A Justiça da Bolívia emitiu, na segunda-feira (25), uma ordem de prisão contra o ex-ministro da Presidência Juan Ramón Quintana , braço direito do ex-presidente Evo Morales . A ordem de prisão foi expedida por “existirem indícios suficientes de que é autor e participante dos delitos de sedição, instigação à delinquência, terrorismo e financiamento do terrorismo”.
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O documento foi tuitado por Arturo Murillo, atual ministro do Interior, e autor da ação contra Quintana. Não há informações sobre o paradeiro do ex-ministro, mas sabe-se que foram emitidas autorizações para que seus parentes saíssem do país.
No início de novembro, frente episódios de violência realizados por grupos de direita que queriam a saída de Morales, Quintana havia dito que “a Bolívia iria se transformar em um grande campo de batalha, um Vietnã moderno”, caso o presidente fosse destituído. Assim que assumiu o cargo, Murillo prometeu “caçar” o homem-forte de Morales.
"Iremos à caçada de Juan Ramón Quintada. Por que uma caça? Porque ele é um animal que está matando gente", disse a jornalistas, afirmando também que as forças policiais e de Inteligência estavam atrás de Raúl Garcia, irmão do ex-vice-presidente Álvaro García.
Na semana passada, o ministro já havia apresentado um pedido para o Ministério Público do país para que Morales também fosse processado por “rebelião e terrorismo”. A ação tem como origem um áudio em que o ex-presidente supostamente convoca seus apoiadores a cercar La Paz. Morales disse que a gravação foi manipulada.
Há também uma ordem de prisão contra Vilma Alanoca, ex-ministra de Cultura e Turismo, por “instigação à delinquência”. Segundo o atual governo interino, ex-funcionários da pasta foram vistos, durante os protestos, com coquetéis molotov cuja fabricação teria sido ordenada por Alanoca.
Aliado de Camacho
Murillo foi nomeado para a pasta pela presidente autoproclamada Jeanine Áñez . Representada por Óscar Ortiz, a sigla da qual os dois fazem parte, o Movimento Democrata Social (MDS), teve apenas 4% das intenções de voto nas contestadas eleições do dia 20 de outubro. Ele também é próximo de Luis Fernando Camacho, dirigente radical do Comitê Cívico de Santa Cruz que assumiu o protagonismo do movimento que levou à renúncia de Morales.
A crise política na Bolívia começou após as eleições de 20 de outubro quando Morales, depois de quase 14 anos no poder, foi proclamado vencedor para um novo mandato de cinco anos, mas a oposição alegou fraude e foi para as ruas contra o líder indígena.
Pressionado pelos protestos, pelas Forças Armadas e pela polícia, Morales renunciou e se exilou no México denunciando um golpe de Estado, enquanto seus partidários lançaram uma contraofensiva que mergulhou grande parte do país no caos. Desde que o pleito ocorreu, 32 pessoas já morreram no país — primeiro em manifestações contra Morales e agora em favor do ex-presidente. Evo, no entanto, teria mandato a cumprir até o ano que vem.
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Para se proclamar presidente, Áñez, que era segunda vice-presidente do Senado, alegou "vacância de poder", depois da renúncia à presidência da Casa da senadora Adriana Salvatierra, do MAS (Movimento ao Socialismo), o partido de Morales, que era a terceira na linha de sucessão constitucional. De acordo com a Constituição do país, em caso de renúncia presidencial o chefe de Estado interino deve ser aprovado em sessão conjunta da Câmara e do Senado, o que não ocorreu.