O novo primeiro-ministro da Inglaterra, Boris Johnson , foi empossado nesta quarta-feira (24) pela rainha Elizabeth II, prometendo aprovar um Brexit a qualquer custo, algo que só deve acentuar as divisões em um Reino Unido já polarizado ao extremo.
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Em seu discurso de posse, na porta da residência oficial do primeiro-ministro do Reino Unido, Johnson voltou a reforçar que os britânicos sairão da União Europeia no dia 31 de outubro, com ou sem acordo.
"As pessoas que apostam contra o Reino Unido irão perder porque nós vamos restorar a crença na democracia e vamos cumprir com as promessas repetidas às pessoas e sair da União Europeia no dia 31 de outubro, aconteça o que acontecer", disse Johnson.
No pronunciamento, o novo premier disse estar confiante de que conseguirá chegar a um novo acordo nos 99 dias que restam e que não esperarão até o prazo final. Especialistas, contudo, consideram esta missão difícil, visto que o Parlamento britânico está em recesso de verão até setembro e o Parlamento Europeu, em processo de gestão, já afirmou que não irá negociar um novo tratado com os britânicos.
O polêmico ex-prefeito londrino, que poderá ter o mandato mais curto da história caso não consiga cumprir a promessa do Brexit , também prometeu que, enquanto negocia a saída, garantirá uma parceria com o continente europeu, baseada no livre-comércio e no apoio mútuo. Na possibilidade de um Brexit sem acordo, Johnson ressaltou, os interesses britânicos estariam resguardados pela dívida de 39 bilhões de libras esterlinas acordadas que Londres tem com Bruxelas.
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Johnson, que derrotou o chanceler Jeremy Hunt na disputa pela liderança do Partido Conservador com 66,3% dos votos, herda uma legenda e um país divididos, em uma crise em parte provocada por ele próprio, ao liderar uma ala dos conservadores que se opôs a qualquer acordo de transição para a saída da União Europeia (UE) que mantivesse vínculos entre o Reino Unido e o bloco.
O fracasso de May, que renunciou após falhar três vezes em aprovar no Parlamento o acordo que negociou com a UE, aprofundou essas divisões. A tendência é que elas se acentuem ainda mais conforme se aproxima o dia 31 de outubro, prazo que o Reino Unido tem para deixar a União Europeia, na qual ingressou em 1973.
Novo gabinete
O novo primeiro-ministro britânico deverá anunciar ainda hoje os membros de seu novo governo, que deverá guiar o Reino Unido em direção à saída da União Europeia, com ou sem acordo. A expectativa é que os indicados sejam majoritariamente pró-Brexit, como Dominic Cummings, diretor da campanha para a saída do bloco europeu no referendo de 2015, cotado para ser seu conselheiro sênior.
A nomeação de Cummings, conhecido pelo seu estilo combativo e desafiador, indica que Johnson está levando o Brexit a sério e que considera a hipótese de novas eleições, já que o novo conselheiro é especialista em campanhas políticas.
Como apontou uma análise da agência Bloomberg, a divisão no Parlamento britânico e a indisposição do bloco europeu para fazer novas concessões são sinais de que só uma nova eleição poderá ser capaz de solucionar o impasse do Brexit. E, para isso, a retórica desafiadora, as gafes e a critividade do premier recém-escolhido o transformam em um cabo eleitoral perfeito para o Partido Conservador, conversando com uma nação já fraturada pela rivalidade de classes e pela desigualdade.
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A saída do bloco europeu a qualquer custo, entretanto, é tão polarizadora que diversos ministros do Gabinete de May, da pasta das Finanças, declararam que pretendem renunciar ou se demitir, juntando-se a um crescente exército de rebeldes que estão determinados a lutar para impedir um Brexit não negociado . Phillip Hammond, da pasta de Finanças, por exemplo, anunciou sua renúncia na manhã desta terça-feira. Opositores no Partido Conservador não descartam nem aderir a uma moção de censura para derrubar Johnson.