A Organização das Nações Unidas (ONU) é um órgão intergovernamental com o objetivo precípuo de promover a cooperação internacional. Trata-se, portanto, de uma função que envolve sobretudo a diplomacia na pacificação de conflitos entre países. Claro que o presidente Jair Bolsonaro, alérgico ao diálogo, a detesta.
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Ainda assim, sem morrer de amores pela ONU
e recuperando-se de uma cirurgia de hérnia, na quinta-feira (19) ele assegurou que irá a Nova York para ler, na terça-feira 24, o seu discurso de abertura da 74ª Assembleia Geral da instituição. Segundo o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, Bolsonaro será “enfático” e “falará de coração”.
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No discurso, o presidente explicará a “sua política ambiental baseada na sustentabilidade” (se é para abrir o coração, será que ele admitirá a inexistência de tal política e o gosto pela pirotecnia nas florestas?). Mais: realçará o combate à corrupção (será que abrirará as suas manobras que dão guarida aos seus filhos investigados?) e anunciará o fim da diplomacia com viés ideológico (será que Ernesto Araújo vai dançar?).
Até a quarta-feira, a ida de Bolsonaro mantinha-se incerta, e o que se dizia era que as recomendações médicas aconselhavam-no a não viajar. O fato, no entanto, é que o diagnóstico em questão nada tinha de clínico. Fora detectada, isso sim, a organização de diversos movimentos nas ruas novaiorquinas e também no próprio plenário da ONU contra a sua presença.
Além de passeatas, imagine os chefes de Estado dando-lhe as costas quando ele começar a falar, ou, então, retirando-se do plenário. E, convenhamos, não se tratará de falta de educação. Bolsonaro é que sempre se portou de forma deseducada e ofensiva em relação à ONU, à qual já chamou de “local de reunião de comunistas”. Durante a sua campanha, garantiu: “se eu for eleito, saio da ONU, porque não serve para nada essa instituição”.
Graves ofensas
A deseducação não para aí. Bolsonaro ofendeu a alta comissária para Direitos Humanos, Michelle Bachelet , ex-presidente do Chile. Pior: ofendeu a memória do pai de Michelle, Alberto Bachelet, assassinado pela ditadura de Augusto Pinochet.
Além disso, fervilha a insatisfação com o seu descaso pela preservação ambiental e pelos indígenas, e as denúncias sobre as queimadas na Amazônia serão o motor de muitos protestos. Em um evento paralelo, o da Cúpula do Clima, o Brasil teve na semana passada o seu discurso vetado. Ou seja: o vexame diplomático já começou.