De herói a ditador: morre Robert Mugabe, que comandou o Zimbábue de 1980 a 2017

Derrubado por um golpe militar há cerca de 2 anos, o fim de seu governo marcou o encerramento de uma era na ex-colônia britânica
Foto: Reprodução/Wikipedia
Mugabe foi um dos heróis do movimento de independência do Zimbábue

O ex-ditador Robert Mugabe , herói do movimento de libertação africana que, após chegar ao poder, levou o Zimbábue ao colapso, morreu nesta sexta-feira aos 95 anos. O falecimento foi confirmado pelo presidente Emmerson Mnangagwa, que chamou Mugabe de “um ícone da libertação pan-africana que dedicou sua vida à emancipação e ao empoderamento de seu povo.

Leia também: Navio biblioteca: a nova face das expedições missionárias do século 21

Mugabe que, entre 1980 e 2017, comandou o Zimbábue com tirania e corrupção, supostamente morreu em Cingapura, país que visitava frequentemente para receber tratamento médico enquanto sua saúde deteriorava. Derrubado por um golpe militar há cerca de 2 anos, o fim de seu governo marcou o encerramento de uma era na ex-colônia britânica.

O chefe de Estado mais idoso do mundo antes de ser derrubado foi o único líder que o Zimbábue conheceu após sua independência , em 1980. Celebrado por lutar contra o supremacismo branco em sua terra natal, Mugabe tornou-se uma figura amplamente polarizadora em seu país e no continente.

Mugabe era professor em Gana e retornou à Rodésia, na década de 1960, para lutar contra o regime minoritário branco. Após dez anos na prisão, ele fugiu para Moçambique, onde tornou-se um dos líderes do movimento de guerrilha . Ao fim da guerra de independência que se estendeu por sete anos, em 1980, ele chegou ao poder no Zimbábue.

Leia também: Bandeira de Weintraub para universidades, Future-se é contestado por reitores

De início, Mugabe prometeu uma convivência pacífica com a minoria branca, liderando o país por um período de crescimento econômico e desenvolvimento educacional, mas as violações de direitos humanos rapidamente começaram. Na década de 1980, por exemplo, comandou uma limpeza étnica que matou ao menos 20 mil pessoas na província de Matabeleland, esmagando a oposição liderada por seu rival Joshua Nkomo.

Mugabe fraudou eleições e liderou um programa de reforma agrária que expulsava fazendeiros brancos ricos, dando as propriedades para seus aliados que, em maior parte, não tinham o capital ou habilidades para o cultivo. Isso colaborou para o caos econômico que tomou conta do país, gerando hiperinflação, desemprego generalizado e deixando a população dependendo de auxílio humanitário para se alimentar. O ex-ditador e seus aliados também realizaram o saqueio de bilhões bilhões de dólares de produtoras de café por sua família e aliados.

Robert Mugabe, que uma vez disse que a oposição "nunca mandará neste país, nunca, nunca", foi derrubado por seus próprios generais enquanto preparava sua ex-esposa, Grace, 40 anos mais nova, para a sucessão. Em novembro de 2017, entretanto, os militares foram mais rápidos, colocaram os tanques nas ruas e tomaram o poder.

Leia também: Paulo Guedes pede desculpas por chamar Brigitte Macron de “feia”

Realizada com a justificativa de restaurar o legado de Mugabe, o golpe militar colocou Mnangagwa no poder quando o ditador se recusou a sair. Por um breve momento, houve a expectativa de que a troca de poder pudesse colocar o país, onde falta comida e remédios, no caminho de uma reforma e democracia genuínas, mas Mnangagwa tem adotado técnicas similares às do seu mentor, como a dura repressão a movimentos de oposição.

O atual presidente consolidou-se no poder em uma fraudulenta eleição realizada em 2018, quando soldados atiraram em opositores. Desde então, a situação tem piorado, com a abdução e a tortura de dezenas de opositores e cidadãos comuns.

Link deste artigo: https://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2019-09-06/de-heroi-a-ditador-morre-robert-mugane-que-comandou-o-zimbabue-de-1980-a-2017.html