Horas antes de tentar suicídio, o ex-presidente do PeruAlan García (1985-1990 e 2006-2011) deu várias entrevistas e, numa delas, assegurou que já tinha conquistado seu lugar na História peruana.
Leia também: Quase 300 manifestantes são detidos durante protesto ecológico em Londres
De fato, Alan García
acumula uma trajetória política como poucos em seu país. Construiu uma carreira sustentada na memória do seu mentor e padrinho, Víctor Raúl Haya de la Torre, fundador do partido Aliança Popular Revolucionária Americana (APRA) e uma das principais figuras da centro-esquerda peruana no século passado.
As diferenças entre ambos, no entanto, são notórias. O líder histórico do Apra morreu em 1979 na austeridade absoluta. Já García passou a ser alvo de denúncias de corrupção envolvendo a empreiteira Odebrecht , que em seu segundo governo (2006-2011) obteve contratos no Peru em um valor total calculado em US$ 1 bilhão. Nos últimos anos, o seu patrimônio cresceu de forma expressiva, sobretudo no setor imobiliário.
Quando os promotores da Justiça peruana entravam no prédio onde estava García na noite da última terça com uma ordem de prisão preliminar, o ex-presidente se trancou no quarto e deu um tiro na altura do pescoço.
O cerco tinha se fechado totalmente. Uma recente delação da empreiteira brasileira, entregue ao Ministério Público do Peru, sugeria a confirmação da teoria dos promotores locais: García teria embolsado até US$ 24 milhões em seu segundo mandato por meio de pagamentos a colaboradores e amigos em contas no exterior. Os supostos subornos estão diretamente relacionados à construção do Trem de Lima , a maior obra realizada durante o seu segundo governo.
Se, por um lado, parece que a pressão das novas acusações culminou na atitude extrema do ex-presidente; a corrupção, por outro, não é novidade ao redor do seu nome. Já em seu primeiro governo foram apresentadas acusações que levaram o ex-presidente a passar mais de dez anos num exílio forçado. Na esteira do autogolpe de Alberto Fujimori em 1992, García abandonou o Peru e só retornou em 2001, quando os casos prescreveram.
Sua primeira tentativa de voltar ao poder fracassou diante da força de Alejandro Toledo, o fenômeno político do momento. Mas García reconquistou a Presidência em 2006, enquanto se apresentava como alternativa ao militar reformado Ollanta Humala, na época chamado de “o Chávez peruano”. Para analistas, os receios populares em torno de uma vitória do seu oponente lhe ajudou na sua vitória, apesar da sua imagem manchada pelas acusações de corrupção e pelas lembranças das dificuldades econômicas no seu governo da década de 1980.
Leia também: Columbine e outras centenas de escolas no Colorado fecham após ameaças de jovem
O Peru
manteve a estabilidade econômica nesta segunda Presidência, e García voltou a ser notícia por suspeitas de corrupção. A própria Odebrecht disse ter pago US$ 4 milhões a Luis Nava, amigo e ex-secretário pessoal do ex-presidente. A hipótese do Ministério Público é que o destino do dinheiro era García.
Atualmente, nas redações dos jornais peruanos vinham circulando informações sobre o desejo do ex-presidente de se candidatar novamente em 2012, apesar dos decepcionantes resultados obtidos nas presidenciais de 2016. O ex-presidente nega as acusações e encerrou uma das últimas entrevistas que deu assegurando que “não nasci para roubar”.