Atualizados na segunda-feira, 7, dados do Programa Nacional de Imunização (PNI) indicam que metade das crianças brasileiras não receberam todas as vacinas previstas no Calendário Nacional de Imunização deste ano.
Os números do Ministério da Saúde apontam uma cobertura vacinal que alcança pouco mais da metade das crianças que deveriam ter sido imunizadas em 2020, com uma taxa de 51,6% de alcance. Segundo o PNI, para garantir proteção contra doenças como sarampo , coqueluche, meningite e poliomielite, o ideal é que ela fique entre 90% e 95%.
Nenhuma das vacinas previstas no calendário infantil cobriu mais de 60% do público destinado, mesmo as mais comuns como a primeira dose da tríplice viral - responsável pela proteção contra sarampo, caxumba e rubéola. A cobertura da segunda dose está abaixo de 50%.
Em 2019 o Brasil perdeu o certificado de erradicação do sarampo, ainda assim esse ano o país apresentou 7,7 mil casos confirmados da doença somente até o início de agosto.
O que justifica a baixa cobertura dessas vacinas?
A pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) é apontada como um dos principais motivos pelos quais as crianças não foram vacinadas, já que as famílias ficaram em casa para manter o isolamento social. A situação se repete no mundo inteiro , com quedas entre 30% e 50%.
Para Túlio Batista Franco, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói (RJ), fatores políticos também contribuem para os números atuais da cobertura vacinal. "Houve duas alterações de ministros, e hoje há um ministro militar que não conhece dos aspectos da Saúde , do funcionamento da máquina do SUS, e que levou para as áreas técnicas militares que também não conhecem", declarou.
Você viu?
Já a infectologista Raquel Stucchi, da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), avalia que o problema pode estar no fato de que pediatras mais novos não enfatizam tanto a necessidade da vacinação quanto os antigos. Para ela o país tem poucas chances de alcançar a cobertura ideal de vacinação este ano.
Isabella Ballalai, pediatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), aponta outros três motivos para o atraso no calendário de vacinação, são eles: a confiança, a complacência e a conveniência . De acordo com ela, se um indivíduo não confia em um profissional de saúde, ele provavelmente não tomará uma vacina.
O primeiro dos "três Cs" é o menor dos fatores para a pediatra, já que brasileiros costumam confiar na imunização. "No Brasil, todas as pesquisas realizadas mostram que pelo menos 90% dos brasileiros confiam em vacina. Cerca de 10% às vezes ficam na dúvida. E cerca de 4%, 5% realmente não querem se vacinar. Isso sempre existiu", aponta.
Quanto a "complacência" e "conveniência", esses fatores levantam pontos importantes sobre a conscientização quanto a importância de se vacinar. A primeira ocorre pela falta de percepção do risco que é pegar uma dessas doenças, caso comum quando não se fala sobre a enfermidade durante muito tempo.
A segunda é mais relacionada a uma atitude que convém ao indivíduo, como por exemplo o fato de que no dia que ele foi ao posto de saúde tomar a vacina, ela não estava disponível. A tendência é de que essa pessoa não volte para uma nova tentativa.
As entrevistas foram concedidas ao portal G1.