Donald Trump, presidente dos EUA, com Xi Jinping, presidente da China, durante reunião do G20 em 2019.
Divulgação / Official White House Photo / Shealah Craighead
Donald Trump, presidente dos EUA, com Xi Jinping, presidente da China, durante reunião do G20 em 2019.

Durante seu discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente Donald Trump adotou um tom duro e atacou a China e o governo de Xi Jinping repetidamente durante a sua fala. Na avaliação de Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper, o discurso mostra sinais claros de uma potência que não busca um comportamento globalizado e cooperativo para somar nos desafios comuns.

“Não se trata de um bom sinal do ponto de vista de quem acredita em um mundo mais integrado e uma globalização mais cooperativa”, diz Consentino, que continua: “A gente tem ai sinais claros de uma potência, que hoje vê a ascensão de outra, e não busca um comportamento cooperativo para somar nos desafios comuns, como a pandemia, as questões climáticas, e busca, ao contrário, um tom belicoso”.

Reeleição pode piorar a relação

Em novembro deste ano, Trump irá enfrentar Joe Biden na eleição presidencial e uma possível reeleição pode deteriorar, ainda mais, a relação entre Estados Unidos e China . Consentino acredita que possa haver uma escalada de tom nos discursos americanos e que gere uma polarização.

“O que pode acontecer é que o tom dos discursos e que haja uma polarização no campo do que a gente chama de ‘ Nova Guerra Fria ’, isto é não um conflito quente, mas uma polarização crescente entre americanos e chineses”, explica o cientista político.

Entretanto, Consentino diz que a ideia não é de que Trump e os EUA rompam relações com a China ou levem o conflito para o campo bélico. Um dos motivos que o especialista cita é relação das duas nações no campo internacional.

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Joe Biden
Reprodução/Instagram Joe Biden

Cientista diz que, apesar de amenizar tensões, eleição de Biden não elimina conflitos.

“Os americanos e os chineses tem uma relação simbiótica na comunidade internacional hoje em dia. Eles são as duas potências melhor colocadas e, de certa forma, você não pode acreditar que um prescinda do outro, por questões econômicas e até financeiras de um estado em relação a outro”, explica.

Eleição de Biden acaba com os atritos?

Segundo Consentino, a eleição de Joe Biden não tem o poder de encerrar os atritos entre os Estados Unidos e a China . “Ela [ a eleição de Biden] não elimina uma espécie de rivalidade entre os dois países, na medida em que são duas potências que buscam a hegemonia”, explica o cientista.

Entretanto, ele acredita que o tom menos combativo de Biden tende a melhorar a relação e diminuir a polarização provocada pelo comportamento de Trump.  “O tom que o Joe Biden tem adotado arrefece essa polarização. De alguma forma, isso pode sinalizar para iniciativas de cooperação entre esses dois países, pautadas em ativos de investimentos em uma indústria verde, em questões energéticas e questões ambientais”, argumenta Consentino.

O Brasil em meio ao atrito

Por fim, Consentino analisou a inserção do Brasil em meio aos atritos entre as duas potências. Em sua avaliação, o cientista político diz que o Brasil se insere “de uma maneira muito incorreta” no embate e que perde a chance de se beneficiar da situação.

Aliança do Brasil com o governo Trump enfraquece poder de barganha do país.
Alan Santos/PR
Aliança do Brasil com o governo Trump enfraquece poder de barganha do país.

“O Brasil teria muitos ganhos se adotasse uma posição neutra e barganhasse entre esses dois países. O problema é que o Brasil, nesse momento, encarna uma ideia de que deve se aliar automaticamente não só aos Estados Unidos, mas ao governo Trump. E ai ele acaba se posicionamento de maneira subserviente aos desígnios do Donald Trump”, diz Consentino, que continua:

“Isso elimina qualquer tipo de barganha que ele possa ter com relação aos outros países e ainda cria uma má vontade com os chineses por conta da postura do próprio Donald Trump”, conclui o cientista que acredita que, dificilmente, o Brasil será beneficiado pela situação.  

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