O presidente Jair Bolsonaro preparou uma carta para o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na qual reafirma o compromisso de eliminar o desmatamento ilegal até 2030, estabelecido em 2015, ainda no governo Dilma Rousseff, no âmbito do Acordo de Paris. O brasileiro, no entanto, destacou que a meta só poderá ser alcançada com o investimento de “recursos vultosos” e pediu o apoio do governo americano.
A carta de sete páginas, ao qual o GLOBO teve acesso, será enviada nesta sexta-feira à Casa Branca, às vésperas da Cúpula de Líderes sobre o Clima, que ocorrerá no próximo dia 22, sob a liderança de Biden.
“Queremos reafirmar nesse ato, em inequívoco apoio aos esforços empreendidos por V. Excelência, o nosso compromisso em eliminar o desmatamento ilegal no Brasil até 2030”, escreve Bolsonaro, dizendo que a meta depende de “recursos vultosos e políticas públicas abrangentes”, o que obriga o Brasil a contar com “todo apoio possível, tanto da comunidade internacional, quanto de Governos, do setor privado, da sociedade civil e de todos os que comungam desse nobre objetivo.”
Na mensagem, Bolsonaro destaca que o apoio do governo dos Estados Unidos, do setor privado e da sociedade civil americana é muito bem-vindo. O presidente brasileiro defende que a preservação ambiental depende do desenvolvimento econômico na região amazônica. A carta foi elaborada com a participação dos ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, da Agricultura, Teresa Cristina, e das Relações Exteriores, Carlos França.
“Trabalhar com os Estados Unidos neste domínio, senhor Presidente, parece-nos uma alternativa natural e evidente, dadas as convergências de valores entre nossos dois povos. Como nós, os americanos saberão apreciar que as principais causas da degradação ambiental radicam na pobreza e na falta de oportunidades, e que portanto trabalhar pela preservação ambiental passa, também, pela promoção do desenvolvimento econômico. E possível promover o crescimento e o dinamismo de maneira ambientalmente responsável, e em nenhum lugar esse objetivo é mais premente do que na Amazônia”.
Você viu?
O presidente brasileiro, na carta, também reiterou o compromisso de reduzir as emissões de gases de efeito-estufa em 37% até 2025 e em 43% até 2030, na comparação com os números de 2005. Bolsonaro reafirmou também a meta de alcançar a neutralidade climática em 2060, mas deixou aberta a possibilidade de antecipar o prazo para 2050, caso consiga viabilizar os recursos significativos. A UE e os EUA se comprometeram a eliminar as emissões de todos os gases de efeito estufa até 2050.
Estes últimos números são os mesmos anunciados em dezembro de 2020, quando o governo Bolsonaro precisou atualizar as metas do Brasil em relação ao Acordo de Paris. Em um encontro virtual na manhã desta quarta-feira, o comissário da UE para o Meio Ambiente, Oceanos e Pesca, Virginijus Sinkevicius, lembrou que o Brasil era um dos países mais ambiciosos em 2015, mas acabou decepcionando os parceiros internacionais em seu último compromisso voluntário, assumido em dezembro de 2020. Para ele, a perspectiva de neutralidade de carbono na economia apenas em 2060 foi pouco e representou "uma oportunidade desperdiçada", além de enviar "um sinal ruim".
'Resultados ambiciosos'
Na carta, Bolsonaro agradece o convite para participar da Cúpula de Líderes pelo Clima, organizada pelo governo americano, e promete “engajamento nos compromissos e resultados ambiciosos” definidos pela conferência. A cúpula reunirá 40 líderes mundiais para discutir mudanças climáticas.
Em carta enviada a Bolsonaro em 26 de fevereiro, o presidente dos EUA cobrou um compromisso maior do governo brasileiro com a proteção ao meio ambiente antes da realização da cúpula. No final de março, um integrante do Departamento de Estado americano, em conversas com jornalistas, também reforçou que os EUA não tolerariam a destruição de florestas e reforçou um plano “ambicioso, concreto e real” para eliminar o desmatamento na Amazônia.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em fevereiro, conversou com o representante especial para o clima do governo dos EUA, John Kerry. Desde então, outras três reuniões ocorreram com o governo americano para discutir o clima, Amazônia e a Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 26), que ocorrerá em Glasgow, na Escócia, em novembro.
Na mensagem que será enviada a Biden, Bolsonaro também sinaliza que conversará com organizações não-governamentais, alvo constante de críticas do governo brasileiro, e indígenas. “Queremos ouvir as entidades do terceiro setor, indígenas, comunidades tradicionais e todos aqueles que estejam dispostos a um contribuir para um debate construtivo e realmente comprometido com a solução dos problemas”.