O presidente chileno Sebastián Piñera confirmou, neste domingo (27), o fim do estado de emergência em todo o país a partir da zero hora de segunda-feira (28). A medida estava em vigor desde a madrugada do último sábado (19), depois de confrontos violentos entre policiais e manifestantes, saques e incêndios a estações de metrô.
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Inicialmente motivados por um aumento da passagem do metrô de Santiago , os protestos foram engrossados por demandas mais amplas, incluindo reformas nos sistemas de aposentadoria, educação e saúde. As manifestações não foram interrompidas durante o período em que o estado de emergência esteve em vigor, quando a segurança pública foi militarizada em Santiago e nas principais cidades e foi imposto toque de recolher.
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No período, 19 pessoas morreram — pelo menos cinco delas atingidas a tiros pelas forças de segurança e pelo menos cinco em incêndios durante saques — e milhares foram detidas. O Instituto Nacional de Direitos Humanos, uma entidade pública independente, denunciou dezenas de casos de violações de direitos humanos.
Em comunicado, Piñera afirmou que o fim do estado de emergência visa "contribuir para que o Chile retome a normalidade institucional”. O presidente havia sinalizado, no sábado, que poderia adotar a medida “caso as circunstâncias permitissem”, anunciando também o fim do toque de recolher. Universidades confirmaram o retorno às aulas já nesta segunda-feira, enquanto o metrô disse que a Linha 4, a última que ainda não havia retomado as operações, funcionará de maneira parcial também nesta nesta segunda.
Mesmo antes dos anúncios, manifestantes realizaram atos em várias cidades, como Valparaíso e Viña del Mar, com alguns incidentes violentos, incluindo choques entre policiais e manifestantes. Em Santiago, 15 mil pessoas se reuniram no Parque O’Higgins, na região central. Na sexta-feira, uma multidão calculada pela polícia em 1,2 milhão de pessoas havia se reunido no centro de Santiago para pedir o fim do estado de emergência e reformas sociais.
Reprovação recorde
Além do toque de recolher e do fim do estado de emergência, há expectativa também por uma reforma ministerial, prometida pelo presidente no sábado. Segundo Piñera , todos os ministros foram alertados para que colocassem seus cargos à disposição, e analistas dizem que pelo menos nove deles devem deixar o governo, como os ministros do Interior, da Economia e dos Transportes. Ele não deu uma data para que as alterações ocorram.
Para Piñera, que chegou ao cargo em 2017 com uma plataforma de centro-direita, os protestos têm um potencial de abalar sensivelmente seu governo. Além das tarifas do metrô, cujo aumento foi cancelado, os manifestantes criticam o estado dos serviços públicos, o custo de vida elevado e regressividade dos impostos — o humor nas ruas é cada vez menos favorável ao presidente.
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Segundo pesquisa realizada pelo instituto Cadem , a aprovação de Piñera caiu para apenas 14%, a mais baixa de um chefe de Estado desde a volta da democracia, em 1990. Os que desaprovam sua gestão somam 78%, com os entrevistados criticando a maneira como o governo lidou com as manifestações. Além do presidente, os partidos políticos foram reprovados pelos eleitores: segundo a pesquisa, as principais siglas contam com aprovação média de 16% e desaprovação superando os 60%.