No último dia para a libertação dos presos políticos da Nicarágua , nesta terça-feira, governo e oposição chegam a novo impasse. Enquanto o governo de Daniel Ortega afirma que já cumpriu o compromisso, a oposição diz que 89 presos por participarem de protestos contra o presidente ainda estão detidos.
A libertação de todos os presos era um compromisso assumido pelo governo da Nicarágua após negociações com a opositora Aliança Cívica para a Justiça e Democracia (ACJD), líder dos protestos que exigem a renúncia de Ortega , e que terminaram com 325 mortos e 62.500 exilados, segundo grupos humanitários.
“Todas essas pessoas gozam de liberdade, com o compromisso de não repetir os crimes, conforme estipulado na Lei de Anistia”, disse o governo em um comunicado, que alega que os restantes são criminosos comuns.
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Nos últimos dias, pelo menos 492 pessoas foram libertadas sob uma polêmica lei de anistia aprovada em 8 de junho pelo Parlamento, controlado por Ortega — ex-guerrilheiro, no poder desde 2007.
"As autoridades não cumpriram o acordo de libertar todos os presos políticos ", disse aos repórteres Carlos Tünnermann, chefe da delegação da ACJD.
A União dos Prisioneiros Políticos, por sua vez, ameaçou realizar novos protestos na quarta-feira, se os prisioneiros não forem libertados.
Os acordos também incluem o fim de detenções arbitrárias, a restituição do direito de protestar, a reunião pacífica, a liberdade de expressão e o retorno de propriedades confiscadas de ONGs e da imprensa.
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Para analistas, uma violação dos compromissos assumidos com a oposição poderia provocar a aplicação de sanções por parte da União Europeia (UE) e um endurecimento das punições impostas pelos Estados Unidos.
"O governo tem dificuldade em provar que vem cumprindo o acordo porque tem havido novas detenções, assédio, intimidações; a liberdade de imprensa é quase mínima e exilados ainda são perseguidos", explica à AFP o analista Gabriel Alvarez.
Para o ex-diplomata Edgar Parrales, o não-cumprimento poderia levar a UE a retirar a Nicarágua do Acordo de Associação com a América Central, a reduzir ou até congelar a cooperação bilateral, a estabelecer restrições de imigração ou a impor sanções aos funcionários do governo.
"Pessoas do governo têm dinheiro e imóveis nos bancos da Europa que poderiam ser afetados ", afirmou à AFP.
Washington também impôs sanções econômicas contra Rosario Murillo, mulher do presidente, seu filho Laureano e cinco outros oficiais de alto escalão, acusados de violações dos direitos humanos e corrupção.
Mais sanções agravariam a crise na Nicarágua , cuja economia contraiu 3,8% no ano passado, segundo dados oficiais, enquanto associações empresariais apontam perdas de cerca de 450 mil empregos e fechamento de pequenas e médias empresas.
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