com a oficialização da candidatura a 38 dias do primeiro turno, em 10 de abril, Macron poderá dar um impulso à campanha, fortemente afetada pelo conflito na Ucrânia. A guerra também teve um impacto nas pesquisas: apesar de ter fracassado até agora na diplomacia relativa ao conflito, Macron continua liderando as sondagens, seguido pelos candidatos de extrema direita Marine Le Pen e Éric Zemmour, da candidata da direita tradicional, Valérie Pécresse, e do esquerdista Jean-Luc Mélenchon.
A pesquisa mais recente, publicada nesta quinta pela Poll OpinionWay , dá ao presidente 25% das intenções de voto no primeiro turno, seguido por Le Pen com 18%, Pécresse com 14% e Zemmour com 12%. Em um eventual segundo turno com Le Pen, em 24 de abril, o presidente seria reeleito com 56% dos votos.
Macron havia vinculado o anúncio a uma melhora na situação sanitária no contexto da pandemia do coronavírus, objetivo que foi alcançado, e à diminuição da tensão na Ucrânia, o que não aconteceu. Em um comunicado na quarta-feira, o presidente francês reconheceu que a invasão afetou “a vida democrática e a campanha eleitoral”.
Em 2017, Macron se tornou, aos 39 anos, o presidente eleito mais jovem da França, com uma abstenção altíssima, de quase 25%. Desde então, o presidente enfrentou duros protestos contra suas reformas e uma pandemia global. Meses antes de chegar ao Eliseu, já avisava que seria um “presidente jupiterino”, expressão que evoca o caráter dominador e autoritário do deus romano Júpiter.
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A crise dos “coletes amarelos” foi seu pior momento na Presidência. O protesto, que começou em 2018 devido ao aumento dos preços dos combustíveis, espalhou-se por toda a França englobando reivindicações contra as medidas austeras do presidente contra as classes populares. A mobilização sustentou a imagem de “presidente dos ricos” e desconectada da realidade, conquistada com frases polêmicas como quando disse que nas estações de trem “você encontra pessoas que fizeram sucesso e pessoas que não são nada”.
Macron já antecipou que, entre seus planos, está retomar a polêmica reforma da Previdência, paralisada pela pandemia em 2020. Foi nesse período que o presidente promoveu seu perfil mais “jupiterino”: a gestão pessoal da pior crise desde a Segunda Guerra Mundial rendeu-lhe ataques da oposição e, apesar da desconfiança inicial da população, Macron soube recuperar a confiança e impor medidas controversas como o passaporte sanitário. “Estamos em guerra contra a Covid-19”, disse diversas vezes o presidente, em uma nova França de confinamentos e máscaras.
A sondagem desta quinta mostra que apenas 36% dos franceses acreditam que ele foi fiel às suas promessas. Sua aposta para os próximos cinco anos, caso seja eleito, é reforçar a “soberania” da França, com grandes investimentos nos setores industrial e energético, especialmente no setor nuclear.
O Tribunal de Contas já avisou o governo, porém, que terá de fazer reformas estruturais e cortes para arrumar as contas públicas, sobretudo, quando o Executivo prevê uma dívida de 113% do Produto Interno Bruto (PIB) e um déficit de 5% no final do ano.