A pandemia
revelou a falta de prioridade para a educação
e a negligência de governos, segundo especialistas ouvidos pelo iG
nesta terça-feira (20) durante a live Em Cima do Fato
, do canal de Último Segundo. O encontro teve a presença do diretor-executivo do Todos pela Educação
, Olavo Nogueira Filho, e do coordenador pediátrico do Hospital Sírio-Libanês
, Ricardo Fonseca.
Segundo Nogueira, a falta de sucesso que o Brasil tem na forma de lidar com educação na pandemia à falta de prioridade, que, segundo ele, ficou clara quando ainda era possível manter as escolas abertas no ano passado, no início da primeira. Naquela época, outras atividades comerciais permaneceram funcionando.
"Voltando ao começo da primeira onda, quando os indicadores, a experiência internacional e as pesquisas mostravam que era possível avançar com uma abertura segura, com protocolos, com muita segurança do ponto de vista sanitário, a maioria do país não fez esse movimento", afirma o diretor-executivo.
Agora, porém, ele reconhece que o cenário se tornou menos favorável para as escolas ao dizer que o avanço reabertura se tornou mais complexo.
"Em parte isso tem a ver com a nossa capacidade de dar uma resposta mais adequada, com a falta de prioridade que a educação tem no país, mas a outra parte é entender que o fato de nós não termos conseguido controlar a pandemia tem repercussão dramática na educação também", disse Nogueira.
"A gente fala muito sobre a economia do país não conseguir voltar até que a gente não controle a pandemia. E o mesmo pode ser dito na educação. Enquanto a gente não controlar a pandemia, a gente não vai conseguir voltar, de fato, na educação", completou.
A análise é corroborado pelo coordenador pediátrico Ricardo Fonseca, do Hospital Sírio-Libanês, que afirma que as escolas devem ser as últimas a fechar e as primeiras a abrir assim que forem observadas condições epidemiológicas e sanitárias.
"Nós temos estudos mostrando que as escolas são locais seguros em relação ao número de casos e à transmissão da doença. Na primeira onda, nós tivemos uma negligência em relação à educação no sentido de que todas as atividades econômicas, ou quase todas, acabaram voltando mesmo que parcialmente e a gente tinha escolas fechadas. Isso, do ponto de vista epidemiológico, não faz muito sentido", afirmou.
De acordo com o médico, só é necessário fechar escolas quando o objetivo é evitar que as pessoas circulem pela cidade para diminuir o número de contaminações.
"Tem cidades que a gente consegue reduzir em 20% ou até mais da população que circula usando o transporte público, usando outros serviços. A partir do momento que os números começam a melhorar, que a taxa de ocupação hospitalar diminui e o número de contaminações diminui, a gente deve começar a pensar que as escolas devem ser umas das primeiras a retornar", disse Fonseca.