A capitã Carola Rackete, que na semana passada forçou a entrada do navio de resgate humanitário Sea-Watch 3 em águas italianas, processará o vice-premier da Itália Matteo Salvini por difamação. Segundo o seu advogado, a ação será movida por conta das declarações públicas ameaçadores do ultraconservador contra a jovem alemã, que o desafiou para levar a terra firme 42 migrantes e refugiados que haviam sido salvos no Mediterrâneo.
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"Já preparamos a ação contra o ministro Salvini. Não é fácil fazer o inventário de todos os insultos formulados por Salvini nas últimas semanas", disse Alessandro Gamberini, advogado da capitã , a uma rádio italiana, acusando Salvini de disseminar o ódio nas redes sociais. "Uma ação por difamação é uma forma de lançar um sinal".
Carola Rackete foi detida após atracar sem autorização na ilha italiana de Lampedusa. A sua embarcação estava à deriva havia 17 dias, com migrantes e refugiados sob frágeis condições de saúde, sem que nenhum país europeu aceitasse recebê-los. A capitã — de 31 anos, a primeira mulher a comandar um navio de resgate humanitário — acabou libertada por uma juíza italiana, que considerou que ela não cometeu crime e apenas cumpria o seu dever de salvar vidas no mar.
Duas investigações diferentes, por resistência a um oficial e por ajuda à imigração clandestina, seguem em curso contra ela.
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Ela se tornou um símbolo de resistência às políticas linha-dura de Matteo Salvini para a imigração. O vice-premier, que acumula o cargo de ministro do Interior, ascendeu ao poder em 2018 com a promessa de frear os desembarques no Mediterrâneo. E, desde então, proibiu os desembarques no Sul italiano e impôs restrições contra ONGs que desobedeçam as regras.
Durante toda a duração da crise, Salvini aumentou suas declarações e os tuítes furiosos contra Carola, descrevendo-a como "problemática", "criminosa", ou "uma pobre mulher que apenas tentou matar cinco militares italianos", ao avançar com a sua embarcação contra navios da guarda costeira italiana que tentavam impedir de seguir caminho rumo à costa de Lampedusa. E, ainda, anunciou publicamente que a expulsaria da Itália.
Sob ameaças, a capitã teve que se esconder depois de ser libertada pela Justiça. Não está claro se ela voltou à Alemanha ou não.
À notícia de que seria processado, o vice-premier continuou com as declarações agressivas: "Ela viola as leis e ataca navios militares italianos, e depois me processa", reagiu ele nas redes sociais. "Não tenho medo dos mafiosos, imagine então de uma comunista alemã rica e mimada... Beijões".