Um levantamento do WWF Internacional realizado em 29 países de quatro continentes indicou que o Brasil é uma das nações com maior desmatamento e degradação de florestas. A pesquisa, realizada entre 2000 e 2018, apontou duas frentes simultâneas de destruição - Amazônia e Cerrado.
O estudo, intitulado "Frentes de desmatamento : vetores e respostas em um mundo em evolução”, ocorreu em 24 localidades da América Latina, na África Subsaariana, no Sudeste Asiático e na Oceania. Pelo menos dois terços da perda de cobertura florestal global nesse período ocorreram nessas regiões tropicais e subtropicais. A devastação atingiu 43 milhões de hectares, quase a mesma extensão do Marrocos.
De acordo com os pesquisadores, a devastação da mata alterou o equilíbrio entre o homem e a fauna e proporcionou o aumento de doenças zoonóticas - ou seja, aquelas que passam de animais para humanos -, como Ebola, Sars e, a partir de 2020, a Covid-19 .
"Isso ocorre porque o aumento da densidade de animais em áreas desmatadas e degradadas também eleva as doenças nessas populações de animais selvagens que, por sua vez, têm mais interações com pessoas devido à maior presença humana nas áreas de floresta degradada", explicaram os pesquisadores. "Resultado: mudanças no uso da terra contribuíram para quase metade das doenças zoonóticas que afetaram humanos entre 1940 e 2005".
O estudo acrescenta que "não é por acaso" que o surgimento de novas doenças é elevado em regiões tropicais, cobertas por florestas e savanas, que estão passando por mudanças no uso da terra.
"Neste momento em que governos criam políticas para lidar com os impactos econômicos e sociais da pandemia global, devemos lidar com o consumo excessivo e valorizar mais a saúde e a natureza do que a ênfase esmagadora atual no crescimento econômico e nos lucros financeiros a todo custo", reivindica Fran Raymond Price, líder da Prática de Florestas no WWF Internacional.
"Isto é do melhor interesse da humanidade: mudanças no uso da terra são um dos principais vetores de novas zoonoses, portanto, se não enfrentarmos o desmatamento enquanto podemos, podemos perder nossa chance de ajudar a evitar a próxima pandemia", conclui.
A agricultura comercial, segundo o levantamento, é a principal causa do desmatamento de áreas para pecuária e o cultivo de commodities, seguida da mineração e da expansão da infraestrutura - como redes de estradas de ferro e rodovias.