Militares fiéis ao general Abdel Fattah al-Burhan, que chefia o Conselho Soberano do Sudão, deram um golpe de Estado no Sudão nesta segunda-feira (25) e prenderam o premiê civil, Abdalla Hamdock, e vários ministros.
Além disso, o acesso à internet e aos demais tipos de comunicação está sendo interrompido constantemente e uma manifestação contra o golpe foi repreendida com violência por soldados. Há feridos entre os civis, segundo informa a emissora Al-Jazeera.
Após o golpe, várias estradas foram bloqueadas e a emissora estatal começou a transmitir apenas músicas patrióticas.
O Sudão vivia em um governo "transitório" desde agosto de 2019, após o autocrata Omar al-Bashir ter sido deposto em abril daquele ano. Desde então, uma coalizão civil-militar estava administrando o país africano com a promessa de que o Sudão teria eleições livres e democráticas para formar um governo completamente civil.
No entanto, recentemente, o principal bloco político civil, o Força para a Liberdade e Mudança (FFC), se dividiu em duas facções, enfraquecendo o movimento.
Na última semana, dezenas de milhares de pessoas tinham feito protestos nas ruas de várias cidades para pedir a plena transferência de poder para os civis e para mostrar força contra um outro ato que ficou dias em frente ao palácio presidencial de Cartum pedindo um "governo militar".
Naquele período, Hamdok havia dito que as divisões dentro do governo de transição marcavam o "pior e mais perigoso momento da crise".
A Associação de Profissionais Sudaneses, um grupo de sindicatos fundamental na liderança dos protestos de 2019, denunciou o "golpe militar" desta segunda-feira e pediu que os manifestantes "resistam vigorosamente" nas ruas.
Primeiro discurso
Após o golpe ter sido consumado, com o premiê e os ministros colocados em "prisão domiciliar" em um prédio não identificado, Al-Burhan fez um discurso transmitido pela emissora estatal.
Nele, o general anunciou a instituição do "estado de emergência nacional", mas disse que os militares vão manter a promessa de "fazer uma transição para o Estado civil".
Anunciando um "governo de pessoas competentes", Al-Burhan disse que vão ser criadas instituições de Estado, como a Corte Suprema. No entanto, o general não deu prazo para que os militares deixem o poder.
"O Exército assegurará a passagem democrática até a atribuição de poder a um governo eleito. Estamos dissolvendo o Conselho dos Ministros e do Conselho Soberano", acrescentou Al-Burhan.
Reações internacionais
A União Europeia, por meio da coletiva diária de seus porta-vozes, disse que "há muita preocupação" com a situação, pedindo que os civis presos "sejam libertados" e fazendo um apelo para "que com urgência, seja evitada a violência e o derramamento de sangue".
Por meio de seu Twitter, o presidente da França, Emmanuel Macron, também se manifestou pela retomada da democracia no país africano.
"A França condena com veemência a tentativa de golpe de Estado no Sudão. Expresso o nosso apoio ao governo de transição do Sudão e apelo à libertação imediata e ao respeito pela integridade do primeiro-ministro e dos líderes civis", escreveu o mandatário.
O enviado norte-americano para o Chifre da África, Jeffrey Feltman, também se manifestou por redes sociais e disse que Washington está "fortemente alarmado" pelo golpe. "Esses anúncios vão contra a declaração constitucional (que regula a transição no país) e as aspirações democráticas do povo sudanês", postou Feltman.
A Liga Árabe também "exprime profunda preocupação pelos desenvolvimento da situação no Sudão e pede para que todas as partes respeitem a transição e limitem-se aos preparativos para aplicá-la".
Sudão
Terceiro maior país da África, com cerca de 40 milhões de habitantes, o Sudão vive uma nova grave crise política desde a separação do Sudão do Sul, em 2011.
A nação, que está entre a África Subsaariana e o Oriente Médio, faz fronteira com sete países e é fundamental para o comércio africano, já que é ali que o rio Nilo é formado, além de ter acesso para o Mar Vermelho.
Segundo estudos do Índice de Percepção da Corrupção, a população coloca a nação como o quarto país mais corrupto do mundo. Além disso, é um dos que têm o menor índice de desenvolvimento humano (IDH) no planeta, com 0,414.