A autoridade aeroportuária de Hong Kong obteve na Justiça uma liminar paraimpedir protestos no aeroporto da cidade e restringir a entrada no saguão para apenas viajantes. Na noite de terça-feira, manifestantes antigoverno e pró-democracia, que já ocupavam o local havia seis dias, entraram em confronto com a polícia depois que ativistas capturaram e espancaram dois chineses do território continental — ações classificadas por Pequim como "quase terroristas".
Leia também: Ministro da Defesa nega possível golpe de Estado na Venezuela
Segundo a autorização concedida pela Justiça, pessoas poderão ser presas por "obstruírem ou interferirem ilegalmente ou intencionalmente" no funcionamento do aeroporto de Hong Kong e poderão ser "impedidas de comparecer ou participar de quaisquer protestos, manifestações ou eventos públicos no aeroporto ou em qualquer área designada pela autoridade aeroportuária".
Em um comunicado, o aeroporto disse ainda que só permitirá a entrada de passageiros com passagens válidas para voos programados em até 24 horas. Aberto em 1998, o Aeroporto Internacional de Hong Kong é o oitavo mais movimentado do mundo, acomodando cerca de 75 milhões de passageiros e 5,1 milhão de toneladas de carga por ano. Apesar de alguns voos cancelados, o aeroporto funcionava normalmente nesta quarta-feira.
A decisão veio horas depois que os protestos que tomavam o lugar desde sexta-feira tornarem-se violentos na noite de terça-feira. Os opositores entraram em choque com a polícia depois que homem ser amarrado e espancado por manifestantes, que afirmaram que ele seria um policial chinês à paisana infiltrado no protesto. Em seguida, um repórter do jornal oficial chinês em língua inglesa Global Times também foi amarrado pelos manifestantes, e foi resgatado pela polícia depois que seu editor-chefe, Hu Xijin, tuitou que ele trabalhava para o veículo.
Do lado de fora do aeroporto, um grupo de policiais da tropa de choque local usou gás de pimenta contra manifestantes que cercavam seus veículos, enquanto tentava escoltar o homem ferido até uma ambulância.
Em resposta aos incidentes, o Escritório sobre Assuntos de Macau e Hong Kong do governo chinês expressou "ira extrema" e "condenou veementemente" as agressões, classificando-as como "quase atos de terrorismo".
"Os protestos radicais ultrapassaram totalmente o limite da lei, da moral e da humanidade", disse Xu Luying, porta-voz do órgão, em um comunicado. "Seu comportamento mostra extremo desprezo pelas leis e eles mancharam seriamente a imagem internacional de Hong Kong."
Leia também: Rússia manda esvaziar vila após explosão em provável teste de míssil nuclear
Pedidos de desculpa
Alguns manifestantes publicaram pedidos de desculpas pelos eventos da noite de terça-feira (13), afirmando que a ocupação era uma resposta ao uso excessivo de força policial no último final de semana. Na ocasião, forças de segurança utilizaram balas de borracha e gás de efeito lacrimogêneo para dispersar opositores dentro de estações de metrô, ferindo uma mulher no olho. Em resposta, Pequim prometeu reprimir os manifestantes com "mão de ferro" e disse que os atos "começaram a mostrar sinais de terrorismo" — algo que, segundo especialistas, pode legitimar a utilização de leis antiterror e outras medidas mais duras.
Em resposta ao agravamento da crise política, Michelle Bachelet, alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, pediu que o governo de Hong Kong tenha cautela e abra investigações sobre a utilização de gás de efeito lacrimogêneo de maneiras que violem a lei internacional. A China, por sua vez, protestou contra as declarações de Bachelet, dizendo que ela estava estava "enviando o sinal errado para autores de atos criminosos".
A escalada da situação aumentou a tensão no território chinês na décima semana de protestos que começaram contra um projeto de lei de extradição que permitiria a transferência de presos para a China continental, mas acabaram se voltando contra a chefe do Executivo local,Carrie Lam, e contra Pequim. Depois que o projeto foi engavetado, os manifestantes pedem a renúncia de Lam e eleições diretas para o chefe do Executivo, hoje escolhido por uma comissão de 1.200 integrantes, a maioria próxima a Pequim.
Parte da China, Hong Kong tem autonomia política, administrativa e judicial, um modelo conhecido como " um país, dois sistemas ", garantido pela Lei Básica, semiconstituição elaborada quando o território foi devolvido aos chineses pelos britânicos, em 1997.
Leia também: França inicia operação para retirar chumbo de Notre-Dame
Se em junho, no início dos protestos, Pequim vinha se mantendo em relativo silêncio sobre a situação, a retórica tem mudado com o agravamento da violência e dos desafios à autoridade chinesa. Após manifestantes cercarem o prédio da representação de Pequim em Hong Kong , Pequim advertiu que o governo central não toleraria iniciativas de manifestantes que ameaçassem sua autoridade e sugeriu que poderia mobilizar tropas do Exército Popular de Libertação para conter os protestos no território.