O presidente do Partido Liberal do Paraguai, Efraín Alegre, um dos principais líderes da oposição no país, anunciou neste sábado (3) que na próxima segunda-feira (5) será apresentado o pedido de impeachment do presidente Mario Abdo Benítez , seu vice, Hugo Velázquez, e do ministro da Fazenda, Benigno López, por suposta traição à pátria. Os três são acusados pela oposição de terem escondido informação relacionada às negociações com o Brasil, num acordo em que o Paraguai pagaria mais pela energia produzida pela hidrelétrica binacional de Itaipu .
Até quinta-feira (1º), a iniciativa de impeachment contava com o respaldo de um setor do governista Partido Colorado que acabou mudando de posição após os governos do Brasil e do Paraguai terem anulado o acordo selado em maio passado, que desencadeou a crise. Na opinião do Partido Liberal, o recuo não muda o fato de que o presidente e seu vice firmaram um entendimento que era secreto até a semana passada e ia contra demandas históricas do Paraguai.
"Na próxima segunda apresentaremos o pedido de impeachment, e a História lembrará de todos (os três acusados) com vergonha", disse Alegre ao jornal O Globo
. Segundo o
líder opositor, "os votos (necessários para aprovar o pedido) serão vistos no processo". "Isso está apenas começando", enfatizou Alegre.
O Judiciário está investigando o caso. Neste sábado, o advogado José Rodríguez González, que em mensagens enviadas ao ex-presidente da Ande (a Eletrobrás local, envolvida nas negociações sobre Itaipu) se apresentava como representante do vice-presidente, prestou depoimento em Assunção.
Segundo analistas locais, a oposição não teria os votos necessários para aprovar o pedido de impeachment, mas o Partido Liberal espera que o avanço das investigações nos tribunais locais elevem a pressão sobre deputados e senadores e compliquem a situação do presidente.
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Também prestou depoimento o ex-presidente da Ande, Pedro Ferreira, que renunciou ao cargo semana passada por divergências sobre a ata diplomática assinada em maio, em
Brasília. Ferreira questionou a exclusão do ponto 6 do acordo, que previa que a Ande começasse a vender energia no mercado brasileiro.
Segundo o ex-presidente da estatal, comentaram fontes da Ande, esta exclusão teria tido como objetivo favorecer o grupo brasileiro Leros, que enviou uma carta de intenção para participar da futura licitação de energia paraguaia. Em vários momentos, comentou a fonte, foi pedido a Ferreira que a Leros tivesse exclusividade, mas o presidente da Ande negou-se e, quando soube que o ponto 6 fora retirado do acordo, decidiu pedir demissão.
Em pronunciamento à nação, quinta passada, o presidente do país não se referiu aos detalhes da crise e disse apenas que Itaipu é uma causa nacional e convocará uma comissão multidisciplinar para colaborar com o governo nas negociações com o Brasil na tentativa de impedir o seu impeachment .