Depois de mais de uma semana de protestos contra uma lei que permitiria a deportação de pessoas de Hong Kong para a China continental, o governo de Pequim confirmou o seu apoio à chefe do Executivo local, Carrie Lam. Segundo uma fonte próxima à administração de Hong Kong, os chineses não querem considerar a demissão de Lam neste momento, mesmo que ela apresente um pedido de renúncia.
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A mesma fonte, contudo, disse que essa avaliação pode mudar caso os protestos, ao invés de focarem apenas na lei de deportação, agora adiada por tempo indeterminado, passem a ter como alvo a própria Carrie Lam.
As declarações publicadas pela Reuters foram corroboradas pelo próprio governo chinês.
— O governo chinês, o governo central, sempre apoiou o trabalho da Chefe do Executivo de Hong Kong — afirmou o porta-voz da Chancelaria chinesa, Lu Kang. — O governo central continuará a apoiar a Chefe do Executivo e a atuação do governo da Região Administrativa Especial (nomenclatura usada pela China para designar Hong Kong e Macau) de acordo com a lei.
Pressão levou governo de Hong Kong a adiar
As declarações de Pequim, as primeiras desde o início dos protestos contra a Lei da Deportação, vieram depois de uma das maiores manifestações na história recente de Hong Kong. Desde o final de semana retrasado, milhões de pessoas tomaram as ruas exigindo o arquivamento do projeto de lei, que poderia abrir caminho para que pessoas fossem presas na cidade e extraditadas para a China continental. Nos primeiros dias a repressão foi pesada, com 32 pessoas presas.
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Sob pressão, a chefe do Executivo local, Carrie Lam, anunciou no sábado que o projeto seria abandonado por tempo indeterminado, ação que aparentemente contou com o apoio de Pequim, que defende a aprovação.
No dia seguinte a multidão voltou às ruas, agora para exigir a saída de Carrie Lam e atacar o que movimentos democráticos consideram ser o aumento da influência da China. Hong Kong é governada a partir da ideia de “Um País, Dois Sistemas”, garantindo certa autonomia em relação às leis que governam o restante do território. Com os protestos ganhando força, existe a expectativa de que os manifestantes voltem a defender eleições livres para o comando da ilha, como em 2014, na chamada “Revolução dos Guarda-Chuvas”. Na época foram 79 dias nas ruas, mas que não foram capazes de mudar as regras.
Hoje, o chefe do executivo é escolhido por um colégio eleitoral, formado por 1200 representantes de vários setores da sociedade. Para os ativistas pró-democracia, ele não reflete as visões da população, além de ser considerado “excessivamente pró-China”. A população tem direito de escolher os integrantes do legislativo, que é um poder à parte.
Para muitos, a preocupação não é apenas com o presente, mas sim com o futuro: em 2047 expira o acordo entre britânicos e chineses sobre o status especial de Hong Kong. Muitos dos jovens hoje nas ruas não escondem a preocupação com a possibilidade de fazerem parte integral da China, adotando, inclusive, as mesmas leis que regem o restante do país. Isso daqui a menos de 3 décadas.
Ativista libertado
Com manifestantes ainda nas ruas, foi libertado hoje um dos líderes dos protestos de 2014. Joshua Wong cumpria pena de dois meses por acusações relacionadas às manifestações daquele ano. Em entrevista à rede de TV americana CNN, Wong afirmou que era “um bom momento para ser solto”. Ele ainda previu que, caso o governo não abandone em definitivo o projeto sobre a extradição, os manifestantes seguirão na rua até o dia 1 de julho, aniversário da devolução de Hong Kong para a China e uma data conhecida pelos grandes atos nas ruas.
Fazendo coro aos manifestantes de hoje, Wong também defendeu a saída imediata de Carrie Lam, além de eleições diretas.
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