Nesta quarta-feira (12), milhares de pessoas voltaram às ruas em Hong Kong para protestar contra um projeto de lei que prevê a extradição de suspeitos de crimes para a China continental. A polícia usou balas de borracha e gás lacrimogêneo para dispersar grupos de manifestantes que tentavam invadir o prédio do Legislativo do território. Os confrontos levaram o governo a adiar as discussões sobre a lei, previamente marcadas para esta quarta-feira, para uma "data posterior".
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As manifestações transcorriam com tranquilidade até as 15h (4h, no horário de Brasília), prazo que os manifestantes haviam estabelecido para o governo abandonar o projeto de lei de extradição . Logo em seguida, um grupo tentou invadir o prédio do Legislativo e atirou objetos contra os policiais, incluindo barras de metal, cones de trânsito e paralelepípedos. A polícia respondeu com o uso de canhões de água, gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha — usadas pela primeira vez em Hong Kong em décadas. Segundo o canal Cable TV, ao menos 22 pessoas ficaram feridas, entre elas um policial.
Desde domingo , dezenas de milhares de pessoas tomam as ruas da cidade — uma ex-colônia britânica devolvida à China em 1997 — em resposta à medida. Os críticos da lei temem que ela possa abrir caminho para extradições por razões políticas ou empresariais. A votação final do texto estava prevista para 20 de junho.
Em uma atitude incomum, diversos estabelecimentos comerciais de Hong Kong
fecharam as portas nesta quarta para seus funcionários protestarem.
"A única coisa importante agora é que Carrie Lam (chefe-executiva de Hong Kong) retire este projeto ruim ou, pelo menos, que o coloque em uma gaveta para resolver a crise", disse o deputado pró-democracia Fernando Cheung. "Se ela tentar aprová-lo a qualquer custo, se ordenar a repressão policial, temo que sangue seja derramado".
O governo de Lam, contudo, não mostra sinais de recuo. "Nós sugerimos que os cidadãos que estão ocupando as ruas saiam imediatamente para que o tráfego possa voltar ao normal o mais rapidamente possível", disse Matthew Cheung, secretário-chefe do governo.
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Mudanças na lei
Caso aprovada, a medida polêmica, conhecida como Lei dos Foragidos, permitirá às autoridades de Hong Kong extraditar pessoas não apenas para a China continental e Taiwan, mas para qualquer país com o qual ainda não tenham um acordo de extradição. Atualmente, Hong Kong tem acordos do tipo com 20 países, incluindo o Reino Unido e os Estados Unidos. A atual legislação exclui explicitamente as extradições para a China continental.
Na manhã desta quarta-feira, o ministro de Relações Exteriores e candidato a premier do Reino Unido, Jeremy Hunt, afirmou que a manutenção do sistema que garante as autonomias ao território é vital para seu sucesso e que as autoridades de Hong Kong deveriam refletir sobre as críticas ao projeto.
"É essencial que as autoridades iniciem um diálogo significativo e adotem medidas para preservar os direitos, liberdades e grande autonomia de Hong Kong, que são a base de sua reputação internacional", disse Hunt.
Sob a lei proposta, um pedido de extradição seria examinado pelos tribunais de Hong Kong , mas é o chefe do Executivo do território que daria a palavra final. As autoridades locais argumentam que salvaguardas para garantir os direitos humanos e procedimentos justos foram estabelecidos, incluindo a proteção contra a aplicação da pena de morte e o veto a extradições sob acusações políticas.
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Os opositores da lei, no entanto, afirmam que os chefes do Executivo de Hong Kong se sentiriam pressionados a apoiar um pedido de extradição feito pela China pelo fato de serem escolhidos por uma comissão em que Pequim tem a maioria dos votos. Eles lembram que a Lei Básica de Hong Kong, adotada depois da saída britânica, prevê que o chefe do Executivo preste contas a Pequim.