Eric Lander
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Eric Lander

O principal conselheiro do presidente americano, Joe Biden, na área de ciência, o biólogo Eric Lander, pediu demissão nesta semana. A renúncia ocorreu após uma investigação interna levantar evidências de que ele praticou assédio moral contra subordinados, vários dos quais mulheres.

Lander, que deve se desligar oficialmente até o dia 18, é diretor do Escritório para Política Científica e Tecnológica (OSTP), órgão que opera dentro da Casa Branca mas equivale em prestígio a um ministério de ciência. Em sua carta de despedida, o pesquisador pediu desculpas.

"Estou devastado por ter ferido colegas e ex-colegas com a maneira pela qual lhes dirigi a palavra", disse o pesquisador, professor do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), no comunicado.

Os casos de tratamento impróprio de subordinados dos quais Lander é acusado haviam sido revelados na última segunda-feira pelo site de notícias Politico, que obteve acesso à gravação de uma reunião de integrantes de um comitê interno de investigação.

A apuração do caso começou discretamente dois meses atrás e foi concluída nesta semana, como o reconhecimento de que existe "evidência confiável de interações desrespeitosas por parte do dr. Lander com sua equipe", afirma um documento.

Ainda não emergiu nenhuma descrição objetiva sobre palavras, expressões ou atitudes usadas pelo cientista, e o relatório oficial da investigação não foi publicado. Mas a secretária de Imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, já confirmou em entrevista coletiva que as denúncias procedem.

— Além da investigação profunda e detalhada, já foi comunicado diretamente em reuniões a autoridades de alto escalão da Casa Branca que seu comportamento foi inapropriado — afirmou.

A descrição mais detalhada que emergiu dos episódios de assédio moral protagonizados por Lander até agora partiu de Rachel Wallace, integrante do OSTP que trabalhou sob Lander.

"Ele praticava retaliação contra membros da equipe que tinham contestações e questionamentos ofendendo-os, diminuindo-os, constrangendo-os na frente dos colegas, rindo deles, ignorando-os, retirando suas obrigações até substituí-los ou tirá-los da agência", disse ao Politico. "Várias mulheres foram levadas às lágrimas, traumatizadas, sentindo-se vulneráveis e isoladas."

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Ascensão e queda

A demissão do cientista da Casa Branca, aos 65 anos, é possivelmente o evento mais delicado de sua carreira, mas não é a primeira controvérsia pública em que que ele se envolveu.

Na virada do milênio, Lander ganhou muita popularidade entre cientistas por liderar o Projeto Genoma Humano, uma iniciativa pública, que conseguiu empatar com a iniciativa privada na corrida para sequenciar o DNA completo de uma pessoa. Começando atrás na corrida, sob o comando de Lander o programa conseguiu alcançar a empresa Celera, do bilionário Craig Venter, e ambos os projetos publicaram juntos as primeiras sequências (quase) completas do genoma humano em 2001. Especulações de que Lander receberia um Prêmio Nobel pelo trabalho nunca se concretizaram.

Depois disso, o cientista assumiu o comando do Instituto Broad, iniciativa da Universidade Harvard e do MIT para aplicar a ciência do genoma em pesquisa biomédica. No MIT, ao longo de muitos anos ministrou aulas de biologia para alunos de primeiro ano, que lotavam um dos maiores auditórios do instituto para assisti-las. O estilo piadista do cientista o tornou popular entre os alunos, apesar da reputação de pessoa intratável já circular entre colegas cientistas.

A primeira controvérsia pública a minar a popularidade de Lander ocorreu em 2016, quando ele foi criticado por hostilizar uma cientista da Universidade da Califórnia que disputa uma patente com o Broad. Ele entrou em conflito com Jennifer Doudna, descobridora da enzima CRISPR, usada amplamente hoje em pesquisas para alteração de DNA de organismos.

Doudna recebeu em 2020 um prêmio Nobel pelo trabalho junto com a francesa Emmanuelle Charpentier. Na ocasião, Lander minimizou o papel das cientistas no desenvolvimento da tecnologia, o que lhe rendeu muitas críticas por misoginia.

A conclusão da investigação na Casa Branca, agora, não deve contribuir para melhorar sua reputação nessa frente.

"Tenho profundo arrependimento pela minha conduta", afirmou Lander em e-mail enviado a sua equipe após sua renúncia. "Eu gostaria de pedir desculpas especialmente àqueles de vocês que receberam tratamento ruim da minha parte e àqueles presentes nessas ocasiões. Percebo que minha conduta não combina com este governo e interfere em nosso trabalho."

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