Em meio ao inquérito sobre pedidos legalmente questionáveis feitos pelo presidente americano, Donald Trump, ao seu colega ucraniano, Volodymyr Zelensky , em uma ligação telefônica, a rede de TV CNN revelou que pelo menos duas outras conversas de Trump com líderes estrangeiros foram postas sob sigilo máximo.
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De acordo com a CNN, a primeira dessas ligações feitas por Trump ocorreu com o príncipe herdeiro saudita, Mohammad bin Salman . Segundo pessoas que têm normalmente acesso a materiais sigilosos, a transcrição bruta da conversa não foi repassada, algo que é de praxe. Nem mesmo um relato resumido foi distribuído, apesar de, segundo fontes que acompanharam a conversa, ela não ter informações consideradas sensíveis.
Esse telefonema ocorreu em meio às denúncias envolvendo o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi , morto dentro do consulado saudita em Istambul em outubro do ano passado e cujo corpo foi esquartejado, porém jamais encontrado. Em novembro daquele ano, a CIA, agência de inteligência dos EUA , disse ter a convição de que o próprio Mohammad bin Salman, conhecido pela sigla MBS, ordenou o assassinato.
Outra conversa que foi posta sob sigilo sem motivo aparente foi a que envolveu o presidente da Rússia, Vladimir Putin , em data não divulgada. Neste caso, porém, foi feita uma transcrição, segundo a CNN, e ela foi posta em sigilo absoluto. As fontes consultadas não sabem se ela foi armazenada no mesmo sistema de alta confidencialidade onde acabaram guardados os registros do telefonema entre Trump e Zelensky . Neste caso, a cautela pode ter relação com as acusações de que a Rússia teria interferido nas eleições presidenciais de 2016, vencidas por Donald Trump .
Nos dois casos, segundo especialistas em segurança consultados pela CNN , o excesso de zelo ou mesmo a ausência de transcrições teria como objetivo evitar o vazamento de informações, mesmo que não envolvessem questões de segurança nacional.
Ao ser questionado sobre as alegações, o porta-voz do Kremlin, Dimitry Peskov , disse torcer para que não fossem revelados detalhes confidenciais das conversas entre Trump e Putin. Segundo ele, é uma prática diplomática normal não divulgar publicamente detalhes dos telefonemas.
Ainda sobre os russos , o Washington Post revelou, também na sexta-feira, o teor de uma conversa entre o presidente americano, o chanceler russo, Sergei Lavrov, e o embaixador do país nos EUA, Sergey Kislyak , em maio de 2017 na Casa Branca. Na época, de acordo com o Post, o presidente americano se disse “ despreocupado ” com a interferência de Moscou na eleição de 2016, uma vez que, nas palavras dele, os EUA fizeram o mesmo com outros países.
'Assédio presidencial'
Ainda não está claro se uma investigação será lançada para esclarecer o teor dos telefonemas, o que poderia agravar a situação de Trump. Depois da revelação de que ele pediu a Zelensky para abrir um processo contra a família do ex-vice-presidente Joe Biden e suas relações com o setor de gás no país, a oposição democrata viu nas ações dele um crime passível de afastamento do cargo, e lançou um inquérito que pode decidir pela abertura de um processo de impeachment.
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Para eles, Trump claramente pediu para que um governo estrangeiro interferisse diretamente no processo eleitoral americano, uma vez que Biden é um dos favoritos para ser confirmado como o candidato democrata à Presidência no ano que vem.
O presidente nega ter cometido qualquer irregularidade, afirmando que vem sofrendo “ assédio presidencial ”, e tentando passar ao público a ideia de que está sendo perseguido. Porém, segundo pesquisa divulgada esta semana, o apoio dos eleitores à abertura de um processo de impeachment disparou , inclusive entre os republicanos.