Ambulância para apoiar Exército ucraniano em Pavlograd
Reprodução/ O Globo
Ambulância para apoiar Exército ucraniano em Pavlograd

Enquanto o  Exército ucraniano entrou em guerra na quinta-feira, o mesmo aconteceu com um exército de voluntários e ativistas que, com doações de roupas quentes, equipamentos médicos, walkie-talkies e alimentos, há anos apoiam os militares mal financiados do país.

Nos combates entre os exércitos de dois estados-nação, esse tipo de apoio de base aos militares pode não parecer muito relevante. Mas desempenhou um papel fundamental nas incursões russas mais limitadas em 2014 e 2015. E as dezenas de grupos de voluntários bem organizados têm hoje o potencial de resistir aos soldados russos se permanecerem como ocupantes.

"Estávamos nos preparando para isso há anos" disse Yuri Skribets, neurocirurgião que se voluntaria como paramédico no campo de batalha. Ele pertence aos Hospitalários do Batalhão Médico, com base aqui nesta cidade do Leste da Ucrânia.

Em um armazém de tijolos convertido em sua sede, com um fogão a lenha gigante em chamas, os paramédicos voluntários passaram a quinta-feira empacotando mochilas e bolsas com suprimentos médicos de emergência, principalmente o que era necessário para estancar o sangramento: torniquetes, agente coagulante, bandagens.

A organização de médicos e paramédicos voluntários opera há anos na linha de frente da guerra no Leste da Ucrânia, onde separatistas apoiados pela Rússia combatem as forças ucranianas. Os voluntários levam baixas militares para um hospital civil para aliviar a carga do Exército, e foi com uma mistura de raiva e determinação que eles se prepararam para uma tarefa possivelmente muito maior hoje.

"O mundo inteiro é fraco" disse Skribets. "Ninguém realmente resistiu a Putin, e este é o resultado."

Velas votivas
Em uma parede estão pendurados retratos de oito médicos voluntários do grupo mortos em combates no Leste, que começaram em 2014, mas sempre foram confinados a uma fatia da Ucrânia, em contraste com o ataque muito mais amplo iniciado pela Rússia na quinta-feira.

Velas votivas estavam em uma prateleira abaixo dos retratos, e alguns itens para lembrar os voluntários: remendos do uniforme, uma pequena coleção de estilhaços irregulares, fotografias.

O governo do presidente Volodymyr Zelensky, no ano passado, tentou formalizar o trabalho dessas organizações, que vão desde grupos não-governamentais pacíficos a paramilitares armados e politicamente ativos, em um grupo nacional sob comando militar, chamado Forças de Defesa Territoriais.

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As Forças de Defesa, juntamente com grupos independentes, são vistas como o cerne de uma possível insurgência contra a ocupação russa.

"Muitas pessoas comuns estão prontas para resistir se as autoridades em Kiev desistirem" disse Oleksandr Isenko, paramédico voluntário.

Anna Fedyanovich, vice-diretora do grupo, disse que todos os suprimentos médicos são doados, e médicos e enfermeiros oferecem seu tempo:

"Acho que nosso Exército não permitirá uma ocupação" afirmou, sem parecer muito esperançosa.

Citando uma declaração que o presidente Joe Biden fez antes do ataque russo, ela disse:

"A Rússia tem uma lista de voluntários e patriotas para prender."

E são exatamente pessoas como ela. Anna teme que membros do grupo sejam rapidamente traídos por vizinhos em uma cidade onde o sentimento pró-Rússia é comum, caso o Exército russo apareça.

"Todo mundo tem um vizinho que está pronto para traí-los" disse ela. "Não sei como poderia permanecer aqui e não ser presa, talvez torturada. É difícil imaginar ficar aqui."

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