A maior disputa do Partido Democrata na era moderna da política dos Estados Unidos deslanchou nesta quinta-feira (25) com o anúncio da candidatura do ex-vice-presidente Joe Biden à indicação da legenda para disputar as eleições presidenciais de 2020.
O grupo diversificado que se enfrenta nas prévias para encarar o presidente republicano Donald Trump inclui seis mulheres, negros, hispânicos e gays assumidos. Biden é o favorito para as eleições nos Estados Unidos por enquanto, mas é seguido de perto pelo senador Bernie Sanders e desafiado pela cada vez mais influente ala progressista do partido.
O site RealClearPolitics compilou dados de pesquisas de opinião e calculou a média de apoio nacional dos democratas, que indica um cenário eleitoral acirrado. Veja quem são os candidatos e como eles têm se colocado nas sondagens de voto.
Joe Biden
O ex-vice-presidente já liderava as pesquisas antes mesmo de lançar candidatura, oficializada nesta quinta-feira. A média das sondagens nacionais aponta que o ex-senador de Delaware tem entre 30% e 27% de apoio para ser o candidato democrata
, respectivamente.
Parceiro de Barack Obama na Casa Branca, o político de 76 anos é figura-chave no debate se um centrista experiente seria suficiente para a legenda reconquistar o país, em detrimento de um rostos novos, mais progressistas.
Biden é considerado, até o momento, a melhor chance democrata de bater Trump. O político, que se vale do apelido de "Joe da classe média" e exalta suas raízes na classe trabalhadora, é criticado pelo elo com o setor financeiro e pela autoria de um projeto de 1994 que elevou a taxa de encarceramento.
Derrotado nas disputas presidenciais de 1988 e 2008, Biden foi recentemente acusado de constranger mulheres com toques e beijos em eventos públicos, pediu desculpas e prometeu ser "mais consciente".
Bernie Sanders
O senador de Vermont perdeu a indicação em 2016 para Hillary Clinton, mas sua agenda política ajudou a empurrar a legenda para a esquerda e fazer despontar sua ala mais progressista. Ele anunciou em fevereiro que tentaria de novo.
Desta vez, ele põe à prova o apelo antiestablishment que o alçou há quatro anos, mas disputa espaço com outros muitos porta-vozes da plataforma que trouxe para o mainstream democrata. Na corrida de 2020, Sanders, de 77 anos, aparece com entre 20% e 24% das intenções de votos entre os eleitores democratas.
As propostas de Sanders incluem um salário mínimo de US$ 15 por dia e assistência médica universal. Ele se beneficia do forte reconhecimento do nome e de uma robusta rede de doadores de campanha, mas enfrenta desconfiança dentro do partido por ser um senador independente.
O candidato tenta mostrar um lado mais pessoal nesta disputa, com ênfase na luta de sua família da classe trabalhadora e alcançar líderes negros e hispânicos depois de penar em conquistar eleitores destas minorias sociais em 2016. O autointitulado socialista democrático precisará driblar ainda a repercussão negativa dos relatos de assédio, destrato e desigualdade salarial de funcionárias que trabalharam da campanha anterior
Kamala Harris
A senadora da Califórnia faria história como a primeira mulher negra a representar o Partido Democrata na eleição. Aos 54 anos, a filha de imigrantes da Jamaica e da Índia anunciou em janeiro sua candidatura no feriado que homenageia o líder do movimento negro pelos direitos civis Martin Luther King Jr, assassinado em 1968. Ela causou um rápido impacto em uma corrida democrata fortemente influenciada por mulheres e eleitores de minorias sociais.
As pesquisas dão a Kamala 8% de apoio nacional entre os eleitores democratas. Seu histórico como promotora distrital de São Francisco e procuradora-geral da Califórnia tem atraído o escrutínio de um partido que mudou nos últimos anos em questões de justiça criminal.
Ela arrecadou US$ 1,5 milhão nas primeiras 24 horas de sua campanha e obteve audiência recorde em uma entrevista televisionada da CNN. Kamala apoia a concessão de um crédito fiscal de classe média, a reforma do sistema de saúde Medicare for All, o New Deal Verde (reformas radicais na economia, com foco em sustentabilidade) e a legalização da maconha.
Pete Buttigieg
O prefeito de 37 anos de South Bend, no estado de Indiana, saiu do status de azarão quando começou a ganhar força entre jovens eleitores. Formado na Universidade de Harvard e aluno da Universidade de Oxford, ele fala sete idiomas e serviu no Afeganistão com a Reserva da Marinha dos EUA. Segundo as pesquisas de opinião, ele está empatado com Kamala, com entre 8% e 9% das intenções de voto.
Ao lançar candidatura em abril, ele se apresentou como representante de uma nova geração de liderança necessária para combater Trump. Buttigieg seria o primeiro candidato presidencial abertamente gay de um grande partido político americano.
Elizabeth Warren
A senadora de 69 anos de Massachusetts é uma líder dos progressistas do partido e uma feroz crítica de Wall Street. Com este perfil, foi fundamental na criação do Departamento de Proteção Financeira ao Consumidor. Ela lançou a campanha à Presidência em dezembro.
Foi o primeiro grande nome democrata confirmado nas prévias. Desde então, concentrou sua plataforma em sua mensagem econômica populista, sob a promessa de lutar contra o que chama de sistema econômico fraudulento que favorece os ricos. Ela tem entre 6% e 7% das intenções de voto entre os eleitores democratas.
Warren também propôs a eliminação do Colégio Eleitoral, base do sistema indireto que consolidou a vitória de Trump em 2016, mesmo em desvantagem de votos absolutos em relação a Hillary Clinton.
Ela prometeu, se eleita, enfrentar a Amazon, o Google e o Facebook, e cancelou os eventos políticos para arrecadar dinheiro de campanha. A senadora se desculpou, no começo deste ano, por ter feito um teste de DNA para provar suas alegações de ascendência indígena, afirmação que fez Trump se referir a ela como "Pocahontas"
Beto O'Rourke
Estrela democrata em ascensão, o congressista de 46 anos lançou campanha à Presidência em março e logo anunciou plataforma política antagônica à de Trump. De El Paso, cidade fronteiriça com o México, sua terra natal, ele prometeu honrar valores progressistas e liderar uma mudança geracional da política americana.
O'Rourke ganhou fama no ano passado pela arrecadação recorde de fundos e pela capacidade de atrair multidões na acirrada disputa pelo Senado do Texas, reduto conservador. Perdeu para Ted Cruz, mas saiu aclamado.
O congressista do Texas tem entre 4% e 6% de apoio entre os eleitores democratas. O'Rourke anunciou uma arrecadação de US$ 6,1 milhões nas primeiras 24 horas de sua campanha, superando seus adversários. No entanto, com as políticas progressistas e a diversidade na vanguarda da batalha pela nomeação do partido, ele enfrentará o desafio de ser um homem rico e mais moderado que os concorrentes em várias questões-chave da disputa para 2020.
Cory Booker
Senador de Nova Jersey e ex-prefeito de Neward, o candidato de 49 anos ganhou destaque nacional na luta contra a indicação de Brett Kavanaugh, acusado de assédio sexual, para a Suprema Corte dos EUA. Booker, que é negro, fez das relações e das disparidades raciais dos EUA um foco de sua campanha, com constantes relatos do impacto da discriminação em sua família.
O senador tem entre 2% e 4% nas pesquisas no eleitorado democrata, adota posições progressistas sobre a cobertura do Medicare para todos os americanos, o New Deal Verde e prega estilo de positividade na política em detrimento de ataques. O candidato é vegano e confirmou recentemente os rumores de namoro com a atriz Rosario Dawson.
Amy Klobuchar
Em seu terceiro mandato como senadora de Minnesota, Klobuchar foi a primeira candidata moderada a se lançar às primárias do partido. A congressista de 58 anos ganhou atenção nacional em 2018 quando brigou com Brett Kavanaugh durante as audiências no Senado por sua nomeação ao Supremo Tribunal. Mas ainda é pouco conhecida nos EUA. Ela tem entre 1% e 2% de apoio entre os eleitores democratas.
Na campanha, a ex-promotora pública e advogada prometeu falar ao estado de Minnesota, tradicionalmente conservador. Com ampla experiente e força feminista, poderia ser um nome palatável no Meio-Oeste, onde Trump é forte.
Ela apoia uma alternativa ao financiamento de assistência médica do Medicare e adota posição dura contra o aumento dos preços de medicamentos controlados. O anúncio de sua candidatura ocorreu em meio a notícias de que seus funcionários do Senado foram solicitados a realizar tarefas domésticas, o que dificultou a contratação de estrategistas de campanha de alto nível.
Cenário pulverizado
Andrew Yang, empreendedor e ex-executivo de tecnologia, tem 2% de apoio entre os eleitores democratas. O candidato de 44 anos concentra sua campanha em um ambioso plano de renda universal: um cheque de US$ 1 mil por mês para todos os americanos entre 18 e 64 anos. Filho de imigrantes de Taiwan, ele propõe uma nova forma de capitalismo que é "centrada no ser humano".
Secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano do presidente Barack Obama, Julian Castro seria o primeiro hispânico a representar um grande partido nas eleições americanas. Aos 44 anos, com avó imigrante do México para o Texas, ele a história pessoal de sua família para criticar as políticas de fronteira de Trump. Ele anunciou sua campanha em sua cidade natal, San Antonio, onde serviu como prefeito e vereador. Tem 1% de apoio, o mesmo que John Hickenlooper e Kirsten Gillibrand.
Ex-governador do Colorado, Hickenlooper, de 67 anos, se apresenta como um funcionário público de centro e experiente. Ele é o único candidato presidencial democrata até agora a se opor ao plano do New Deal Verde para combater a mudança climática.
Durante seus dois mandatos, a economia do Colorado disparou e o estado ampliou o acesso à saúde, aprovou uma lei de controle de armas e legalizou a maconha. O ex-geólogo e dono de pub está entre os muitos candidatos que se recusaram a aceitar doações corporativas.
Já Gillibrand, conhecida como moderada quando atuou como congressista do norte do estado de Nova York, se transformou em uma progressista convicta: ela exige leis rigorosas sobre armas e apoia o New Deal Verde.
A senadora de 52 anos liderou os esforços para combater a agressão sexual nas Forças Armadas e nos campi das faculdades, e pressionou para que o Congresso melhorasse seu próprio tratamento das alegações de má conduta sexual.
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Na campanha, ela divulgou suas declarações de imposto de renda para os anos de 2007 a 2018, na visão mais abrangente até hoje das finanças de um candidato à Presidência dos Estados Unidos em 2020, e pediu aos rivais que fizessem o mesmo.