Com um modelo bastante inovador, pesquisadores brasileiros mapearam clareiras na Amazônia para descobrir os motivos pelos quais as árvores morrem . O resultado do estudo foi publicado na revista Scientific Reports.
Para mapear a vegetação que fica em lugares longínquos e não conseguem ser acessadas por satélite devido à grande presença de nuvens, os pesquisadores usaram laser .
A técnica escolhida foi o LiDAR (sigla em inglês para Light Detection and Ranging). De um avião, foram lançados milhares de feixes de laser, que acertam a superfície da terra e voltam para o equipamento na velocidade da luz. A altura dos objetos, como árvores, pode ser medida pela diferença de tempo que o laser demora para voltar.
O LiDAR é utilizado, por exemplo, em iPhones. No celular, ele serve para medir a altura de pessoas e objetos ou para fazer funcionar usar aplicações que envolvem realidade aumentada .
Com as informações coletadas na floresta, é possível caracterizar a estrutura da vegetação e modelar tridimensionalmente a superfície do terreno.
“As regiões oeste e sudeste da Amazônia apresentaram maior quantidade de clareiras, que coincidem com a área próxima ao arco do desmatamento, sob influência humana. Nessas regiões, a dinâmica da floresta é até 35% mais rápida do que na área central-leste e norte, ou seja, há maior criação de clareiras e mortalidade”, analisa Ricardo Dal’Agnol, pesquisador na Divisão de Observação da Terra e Geoinformática do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em entrevista à Agência FAPESP.
Mais de 600 sobrevoos foram feitos para identificar a vegetação e entender melhor as causas de mortalidade das árvores da região. Os pesquisadores descobriram que o estresse hídrico, a fertilidade do solo e a degradação da vegetação influenciam na dinâmica dessas clareiras.
Essas mudanças no comportamento das florestas pode impactar bastante na quantidade de gás carbônico que elas consomem, impactando diretamente no aquecimento global .
"As incertezas associadas às causas e mecanismos de mortalidade de árvores, especialmente em escalas menores, restringem a capacidade de medir com precisão o ciclo de carbono da floresta tropical e avaliar os efeitos das mudanças climáticas. A mortalidade de árvores na Amazônia aparentemente aumentou desde a última década, provavelmente devido à maior variabilidade climática e feedbacks de crescimento e morte mais rápidos. Isso reduziu efetivamente os ciclos de vida da vegetação", escrevem os pesquisadores na introdução do artigo publicado na Scientific Reports.
O desafio dos pesquisadores agora é entender como funciona a dinâmica de árvores
que morrem mas não caem. "Algumas árvores morrem e não caem, ficando apenas com os troncos, como um esqueleto. Uma sequência seria tentar mapear essas árvores mortas em pé para complementar as informações sobre mortalidade", explica
Dal’Agnol.