Em meio a boatos de que sairia do governo, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou categoricamente que não deixará o cargo. “Eu não vou pedir demissão e meu relacionamento com o presidente está ótimo”, disse, em entrevista ao iG . Ele afirma que os boatos sobre sua saída são mentirosos e têm o objetivo de desestabilizar seu trabalho.
O comentou ainda o relatório da Comissão Externa de Acompanhamento do Ministério da Educação da Câmara dos Deputados, que, na manhã desta quarta-feira (27). classificou a gestão da pasta como “insuficiente” , além de emitir 52 recomendações. “São dois parlamentares que querem se promover sem ter feito a lição de casa deles, basicamente é isso”, disse, após desconsiderar o documento.
Weintraub assumiu o comando da Educação no dia 8 de abril deste ano, após um início de governo conturbado e marcado por polêmicas, que culminaram na demissão precoce do então ministro Ricardo Vélez Rodríguez. Como seu antecessor, o atual chefe do Ministério da Educação é da ala olavista do governo. Ele é ex-aluno de Olavo de Carvalho e foi indicado por seu professor para o posto.
Otimista, o governista faz uma análise positiva do primeiro ano de governo: “Um ano que começou extremamente duro e com grande parte da mídia atacando e mentindo. A gente conseguiu reverter e terminar o ano em uma direção muito positiva”, garante.
Em entrevista ao iG , Abraham Weintraub abordou ainda o primeiro Enem do novo governo, os projetos para o ensino superior e técnico e as escolas cívico-militares, projeto mais badalado dessa gestão. Confira:
O senhor pode fazer um balanço rápido sobre o primeiro Enem do governo Bolsonaro?
Eu achei ótimo. Achei muito bom. Um sucesso. Mesmo os críticos, ninguém criticou. Foi o com menor índice de problemas de todos os lados, praticamente não teve nada, não teve questões que foram contestadas, o tema da redação todo mundo elogiou. Acho que é um grande sucesso e é o último Enem que vai ter no formato (exclusivamente) em papel. A partir do ano que vem já começa a ter o formato digital - o que a gente pretende fazer é 1%, talvez um pouco mais, vai poder fazer o Enem digital. Sem prejuízo se quiser fazer em papel. Essa universalização vai acontecer depois que tudo já estiver digitalizado; todas as escolas já tiverem internet banda larga.
Como ficou a questão das avaliadoras que teriam sido responsáveis pelo vazamento das imagens da prova?
Isso é com a polícia. A gente encaminhou, documentou bem. Está bem documentada a culpa delas; está tudo bem encaminhado, mas quem fala sobre isso é a polícia. Eu não tenho nada a ver com a polícia. Elas cometeram aparentemente algo muito errado e eu não vou nem julgar. Eu não sou Ministério Público, eu não sou polícia, eu sou ministro da Educação.
Eu queria comentar a sua entrevista para o Jornal da Cidade Online sobre as plantações de maconha nas universidades federais. Na ocasião, o senhor afirmou que o problema seria o fato da autonomia das universidades ter se transformado em uma "soberania". Na sua opinião, qual seria uma proposta para "limitar" essa soberania, para consertar isso que o senhor vê como um problema?
Eu acho que essa entrevista não está indo para um lugar legal não hein, Sara? Não tá legal. Se quiser continuar nessa pegada, polícia, polemizar... Eu queria falar mais dos projetos que estão acontecendo, se não a gente interrompe por aqui mesmo.
Não de forma nenhuma, não quero polemizar. Só queria comentar mesmo uma questão que está em pauta. Mas o senhor pode falar um pouco dos projetos voltados para o ensino superior que o governo está desenvolvendo e que ainda pretende lançar?
Tem o Future-se , que tá na Economia, pegando as últimas posições pra gente enviar para o Congresso. O Future-se é muito importante para permitir que as universidades federais consigam ter receitas a mais do que elas já têm. O orçamento do ano que vem delas está preservado integralmente. Elas vão ter todos esses recursos e mais o que eles conseguirem gerar de renda própria, que vai ficar direto para eles com o Future-se. E com isso a gente quer estimular que o trigo germine e prevaleça na área acadêmica. E não o joio, que hoje em dia tem muito joio nas universidades federais.
Nas universidades privadas, que é a imensa maioria do público – 80% dos estudantes estão no ensino privado –, nós estamos trabalhando o projeto da autorregulação. A gente vai fazer um projeto para todo mundo. O objetivo é dar mais transparência, diminuir a quantidade de problema, de fraude que houve no passado. Teve muita fraude, muito problema no passado e a gente quer acabar com esse tipo de coisa.
Você viu?
Eu falaria do ensino técnico também. Com o Novos Caminhos , cujo projeto já foi apresentado, nós pretendemos aumentar em 80% o total de vagas do ensino técnico no Brasil. Nos últimos anos caiu o número de vagas, de 2 milhões para 1,8 milhão. O que nós pretendemos fazer é elevar isso para 3 milhões, até 3,4 milhões de vagas. É um aumento significativo que a gente quer fazer nos próximos 3 anos. Porque é fundamental a pessoa ter um ofício para ela ter uma renda e não depender de Bolsa Família etc. e não ficar vulnerável. No ensino técnico o governo Bolsonaro está fazendo uma ação revolucionária. Não tem na história recente uma expansão dessa magnitude, a gente está praticamente dobrando em três anos o total de vagas de ensino técnico.
De que maneira vocês pretendem chegar aos 3 milhões? Com mais escolas técnicas ou investindo nas que já existem?
Mais escolas, investindo nas que já existem e buscando eficiência. Tem muito desperdício de recursos públicos na máquina. Eficiência, novos investimentos e em cursos que prestam, né? Você lembra lá do Pronatec da Dilma? R$ 15 bilhões investidos, uma fortuna. Sem desmerecer o frentista, mas tinha curso para frentista. O que a gente está investindo são em cursos novos, por exemplo, drone. Pilotar, reparar e construir drone. Isso aqui tem aplicação desde o agronegócio, passando pela área de serviços, ou mesmo na área de vigilância. E não tem curso técnico pra isso, você acredita? Então tem um montão de novas atividades, por isso até o nome: Novos Caminhos.
Nós estamos focando em profissões que hoje já têm demandas, por exemplo, e ainda não são atendidas. Na área clínica, no setor metalúrgico, elétrico. Em vez de fazer curso pra frentista ou curso para cabeleireiro, que eram os cursos do Pronatec, estamos fazendo curso onde a indústria, o setor privado, protocola pra gente que está faltando gente treinada, está sobrando vaga.
E quais os planos para o ensino básico, defendido por Bolsonaro como prioridade do governo?
No ensino fundamental, nós já fizemos a nova Política Nacional de Alfabetização (PNA), trouxemos vários especialistas, estamos falando com a Secretaria de Educação de todos os estados e municípios para, no ano que vem, já ser implementada a Nova Política Nacional de Alfabetização. Estamos trazendo uma nova técnica de alfabetização baseada no que é feito na Europa.
Estamos mexendo também no livro didático. Mas tudo estamos estruturando para ficar em linha com a nova Política Nacional de Alfabetização. E para fechar o ensino fundamental tem aí o grande destaque, que todo mundo está querendo, que é a escola cívico-militar , que está em andamento; que nós vamos implementar o piloto também no ano que vem. Dando tudo certo nas 54 escolas espalhadas pelo Brasil, a gente pretende expandir rapidamente o modelo da escola cívico-militar.
Essas são as iniciativas. Um ano que começou extremamente duro e com grande parte da mídia atacando e mentindo, a gente conseguiu reverter e terminar o ano em uma direção muito positiva.
Na sua visão, por que é importante a implantação das escolas cívico-militares?
A primeira coisa é porque é um modelo que dá muito certo. As escolas já existentes mostram um desempenho muito acima da média nacional. Já existem alguns casos espalhados pelo Brasil e é muito bonito de ver as escolas. Não tem pichação, não tem nada quebrado, é tudo limpo organizado, seguro. As crianças realmente estão felizes na escola.
E segundo, o desempenho sobe que é uma barbaridade. Fica muito acima da média nacional. A única coisa que chama a atenção nessas escolas é o chão e o rodapé, que ficam riscadinhos de preto. Aí você pergunta: “Por que tudo riscadinho de preto?” É porque as crianças vêm com sapatinho engraxado e a graxa suja o rodapé e o chão. Mas tirando isso a escola é uma escola maravilhosa.
Hoje de manhã a Comissão Externa de Acompanhamento do Ministério da Educação da Câmara classificou a gestão da pasta como "insuficiente". Eu queria saber se o senhor já teve acesso a esse documento e se poderia comentar esse assunto.
Olha, o relatório não é oficial, foi vazado, então não tenho nem o que comentar. E não foi a Comissão de Educação não, foi uma coisa meio esquisita que foi criada aí. A Comissão de Educação não tem essa posição, então não vou nem comentar. São dois parlamentares que querem se promover sem ter feito a lição de casa deles, basicamente é isso.
O senhor vai deixar o governo?
Furo de reportagem para você: está prometido que um dia vou deixar o governo. Amanhã? Não.
É possível que o senhor peça demissão?
Eu não vou pedir demissão e meu relacionamento com o presidente está ótimo. Deixa eu falar uma coisa que é importante: nós estamos enfrentando muitas resistências aqui e muitos interesses de grandes grupos; e esses grupos têm um papel de fazer propaganda, eles controlam grandes veículos de comunicação que acabam pautando o resto da imprensa. Depois que eles cansaram de mentir o ano inteiro, falando que não ia ter dinheiro para a educação, que a educação ia acabar e que não ia ter Enem, agora eles estão inventando uma outra mentira. Esse boato é um boato mentiroso. Imagina? Eu estava com o presidente. O presidente me elogiou em público agora, recentemente. Fui o único ministro elogiado no lançamento da Aliança ( pelo Brasil, partido lançado pelo presidente Jair Bolsonaro) . São boatos que estão saindo para tentar desestabilizar o trabalho.