Após quatro meses da maior onda de protestos desde o retorno de Hong Kong ao controle chinês, as autoridades do território não descartam limitar o acesso à internet, como forma de barrar as manifestações. Segundo o deputado Ip Kwok-him , integrante do conselho executivo, o gabinete de governo, “embora haja meios de reprimir os protestos, o governo não poderá descartar a possibilidade de proibir a internet”.
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Mesmo assim, o próprio parlamentar, que é pró-Pequim, admite que as consequências podem ser nefastas, atingindo em cheio a reputação de Hong Kong como um dos principais centros financeiros da Ásia.
Sem uma liderança visível, os protestos são coordenados pela internet, onde os manifestantes discutem onde e como eles vão se reunir. Tem sido assim nos últimos quatro meses , com atos pedindo inicialmente a revogação de um projeto de lei que abriria caminho para extradições para a China continental. Hong Kong possui sistemas político , legislativ o e legal próprios, dentro da chamada política de "um país, dois sistemas". O plano foi abandonado , mas os protestos tomaram um rumo diferente, pedindo maior voz no processo democrático do território, além da saída imediata da chefe do Executivo, Carrie Lam .
Desde a semana passada, quando houve a celebração dos 70 anos de fundação da República Popular da China, os protestos se multiplicaram pela cidade, com atos cada vez mais frequentes de violência. Na terça-feira da semana passada, um manifestante foi baleado por um policial, e segue internado em estado grave. Além disso, empresas chinesas foram atacadas em vários pontos da cidade — o sistema de transportes teve suas operações parcialmente suspensas no fim de semana.
Em resposta, o governo de Carrie Lam invocou uma regra criada pelos britânicos em 1922 , que permite a ela tomar decisões que considere “de interesse público”. A medida serviu, na época, para evitar que greves paralisassem as atividades portuárias — agora, foi invocada para tentar colocar fim aos protestos contra seu governo.
A primeira medida adotada sob a regra foi a proibição do uso de máscaras . Mas se a intenção do governo era intimidar os manifestantes, o resultado foi exatamente o contrário . Após a notícia de que todos que fossem vistos com máscaras poderiam ser presos, milhares de pessoas tomaram as ruas, muitas com os rostos cobertos, denunciando o que, para eles, era o início de uma jornada rumo ao autoritarismo. Os atos começaram de forma pacífica, mas acabaram em confrontos e prisões.
Ameaça de prisão
Nesta segunda-feira, as duas primeiras pessoas detidas por terem violado a proibição às máscaras compareceram a um tribunal da cidade. Um estudante e uma mulher de 38 anos ouviram as acusações de manifestação ilegal, que pode resultar em até três anos de prisão, e por infringir a regra sobre as máscaras, o que pode ser punido com até um ano de detenção. Os dois pagaram fiança e responderão ao processo em liberdade.
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Do lado de fora do tribunal, um grupo protestava contra as regras adotadas pelo governo de Hong Kong . "É uma desculpa para que novas leis totalitárias sejam introduzidas, a próxima será a lei marcial", afirmou um manifestante.