A chegada da pandemia no Brasil mudou toda a dinâmica da educação no Brasil. Com as medidas de restrição para evitar o contágio de Covid-19, as escolas passaram grande parte dos últimos doze meses fechadas, trazendo impactos substanciais na educação brasileira que podem afetar as crianças e jovens a curto, médio e longo prazo.
Segundo pesquisa realizada pelo C6 Bank em parceria com o Datafolha, cerca de 4 milhões de estudantes abandonaram os estudos em 2020, levando a taxa de abandono escolar a 8,4%. Mais do que isso: entre os que pararam de estudar, 17,4% não têm intenção de voltar em 2021, revela o levantamento.
Os motivos para o alto índice de evasão vão da falta de incentivo a acompanhar o ano letivo remotamente até questões mais estruturais - como problemas financeiros e falta de estrutur a tecnológica para assistir às aulas por meio de aparelhos eletrônicos.
Os índices de abandono são ainda maiores em estudantes de classes sociais mais baixas. A evasão entre as classes D e E foi 54% maior do que a dos alunos das classes A e B, revela a pesquisa.
José Maurício, 51, dá aulas de história em quatro escolas da Zona Sul de São Paulo, localizadas no Capão Redondo, Jardim Ângela e Parque Santo Antônio, bairros conhecidos pelos altos índices de violência e vulnerabilidade social. Ele diz que, onde leciona, grande parte dos alunos não tem condições de acompanhar o ano letivo de maneira remota.
"O perfil dos alunos é muito parecido em todas as unidades escolares. São moradores dos entornos que, em sua grande maioria, vivem em condições precárias de moradia e alimentação. Grande parte não tem a mínima maneira de estudar durante o período em que as escolas estão fechadas, seja por falta de equipamentos ou por moradias onde o ambiente é hostil e não há condições saudáveis para que haja motivação para estudar", diz.
Portões abertos, salas vazias
Nas instituições em que o Maurício dá aulas, os portões permanecem abertos para a alimentação dos alunos. Em uma delas há, também, apesar da baixa adesão, alguns computadores disponíveis para que os estudantes possam estudar. Mas nem sempre é assim.
Na pandemia, projetos sociais se tornaram essenciais para minimizar o impacto da suspensão das aulas presenciais e, com o ritmo lento da vacinação no país, os estudantes dificilmente voltarão à dinâmica normal de aulas em 2021.
Projetos sociais levam educação a estudantes carentes
Amigos do Bem
Originalmente de São Paulo, a organização Amigos do Bem
têm expandido seus projetos educacionais e de iniciativas de geração de trabalho e renda no sertão nordestino brasileiro. Em 2020, a ONG atendeu 1,5 milhão de pessoas de 300 povoados de AL, PE, CE e PR.
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"Foram 200 mil cestas básicas entregues de casa em casa, 352 milhões e litros de água distribuídos, 200 mil atividades educativas e 75 mil itens escolares distribuídos para nossas crianças nos povoados", explica Alcione Albanesi , presidente e fundadora da ONG.
"Para 2021, estamos desenvolvendo projetos de conectividade para levar ensino à distância e capacitarmos nossa equipe pedagógica local. A ideia é oferecer apoio pedagógico e de gestão a escolas locais da educação básica, além de contribuir com toda a infraestrutura necessária para o ensino", continua Albanesi
Segundo a fundadora da ONG, no final de 2020, os Amigos do Bem promoveram uma ação emergencial para "eliminar a distorção escolar" e obtiveram resultados satisfatórios.
"Nossos alunos foram testados e sua proficiência foi avaliada; aqueles que ainda não estavam alfabetizados, passaram por um processo intensivo que eliminou a distorção aluno-série, com taxa de alfabetização de 96% alfabetizando quase 400 alunos atendidos pela organização", comemora.
A organização arrecada fundos por meio do site doar.amigosdobem.org/acaoemergencialpf
Gerando Falcões
Criada em 2013, a Gerando Falcões
atua oferecendo atividades educativas e cursos de capacitação em favelas de todo o Brasil. Com a chegada da pandemia, a iniciativa foi adaptada de acordo com as medidas de restrição ao contágio e expandida para mitigar a fome
nessas comunidades.
A ONG atualmente trabalha em dois principais projetos: a Falcons University, braço educacional que oferece capacitação a líderes sociais de todo o Brasil, e a campanha “Corona no Paredão, Fome Não”
, que arrecadou mais de R$ 25 milhões em cestas básicas digitais e impactou mais de 426 mil pessoas moradoras de favelas e comunidades em todo o país.
"Todas as nossas unidades atuam com uma frente educacional de oficinas de cultura, esporte, qualificação profissional e empregabilidade. Na pandemia, adaptamos o trabalho para um cenário de distanciamento social, então criamos o aplicativo Gerando Educação. Para isso, fizemos uma grande campanha para a criação de bolsas digitais, para que pudéssemos disponibilizar um aplicativo que possibilite que as crianças e os jovens a acessem o conteúdo educativo com internet patrocinada, porque, como sabemos, a pandemia escancarou uma desigualdade também de inclusão de digital que existe no país", explixa Nina Rentel, diretora-geral de operações da Gerando Falcões.
"Estamos acompanhando com bastante preocupação essa falta de acesso dos alunos à escola. Sempre atuamos como um complemento à escola, então as oficinas têm, também, um encaminhamento de orientação de desenvolvimento socioemocional, criando um vínculo com educador que vai incentivar essa criança a ir melhor na escola."
Quanto à campanha "Corona no Paredão", as doações são feitas pelo endereço eletrônico https://gerandofalcoes.com/coronanoparedao e são convertidas em cestas básicas digitais. O benefício tem duração de dois meses e é recarregado com R$ 150,00/mês para que famílias tenham acesso a um cartão o recarregável para a compra dos produtos que mais necessitam, como alimentação e higiene pessoal.