A ativista ambiental sueca Greta Thunberg disse nesta sexta-feira que o mundo está olhando para o Brasil e afirmou que “é vergonhosa” a postura do governo brasileiro em relação à crise ambiental. Ela participou de forma virtual de uma audiência pública no Senado.
"O que os líderes falharam não tem desculpa. O Brasil não tem desculpa para assumir a sua responsabilidade. A Amazônia, os pulmões do mundo, está no limite e vemos que agora está emitindo mais carbono que consumindo por conta do desmatamento e das queimadas (…) Isso está sendo alimentado diretamente pelo seu governo", disse Greta, sem citar o nome do presidente Jair Bolsonaro.
Greta destacou que o Brasil não começou a crise ambiental, mas cobrou uma postura das lideranças do país. A audiência na Comissão de Meio Ambiente discutiu os resultados do relatório do Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) divulgado em agosto, que concluiu que os seres humanos são responsáveis por um aumento de 1,07°C na temperatura do planeta.
"O que os líderes do Brasil estão fazendo hoje é vergonhoso, é extremamente vergonhoso o que eles estão fazendo com os povos indígenas e com a natureza. O Brasil, claro que não começou essa crise, mas acrescentou muito combustível nesse incêndio."
Na audiência, a ativista sueca afirmou que não é ela que “quem tem que dizer aos brasileiros o que fazer”, mas que pessoas de todo o mundo estão dispostas a ajudar.
"É o momento de pessoas como eu deixarem o microfone para as pessoas tomarem medidas e ações nas questões mais relevantes desse mundo", concluiu.
Fiona Clouder, embaixadora da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021, destacou que é necessário “urgência” para agir. Ela disse que é preciso migrar das análises que foram realizadas para ações, e conclamou os participantes do debate a apresentarem sugestões.
"O relatório do IPCC mostra que as mudanças climáticas estão acontecendo, os impactos são devastadores em países em todo mundo e também no Brasil", afirmou, destacando também que o Brasil tem potencial de exercer uma enorme influência sobre o mundo.
Na abertura da reunião, o senador Jaques Wagner (PT-BA), presidente da Comissão de Meio Ambiente, reforçou que a questão climática não é “ questão de direita, esquerda ou ideológica, é uma questão de bom senso”.
"O estudo do IPPC mostra que estamos galopando no sentido da destruição da natureza (..) É momento de tomarmos atitude em defesa da vida e em defesa do planeta e do meio ambiente", afirmou.
Metas abandonadas
Especialistas ouvidos pelo GLOBO após a divulgação do relatório do IPCC apontaram que o Brasil não tem feito o dever de casa para impedir o aumento da temperatura do planeta. A tarefa mais importante seria a redução do desmatamento para diminuir emissões de gases de efeito estufa pelo país. Só a devastação na Amazônia e no Cerrado responde por 44% das emissões nacionais, segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima.
De acordo com pesquisadores, também houve retrocesso com o previsto no Acordo de Paris em 2015. O Brasil deveria diminuir as emissões em até 37% até 2025, em relação aos níveis de 2005, com extensão da meta para 43% até 2030. Mas o governo refez os cálculos do ano-base de 2005, e as emissões foram revistas para cima, o que elevou também o limite de emissões e deu sinal verde para poluir mais, afirmaram os ambientalist