Em seu primeiro discurso público desde que deixou a Casa Branca, o ex-presidente americano Donald Trump sinalizou neste domingo (28) que pretende manter o controle do Partido Republicano e se colocou como o candidato “provável” da sigla daqui a quatro anos, quando tentará disputar de novo a Presidência.
"Estou diante de vocês para declarar que a incrível jornada que começamos juntos há quatro anos está longe de chegar ao fim", disse Trump no encerramento da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês). "Estamos juntos nesta tarde para falar sobre o futuro: o futuro de nosso movimento, de nosso partido, de nosso querido país".
Banido das redes sociais , antes seu meio de comunicação preferido, depois que foi acusado de incitar a violência na invasão do Capitólio, em 6 de janeiro, Trump vive em seu resort de Mar-a Lago, na Flórida, desde que deixou o poder, em 20 de janeiro. Neste domingo, ele falou em Orlando aos participantes da CPAC — que reúne anualmente os setores mais à direita do Partido Republicano — por mais de uma hora.
No discurso, atacou a classe política, o que inclui alguns de seus desafetos dentro do Partido Republicano , os democratas e a imprensa. Também rejeitou a ideia de que poderia montar um novo partido, dizendo que se tratavam de “notícias falsas” e recordando seus elevados índices de aprovação dentro de sua atual legenda, hoje acima de 90%. Os rumores surgiram há algumas semanas, quando ele enfrentava duras críticas dentro da sigla depois da invasão do Capitólio.
Trump também fez críticas a seu sucessor na Casa Branca, Joe Biden, dizendo que o país passou de “mais EUA” para “menos EUA”: "todos sabíamos que o governo Biden seria ruim, mas não sabíamos o quão ruim seria. Ele teve a primeira semana mais desastrosa de um presidente dos EUA".
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Na média das pesquisas do site FiveThirtyEight, Biden tem aprovação de 54,4%, contra 38,3% que desaprovam seu governo. Trump, em quatro anos de Presidência, nunca passou de 45% de média de avaliação positiva.
Como vem fazendo desde a derrota nas urnas, em novembro, o ex-presidente voltou a repetir a mentira de que venceu Biden, aproveitando para confirmar, mais uma vez, sua intenção de concorrer à Presidência de novo: "eles (democratas) acabaram de perder a Casa Branca . Mas quem sabe eu possa decidir vencê-los pela terceira vez".
O ex-presidente repetiu que houve um processo eleitoral “corrupto” , e afirmou que a Suprema Corte “não teve coragem” de anular a eleição. Por fim, citou um a um os nomes dos sete senadores republicanos que votaram contra ele no processo de impeachment, no qual acabou inocentado das acusações de incitar a insurreição contra a ordem democrática, no mês passado.
Transferida para a Flórida por causa das restrições pandêmicas impostas por Maryland — onde o evento ocorria desde 2012 —, a conferência foi um palco para reforçar a ideia de que Trump já domina o Partido Republicano. Ao seu lado, estavam congressistas e lideranças conservadoras que o veem como o futuro da sigla.
"Eu não vou a lugar algum. Vou ficar exatamente aqui. Estarei aqui por vocês", declarou na sexta-feira o senador Josh Hawley, que foi um dos articuladores da fracassada estratégia para reverter, no Congresso, a vitória de Joe Biden no Colégio Eleitoral . No mesmo dia, o senador Ted Cruz foi um passo além: disse que “Donald Trump não vai a lugar algum”.
Dado o atual clima no partido, é bem capaz que não vá mesmo: segundo pesquisa da Universidade Quinnipiac do começo de fevereiro, 76% dos republicanos concordam com a ideia de que houve fraude nas eleições de novembro. Mesmo no caso do ataque ao Capitólio , menos da metade dos apoiadores da sigla afirma que o ex-presidente teve algum tipo de responsabilidade.
Votação secreta
Resta saber se a força desse discurso vai se sustentar até as eleições legislativas do final de 2022, quando os trumpistas do Partido Republicano vão disputar primárias contra representantes da ala mais tradicional, alvo de pesadas críticas durante a reunião da Flórida.
Ao site Politico, Kevin Madden, assessor do senador Mitt Romney, um anti- Trump , disse que o problema da mensagem do ex-presidente é que ela não atinge preocupações mais amplas de grande parte do eleitorado. Um sinal disso pode ter vindo na própria conferência: uma votação secreta, feita para medir o humor dos participantes durante o evento, mostrou que apenas 68% deles apoiavam uma nova candidatura do ex-presidente.