Forças especiais do Talibã encerraram neste sábado (04), com tiros para o alto, um protesto de mulheres afegãs que exigiam direitos iguais ao grupo fundamentalista, que retornou ao poder em 15 de agosto, após quase 20 anos. A marcha foi a segunda ocorrida em dois dias na capital Cabul e transcorria pacificamente.
Manifestantes colocaram uma coroa de flores em frente ao Ministério da Defesa do Afeganistão para homenagear os soldados afegãos que morreram lutando contra o Talibã, antes de marcharem em direção ao palácio presidencial.
À medida que os gritos das manifestantes subiam o tom, funcionários do Talibã se juntaram à multidão para perguntar o que queriam dizer. Segundo a agência Associated Press, um dos integrantes afirmou que as mulheres teriam seus direitos.
Quando as mulheres se aproximaram do palácio presidencial, forças especiais atiraram para o alto e dispersaram as manifestantes. Também foi usado gás lacrimogênio.
Apesar de o Talibã ter prometido um governo mais inclusivo e moderado, muitos afegãos, sobretudo mulheres, permanecem céticos e temem um retrocesso aos direitos conquistados ao longo das últimas década. O grupo esteve no poder no Afeganistão pela última vez entre 1996 e 2001.
Os combatentes do Talibã capturaram rapidamente a maior parte do Afeganistão no mês passado e celebraram a partida das últimas forças dos Estados Unidos após 20 anos de guerra. O grupo insurgente agora deve governar um país devastado pela guerra que depende fortemente da ajuda internacional.
Também neste sábado, o general Faiez Hameed, chefe da agência de inteligência do Paquistão, que exerce grande influência sobre o Talibã, fez uma visita surpresa a Cabul.
A liderança do Talibã tinha sua sede no Paquistão e costumava-se dizer que estava em contato direto com a agência de inteligência. Embora o Paquistão negue o fornecimento de ajuda militar ao grupo, a acusação costuma ser feita pelo governo afegão e por Washington.
Os países da União Europeia (UE) discutiram ontem suas condições para intensificar suas relações com o Talibã e concordaram em estabelecer uma presença conjunta em Cabul para ajudar na retirada de mais pessoas, se a segurança no local assim o permitir. O grupo fundamentalista islâmico deve respeitar os direitos humanos, incluindo os das mulheres, e não permitir que o Afeganistão se torne uma base para o terrorismo, de acordo com o chefe da política externa da UE, Josep Borrell.
Ajuda humanitária
Durante o primeiro regime do Talibã no Afeganistão, a grande maioria das mulheres e meninas foi privada de educação e emprego. A burca, usada principalmente por afegãs da etnia majoritária pachto, era obrigatória nas ruas, e as mulheres não podiam se locomover sem um acompanhante do sexo masculino, geralmente um homem de sua família. Agora, após a tomada de Cabul, o Talibã afirma que mudou, mas as promessas em relação às mulheres ainda são vagas, e ativistas duvidam que algo mude efetivamente.