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Agência Brasil
Estudantes negros em sala de aula


A mobilização estudantil organizada por alunos e ex-alunos do Coletivo Antirracista do Colégio de Aplicação Coluni , da Universidade Federal de Viçosa , conquistou, por unanimidade,  cotas raciais para estudantes negros e indígenas no exame de seleção da escola federal.




Foi durante reunião extrordinária do colegiado da instituição, realizada na última terça-feira (29). O Coluni desponta como o melhor colégio público do Brasil e ocupa a 8ª colocação na lista geral com instituição privadas, segundo dados do ranking de desempenho das escolas no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) em 2019.

O processo seletivo para ingressar no colégio federal contou com demanda de 14,81 alunos por vaga no último ano. Dentre os selecionados, 23,33% se declararam pardos , 0,67% pretos , 0% indígenas , 2% amarelos , 70% brancos e 4% não quiserem se declarar.

O aluno Marco Antônio Carvalho Gomes, de 19 anos, é um dos integrantes do coletivo que conquistou as cotas racias , também foi um dos poucos alunos negros do Coluni no período em que estudou na instituição, entre 2017 e 2018.

“Nos anos em que estudei no Coluni, eu tive uma percepção muito hegemônica sobre os alunos, que em sua maioria eram pessoas brancas, de classe média alta e era muito perceptível dentro das turmas, que tinham em média 40 alunos.

Quando eu estudei lá éramos apenas 4 alunos autodeclarados negros na minha turma e não lembro de nenhum aluno indígena ter passado pelo colégio. Um grupo que também é apagado desse contexto de inserção de povos marginalizados na educação de excelência”, diz Marco.

Criação do Coletivo Coluni Antirracista

A disparidade entre o número de alunos brancos e dos demais grupos étnico-raciais, somados à exposição de alunos brancos que fraudaram a autodeclaração para acessar cotas nas universidades públicas e ao estopim das manifestações antirracistas no Brasil e no mundo -- por conta do assassinato de George Floyd por um policial branco -- foram os princípais estimulos para que no dia 2 de junho deste ano fosse criado o Coletivo Coluni Antirracista.

Pouco mais de um mês após a sua fundação, os integrantes publicaram um manifesto na rede social do coletivo sobre o posicionamento, as causas defendidas e as reivindicações do movimento. Este foi o primeiro ponto de comunicação entre os alunos organizados e a instituição, no dia 20 de julho.


"Colégio deu abertura"

Os estudantes contam que este contato mostrou que o colégio estava aberto para a negociação, mas que, apesar disso, temeram como as pautas seriam recebidas. Eles avaliam que o colégio não tratava o tema com a urgência necessária.

"Apesar de nós entendermos que exista resistência, nós também entendemos que o colégio deu a abertura que nós precisávamos para discutir isso com o máximo de urgência", diz Marco.

 No dia 9 de setembro, os integrantes da iniciativa apresentaram um ofício à diretoria da institução -- assinado por mais de 60 instituições dos movimentos negro, estudantil, social, jovem e das associações pastorais -- cobrando o debate das questões raciais no âmbito do colégio. Professores se uniram à causa e pressionaram para que no dia 29 fosse aprovada a reserva de vagas no processo seletivo.

Para além das cotas, os estudantes exigem da instituição medidas que indiquem a construção de uma educação antirracista.

"Ainda temos muito a percorrer, nós queremos participar ativamente dessa implementação das cotas", frisa Marco. As cotas raciais serão implantadas pelo colégio no processo seletivo de 2021, inicialmente seguindo o modelo de reserva de vagas proporcionais à população do estado, como ocorrem nas universidade federais brasileiras regidas desde 2012 pela Lei 12.112.

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